Pobreza no Brasil cresceu quase 4% – número de atingidos passou de 52,8 milhões em 2016 para 54,8 milhões em 2017. Já pobreza extrema aumentou 13%, passando a atingir 15,3 milhões.
Por Daniel Silveira, G1 — Rio de Janeiro.
Em apenas um ano, o Brasil passou a ter quase 2 milhões
de pessoas a mais vivendo em situação de pobreza. A pobreza extrema também
cresceu em patamar semelhante. É o que mostra a Síntese de Indicadores Sociais
(SIS), divulgada nesta quarta-feira (5) pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE).
De acordo com a pesquisa, em 2016 havia no país 52,8
milhões de pessoas em situação de pobreza no país. Este contingente aumentou
para 54,8 milhões em 2017, um crescimento de quase 4%, e representa 26,5% da
população todal do país, estimada em 207 milhões naquele ano (em 2016, eram
25,7%).
Já a população na condição de pobreza extrema aumentou em
13%, saltando de 13,5 milhões para 15,3 milhões no mesmo período. Do total de
brasileiros, 7,4% estavam abaixo da linha de extrema pobreza em 2017. Em 2016,
quando a população era estimada em cerca de 205,3 milhões, esse percentual era
de 6,6%.
O gerente da pesquisa, André Simões, enfatizou que o
aumento da pobreza se deu pela maior deterioração do mercado de trabalho. Ele
lembrou que em 2017 houve um pequeno crescimento do PIB, ao contrário dos dois
anos anteriores, mas que essa alta foi puxada pela agroindústria, “que não
emprega tanto quanto outras atividades”.
“A renda do trabalho compõe a maior parte da renda
domiciliar. A taxa de desocupação continuou elevada neste ano, por isso a
pobreza aumentou”, destacou.
Segundo o IBGE, é considerada em situação de extrema
pobreza quem dispõe de menos de US$ 1,90 por dia, o que equivale a
aproximadamente R$ 140 por mês. Já a linha de pobreza é de rendimento inferior
a US$ 5,5 por dia, o que corresponde a cerca de R$ 406 por mês. Essas linhas
foram definidas pelo Banco Mundial para acompanhar a pobreza global.
O rendimento médio mensal domiciliar per capita (a soma
das rendas de todos os moradores do domicílio, dividida pelo número de pessoas)
obtido no país foi de R$ 1.511 em 2017.
Distribuição da pobreza
Dos estimados 54,8 milhões de pessoas vivendo abaixo da
linha da pobreza, mais de 25 milhões estão nos estados do Nordeste. Nessa
região, 44,8% da população estava em situação de pobreza em 2017.
Já na região Sul viviam 3,8 milhões de pessoas em situção
de pobreza – o equivalente a 12,8% dos quase 30 milhões de habitantes dos três
estados. No Sudeste, eram 15,2 milhões de pessoas, o equivalente a 17,4% da
população total da região.
Entre os estados, o Maranhão registrou a maior proporção
de pobres, segundo o IBGE. No estado, mais da metade da população está abaixo
da linha da pobreza. Acre, Amazonas, Pará, Amapá, Piauí, Ceará, Alagoas e Bahia
tinham quase metade da população pobre também.
Já Santa Catarina aparece com o menor percentual de
pobres - 8,5% de sua população estava abaixo da linha de pobreza. Em todas as
demais Unidades da Federação este percentual ficou acima de 13%.
26,9
milhões vivem com menos de ¼ do salário mínimo
O levantamento mostra também que em 2017 havia no país
26,9 milhões de pessoas vivendo com menos de ¼ do salário mínimo, o que
equivale a R$ 234,25, já que o salário mínimo era de R$ 937 naquele ano. Este
contingente aumentou em mais de 1 milhão de pessoas na comparação com o ano
anterior. Em 2016, eram 25,9 milhões de brasileiros nesta condição.
No mesmo período aumentou em 1,5 milhão o número de
brasileiros com renda domiciliar per capita inferior a R$ 85 por mês. Em 2016
eram 8,2 milhões de pessoas nesta condição, contingente que saltou para 9,7
milhões em 2017 – um aumento de 18,3%.
Dentre os motivos que levaram ao aumento da pobreza no
Brasil, Athias destaca a crise no mercado de trabalho, com aumento do
desemprego e da informalidade, a recessão econômica intensa dos dois anos
anteriores, além do corte de investimentos no Bolsa Família, programa de
transferência de renda voltado justamente para as classes mais pobres.
“Quem já era pobre ficou mais pobre. Mas teve gente que
ficou pobre e não o era antes”, disse o pesquisador.
Pretos
ou pardos são a maioria entre os mais pobres
A desigualdade de renda permanece alta, mas os números do
IBGE mostram uma leve redução do abismo entre os rendimentos de brancos e
pretos.
Por faixa de renda, os pretos ou pardos representavam, em
2017, 75,2% das pessoas com os 10% menores rendimentos, contra 75,4% em 2016.
Na classe dos 10% com os maiores rendimentos a participação de pretos ou
pardos, por sua vez, aumentou: de 24,7% em 2016, para 26,3% em 2017.
R$
10,2 bilhões por mês para eliminar a pobreza no Brasil
O IBGE enfatizou que "a erradicação da pobreza é um
dos temas centrais da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável" e que
"figura há anos nos esforços analíticos e de políticas públicas no
Brasil". Diante disso, a pesquisa apontou que para o país eliminar a
pobreza extrema precisaria investir, por mês, cerca de R$ 1,2 bilhão. Já com R$
10,2 bilhões mensais seria possível erradicar toda a pobreza do país.
"Estes valores não consideram os custos operacionais
para fazer a aplicação destes recursos, ou seja, para se transferir estes
valores para cada pessoa de maneira efetiva", ressalvou o pesquisador
Leonardo Athias.
Athias destacou que a pesquisa traz o rendimento médio de
cada parcela da população. Assim, quando se diz que R$ 10,2 bilhões mensais
eliminariam a pobreza, não significa que este valor teria de ser dividido
igualmente entre os 54,8 milhões de pobres do país.
Todavia, foi construído um indicador que aponta a média
de rendimento necessário para que a população pobre ascendesse de nível sócio
econômico. Este indicador é chamado de “hiato da pobreza” que “mede a que
distância os indivíduos estão abaixo da linha de pobreza”.
Assim, constatou-se que, em média, as pessoas vivendo em
situação de extrema pobreza precisariam de apenas R$ 77 para chegar à linha da
pobreza. Já as pessoas classificadas como pobres tinham R$ 187 a menos que o
necessário para ultrapassar a faixa que os classificam em situação de pobreza.
O pesquisador Leonardo Athias destacou que para erradicar
a pobreza “não precisa ser só através de investimento público, de programas de
transferência de renda [como o Bolsa Família]”. Segundo ele, outros mecanismos,
até mesmo da iniciativa privada, poderiam contribuir para melhorar a
distribuição de renda.
Desigualdade
segue em alta
A pesquisa divulgada nesta quarta-feira pelo IBGE mostrou
ainda o quão desigual permanece a distribuição de renda no Brasil. Na média
nacional, os 10% mais ricos chegam a receber 17,6 vezes mais que os mais
pobres. Na divisão por capitais, essa diferença chega a 34,3 vezes – patamar
alcançado por Salvador.
De acordo com o levantamento, o grupo dos 10% com os
maiores rendimentos concentrava 43,1% de toda a massa rendimento, que é a soma
de toda a renda do país. Já o grupo dos 40% com os menores rendimentos
detiveram apenas 12,3% da massa.
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