Professor esfaqueado e chamado de ‘macaco’ no Dia da Consciência Negra lamenta agressão: ‘Jamais imaginei isso’
Para o professor do curso de
jornalismo da Unesp de Bauru (SP), ataque revela racismo que ainda marca a
sociedade brasileira. Agressão aconteceu em um supermercado; suspeito foi
liberado após pagar fiança de R$ 1 mil.
Conteúdo: Beto Ribeiro Repórter
O professor Juarez Xavier,
da Unesp de Bauru (SP), afirmou estar perplexo após ser atacado na tarde desta
quarta-feira (20), Dia da Consciência Negra, com golpes de canivete por um
homem que o teria chamado de “macaco” na rua.
O autor da agressão, Vitor
dos Santos Munhoz, de 30 anos, foi preso e liberado após pagar fiança de R$ 1
mil e pode responder pelos crimes de injúria racial e lesão corporal. No
plantão da Polícia Civil, após deixar a unidade de saúde onde recebeu pontos
nos cortes que sofreu no braço e no ombro, Xavier falou de sua indignação
diante da agressão.
“Jamais imaginei que
passaria por isso aqui [em Bauru], ser atacado por alguém que me xinga de
‘macaco’ e anda armado na rua. Isso é inaceitável. Sou capoeirista e acho que
por isso estou agora falando sobre isso”, disse o professor do curso de
jornalismo.
Xavier diz que o caso
representa uma situação clássica de racismo que “ainda existe na sociedade
brasileira e se manifesta, muitas vezes, de forma violenta”.
“É necessário continuar
falando sobre racismo, que é um crime inafiançável previsto na Constituição, e
que marca a sociedade brasileira de forma brutal. As pessoas precisam se
desarmar, política e fisicamente. Estou perplexo , mas isso não vai me abalar”,
completou o professor.
O ataque
Xavier explicou que
caminhava pela rua quando o agressor o chamou de “macaco”. Ao tentar tirar
satisfação sobre o xingamento, o homem sacou um canivete e atacou o professor,
que foi atingido no braço e no ombro.
Um segurança do supermercado
próximo e um cliente do estabelecimento são testemunhas do caso. O cliente
afirmou que chegava ao supermercado para fazer compras quando viu os dois
homens em luta corporal. Ele apartou a briga e conseguiu segurar o suspeito das
agressões até a chegada da Polícia Militar.
Para o advogado Maurício
Ruiz, que defende o professor, o autor cometeu injúria racial e tentativa de
homicídio. Segundo ele, se não fosse a intervenção de terceiros, o professor
poderia ter sido assassinado.
O professor foi encaminhado
para a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do Núcleo Geisel, onde recebeu cinco
pontos nos dois cortes que sofreu. Depois, ele seguiu para a delegacia para
fazer a denúncia das agressões. O indivíduo foi preso, mas liberado após o
pagamento de fiança no valor de R$ 1 mil.
Vítima de racismo
O professor Juarez Xavier,
60 anos, é militante do movimento negro. Com mestrado e doutorado pela USP, ele
é professor da Unesp Bauru e coordenador do Núcleo Negro Unesp para a Pesquisa
e Extensão (Nupe).
Ele relatou sobre
preconceito que sofreu quando era aluno e também quando teve sua primeira
experiência de ser vítima de racismo como professor, em 2015. A frase “Juarez
macaco” foi achada em um dos banheiros da Unesp Bauru.
Na época, segundo o
professor, o que mais marcou foi o fato de que as pichações foram achadas no
banheiro contra ele e também contra mulheres negras.
“Foi a covardia do ato que
me marcou. Pichação no banheiro da universidade, com ofensas extensivas aos
estudantes e ao pessoal da limpeza. A forma vil e agressiva contra mulheres
simples, trabalhadoras braçais”, afirmou na época.
Após as pichações, uma
comissão de professores na Unesp foi formada para investigar as frases
encontradas no banheiro. Os professores ouviram algumas pessoas durante quatro
meses, mas não identificaram os autores.
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