O Estado de São Paulo, o maior produtor de laranja e de suco
de laranja do mundo, deve se manter ativo neste momento em que já se registra
uma tendência mundial de crescimento no consumo da fruta, que pode auxiliar no
aumento da imunidade, de acordo com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento
do Estado.
Clientes no mundo todo buscam formas de melhorar a imunidade
e os citros são alimentos ricos em vitamina C. Vale destacar que a Organização
Mundial da Saúde (OMS) recomenda o consumo mínimo de 45 mg/dia dessa vitamina,
que é atingido com a ingestão de uma laranja.
Segundo Ibiapaba Neto, diretor-executivo da Associação
Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), há algumas evidências
de que a demanda por suco de laranja aumentou no mundo inteiro, principalmente
nos Estados Unidos e Europa. Dois motivos relacionados a essa mudança podem ser
a procura por um produto rico em vitamina C e a antecipação de compras por
parte de alguns consumidores que já adquiriram uma grande quantidade de
alimentos.
Para ele, os benefícios do consumo da laranja em um momento
como este, de combate ao novo coronavírus (causador da doença COVID-19),
reforçam ainda mais a importância do setor de se manter 100% ativo. “Toda a
cadeia continua funcionando normalmente, seguindo todas as recomendações
oficiais dos órgãos públicos de saúde. Temos que viver um dia de cada vez e nos
mantermos atentos, sempre com o espírito de que o nosso agro não pode parar”,
salienta.
Mercado
O cenário pode ser favorável à produção de São Paulo,
principal exportador de suco de laranja do mundo. Um levantamento do Instituto
de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento,
indica que, no mercado internacional, já se observa uma recuperação expressiva
dos preços do suco de laranja. Segundo os pesquisadores do IEA, era observada
uma tendência de baixa do preço do suco no mercado internacional e, a partir de
20 de março, foi percebida uma recuperação expressiva.
Como os estoques de suco não estão baixos, esse aumento pode
ser explicado pelos efeitos do aumento da demanda. De acordo com especialistas,
no entanto, deve-se observar esse cenário com cautela, frente à esperada
recessão econômica proveniente da pandemia.
Produção
O Estado de São Paulo é o maior produtor do mundo de laranja,
tendo na safra agrícola 2018/2019 colhido mais de 13,6 mil toneladas, produção
5% superior à quantidade da safra de 2017/2018, quando a produção foi de cerca
de 13 mil toneladas.
A laranja para a indústria é o terceiro principal produto
agropecuário produzido pelo Estado em valor de produção, totalizando R$ 5
bilhões em 2019. Embora grande parte do suco de laranja produzido no Brasil
seja exportado, o consumo interno de suco NFC (suco pasteurizado, não
concentrado) tem aumentado consideravelmente – o destaque da preferência do
brasileiro é pelo suco extraído na hora, com maior conteúdo de vitamina C.
Uma clientela cativa, conquistada ao longo dos anos, tem
garantido aos produtores paulistas de laranja de mesa o escoamento da produção.
Essa é, de certa forma, uma boa notícia, pois na ponta da cadeia (que vai do
plantio à comercialização) os consumidores buscam a vitamina C.
Escoamento
Em Paranapuã, município atendido pela Coordenadoria de
Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS)
– Regional Jales da Secretaria de Agricultura, os produtores Edvaldo Costa
Mello, que tem mil hectares da fruta, e José Dezan, que cultiva em 40 hectares
um pomar de 20 mil pés de laranja pera, contam que apesar da instabilidade, com
dias melhores e outros piores na mesma semana, não estão tendo problemas no
escoamento da sua produção aos principais mercados nesse período.
A qualidade da fruta tem garantido aos dois produtores uma
clientela fiel nos últimos anos. Ambas as fazendas se instalaram em Paranapuã
no início dos anos 1990 e passaram por diversos desafios, quando doenças
rondaram a produção de laranja no Estado, mas venceram e se estabilizaram.
“São 100 toneladas por dia, das quais metade vai para a
Ceagesp e o restante, para uma clientela que vem de Jales, São José do Rio
Preto, Araçatuba, Votuporanga, entre outros municípios de São Paulo, Minas Gerais
e Mato Grosso”, conta o empreendedor.
Atualmente, considerados tempos anormais, o produtor conta
que está vivendo um dia de cada vez. “Trabalhando com produtos sazonais e com
uma procura muito instável e irregular, precisamos controlar desde a colheita
no campo até a logística para ultrapassarmos este período com tranquilidade”,
pontua.
Companheiro de atividade, o produtor José Dezan instalou no
Sítio São José, também em Parapuã, 20 mil pés de laranja Pera. Ele optou por
trabalhar apenas com essa variedade, que tem grande procura e aceitação no
mercado. Por esse motivo, o empreendedor avalia que não tem sido difícil, mesmo
neste momento de crise, o escoamento da produção.
“No início, em 1991, foi complicado. Levei alguns tombos, não
por doenças no laranjal, mas por uma clientela que não honrava compromissos.
Como agora tenho uma clientela boa e fiel, o escoamento, mesmo diante desta
pandemia, tem sido normal”, afirma.
Prevenção
Reforçar o consumo de laranja e outros alimentos com vitamina
C para melhorar a imunidade tem sido um recurso adotado por parte da população
para auxiliar na de maior imunidade contra o novo coronavírus. No entanto, só
isso não basta. Seguir as normas das autoridades do Estado são medidas
essenciais para reduzir o contágio.
A nutricionista da Secretaria de Agricultura e Abastecimento
Sizele Rodrigues, que atua na Coordenadoria de Desenvolvimento dos Agronegócios
(Codeagro), destaca que consumir até 200 mg/dia do nutriente também é
extremamente recomendável para manter o sistema imunológico em alta, sendo essa
quantidade facilmente alcançada em dois copos de suco natural da fruta.
“Além de manter uma alimentação saudável e equilibrada,
outros hábitos como a boa hidratação, consumo mínimo de dois litros de água por
dia, manutenção do sono, controle do stress e prática regular de exercícios
físicos são fundamentais para o bom funcionamento do sistema imunológico e,
consequentemente, para a prevenção de doenças”, destaca.
Pesquisa e
Desenvolvimento
Na área de pesquisa e desenvolvimento, o Instituto Agronômico
(IAC) mantém em Cordeirópolis, interior do Estado, o Centro de Citricultura
Sylvio Moreira. Quase a totalidade dos cultivares copa e porta-enxertos que
compõem a moderna citricultura paulista e brasileira é representada por cultivares
IAC, isto é, originados ou introduzidos e trabalhados pelo Centro de
Citricultura.
Com a atual legislação de sementes e mudas, os últimos dez
anos apenas consolidaram essa posição, sendo cada vez mais rastreável e
destacada a importância
do material de propagação difundido pelo instituto.
O centro participa na geração do conhecimento científico e
tecnológico de alta qualidade no Brasil e no exterior, apoiado pelas principais
redes de financiamento brasileiras, como Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (Fapesp), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes).
Além disso, há as redes experimentais para avaliação de
citros em parcerias com vários produtores e com a indústria. O local também se
preocupa com a transferência da tecnologia, promovendo eventos e cursos,
fornecendo borbulhas e sementes com qualidade genética e fitossanitária e
presta serviço de diagnóstico de patógenos alinhado à legislação e aos órgãos
de acreditação como garantia de procedimentos e de rastreabilidade.
Mesmo com as atuais medidas de isolamento social e de contenção, as pesquisas no Centro de Citricultura são mantidas em andamento, sem riscos de se perderem.
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