O estudo da USP que apontou evidências de reinfecção pelo novo coronavírus em uma técnica de enfermagem de Ribeirão Preto (SP) foi publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. De acordo com o infectologista Fernando Bellissimo, que coordena a pesquisa, a publicação amplia a discussão da comunidade científica sobre a possibilidade de reinfecções.
"O caso foi validado por uma revista científica que é uma das nacionais de maior prestígio internacional. Isso confirma que a nossa hipótese não era um delírio", diz.
O caso citado é de Gabriela Carla da Silva, de 24 anos, que testou positivo para o coronavírus pela primeira vez em maio. Cinquenta dias depois, com o ressurgimento dos sintomas, a jovem repetiu o teste e recebeu o segundo diagnóstico.
Após a publicação, na última segunda-feira (14), os sete pesquisadores que fazem parte do grupo vão continuar a estudar o sistema imunológico da técnica de enfermagem e comparar o caso dela com o de outros 12 pacientes com as mesmas características. Eles são acompanhados pelo Hospital das Clínicas (HC) de Ribeirão Preto.
Três hipóteses
Por causa do descarte do material usado nos testes RT-PCR antes de Gabriela passar a ser acompanhada pelo HC, os pesquisadores não puderam analisar o genoma do vírus. Eles consideraram três hipóteses para explicar o que ocorreu no organismo da técnica de enfermagem.
A mais provável é fundamentada por evidências epidemiológica – de a paciente ter tido contato com pessoas infectadas antes dos dois testes –, clínica – devido à recorrência dos sintomas – e laboratorial.
"Em ciência, a gente nunca tem certeza absoluta de nada. A gente produz evidências e, neste caso, há fortes evidências de reinfecção. O fato de estarem surgindo vários outros casos no mundo inteiro é um reforço de que essa evidência provavelmente é sólida", afirma o infectologista.
A hipótese menos possível é de que Gabriela não tenha sido reinfectada, mas que o vírus tenha permanecido no organismo dela, mesmo que de maneira atenuada, e os sintomas reapareceram.
De acordo com Bellissimo, os sintomas ressurgiram somente quando a jovem entrou em contato novamente com um paciente positivo.
"Se fosse o mesmo vírus, por que ela só reativaria os sintomas após ter tido contato com uma pessoa doente? Ninguém documentou, em nenhum paciente do mundo, a reativação da infecção. Embora não possa ser afastada, essa hipótese é muito improvável", diz.
A terceira e última é que Gabriela ficou doente pela segunda vez após ter sido infectada por outro vírus respiratório, mas o organismo dela ainda não havia eliminado por completo o coronavírus e resquícios dele fizeram o teste ser positivo mesmo 50 dias após o primeiro diagnóstico.
"Existem vários casos no mundo de pessoas que saram da Covid e os exames ficam positivos sem ter sintoma nenhum. Mas ela não encontrou ninguém com gripe. Ela encontrou pessoa com Covid e desenvolveu alteração do olfato. Você não vê pessoa com gripe ou resfriado perder o olfato e o paladar", explica Bellissimo.
Próximos passos
Após a publicação na revista, os pesquisadores trabalham com duas linhas de investigação para dar continuidade ao estudo. Uma delas é ir mais a fundo no organismo de Gabriela e a outra é tentar encontrar o que a jovem tem em comum com os outros pacientes que testaram positivo duas vezes.
"A gente quer saber se essas pessoas têm alguma característica diferente das demais. Será que isso é ao acaso ou será que existe uma particularidade destas pessoas? Será que o segundo episódio é mais grave que o primeiro ou é mais leve que o primeiro? São perguntas que a gente está tentando elucidar", diz Bellissimo.
Cerca de um mês e meio após a USP divulgar o estudo, Gabriela já passou por diversos exames – entre eles, a coleta de sangue e um novo RT-PCR, que identifica o vírus causador da Covid-19 no organismo por meio de amostras coletadas no nariz e na garganta.
Consta no artigo escrito pelos pesquisadores que a jovem está acima do peso e sofre de enxaqueca, mas não tem nenhuma doença crônica e está com a carteira de vacinação em dia. Ela também relatou aos médicos não ter usado medicações contínuas, cigarro, bebidas alcoólicas ou drogas ilícitas.
"Até o momento, não achamos nada. Ela é uma pessoa normal. Todos os exames que a gente fez nela são todos normais", afirma o infectologista.
Mesmo diagnóstico duas vezes
Segundo a pesquisa da USP, Gabriela entrou em contato com um colega de trabalho infectado em 4 de maio. Dois dias depois, começou a sentir mal-estar, febre, congestão nasal, dores de cabeça e de garganta.
No quarto dia após o surgimento dos sintomas, a técnica de enfermagem passou pelo exame RT-PCR. O resultado do primeiro teste, realizado em 8 de maio, foi negativo, mas, como os sintomas persistiram, ela repetiu o exame cinco dias depois, em 13 de maio, e foi positivada.
Os sintomas desapareceram em dez dias e Gabriela pôde voltar ao trabalho em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) na zona Norte de Ribeirão Preto. No entanto, 38 dias depois, em 27 de junho, a paciente apresentou sinais da doença novamente.
Além do mal-estar e da febre, ela sentia dores musculares, cansaço, perdas de paladar e olfato, diarreia e tosse. No quinto dia após o ressurgimento dos sintomas, em 2 de julho, Gabriela passou por um novo exame de RT-PCR e testou positivo novamente.
*Com informações de G1.
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