Bolsonaro entra com ação no STF questionando inquérito das fake News - Ação contesta a forma como a investigação foi instaurada
O presidente Jair Bolsonaro entrou hoje (20) com ação no
Supremo Tribunal Federal (STF) questionando as decisões no inquérito das fake
news, pois, segundo ele, os atos processuais adotados estão “contrariando as
liberdades individuais e os princípios constitucionais”.
A ação de Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) contesta, entre outros
pontos, a forma como a investigação foi aberta, amparada no regimento interno
da Corte, e pede a sua suspensão, em caráter liminar, até o julgamento da ADPF.
“Há
violação persistente e difusa de direitos fundamentais dos acusados, há uma
omissão do Supremo Tribunal Federal em neutralizar os atos destoantes dos
preceitos fundamentais e há um claro bloqueio institucional para o
aperfeiçoamento da temática, já que alteração regimental é dependente da
iniciativa da Suprema Corte, razão pela qual somente ela pode reparar as
violações constitucionais em andamento”, diz a ADPF.
O inquérito das fake news apura a divulgação de notícias
falsas e ameaças contra integrantes da Corte, e a sua forma de abertura já foi
objeto de ação e julgamento no STF. Na ocasião, por 10 votos a 1, os ministros
decidiram a favor da constitucionalidade do inquérito, aberto pelo próprio
tribunal em março de 2019.
A ação aberta pelo presidente também é assinada pelo
advogado-geral da União (AGU), Bruno Bianco. De acordo com o documento, as
medidas adotadas pelo relator do inquérito, ministro Alexandre de Moares,
causam “desconforto jurídico” naqueles que acompanham a tramitação, pois “trata-se
de um mosaico de fatos sem nenhuma relação aparente de conexão concreta, que
foram submetidos ao escrutínio investigatório de um mesmo Ministro
Instrutor/Relator apenas por se
enquadrarem em uma 'classe de fatos' – a hostilidade à
dignidade da jurisdição do Supremo Tribunal Federal”.
Bolsonaro e Bianco citam decisões como a remoção de conteúdo
jornalístico envolvendo relatos que mencionavam nome de ministro do STF; a
realização de busca e apreensão contra o ex Procurador-Geral da República, por
manifestações externadas na imprensa; o afastamento de auditores fiscais da
Receita Federal por suposto acesso indevido a informações sigilosas de
ministros do STF e de seus familiares; a prisão de parlamentar que hostilizou
ministros do STF em mídias sociais mediante excesso de crítica e; acolhimento
do despacho do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para determinar a investigação
de condutas do presidente da República por críticas à integridade do processo
eleitoral praticado no sistema eletrônico de apuração e por alegado vazamento
de inquérito sigiloso.
Além disso, segundo a ADPF, a prática de decisões no âmbito
do inquérito é “absolutamente discrepante do itinerário comum seguido pelos
procedimentos policiais, ministeriais e judiciais de persecução penal”. “As
práticas investigatórias deflagradas por esse Supremo Tribunal Federal com
fundamento no poder de polícia judiciária previsto no artigo 43 do Regimento
Interno do Supremo Tribunal Federal tem despertado uma série de perplexidades a
propósito da legitimidade da atuação do Ministro designado como
Instrutor/Relator”, diz o pedido de liminar.
Além de questionar a forma de abertura, a ADPF pede a
adequação constitucional do regimento da Corte, sob a alegação de que é preciso
observar o critério da espacialidade previsto na norma. “Pede-se seja fixada
interpretação conforme a Constituição que limite a sua incidência ao seu campo
de excepcionalidade, tendo-o como acionável tão somente quando concretizada a
situação espacial nele referida, isto é, o
cometimento de infrações na sede ou nas dependências do
Supremo Tribunal Federal”, diz o pedido.
Por fim, a ADPF pede ainda que, caso nenhuma das teses
anteriores seja acolhida, o STF observe condicionantes mínimas na aplicação do
seu poder de polícia judiciária sobre atos de ofensa qualificado a seus
membros.
“Isso é
necessário tendo em vista as perplexidades capturadas em diversos atos
praticados na condução do INQ nº 4781 [inquérito das fake news], dentre as
quais: (i) a formalização abstrata dos motivos de instauração do inquérito;
(ii) a distribuição concentrada de notícias de fato sem nexo de conexão
concreta aparente com a investigação originária; (iii) a minimização da posição
institucional do Ministério Público, sobretudo nas decisões pertinentes a
decretação de medidas cautelares sujeitas a reserva de jurisdição; (iv) a
ausência de meios de controle de eventuais vícios surgidos na investigação; e
(v) a possibilidade de participação do Ministro Instrutor/Relator no julgamento
de autoridades com foro por prerrogativa de função”, diz a
ADPF.
Relembre
Um dos últimos alvos do inquérito foi o ex-deputado Roberto
Jefferson (PTB-RJ), preso no dia 13 em uma operação da Polícia Federal (PF)
para cumprir decisão do ministro Alexandre de Moraes. Para o magistrado, um
vídeo vinculado às redes sociais oficiais do PTB foi amplamente divulgado,
inclusive por WhatsApp, em que se observa “o nítido objetivo de tumultuar,
dificultar, frustrar ou impedir o processo eleitoral, com ataques
institucionais ao Tribunal Superior Eleitoral e ao seu ministro presidente. As
manifestações, discursos de ódio e homofóbicos e a incitação à violência não se
dirigiram somente a diversos ministros da Corte, chamados pelos mais absurdos
nomes, ofendidos pelas mais abjetas declarações, mas também se destinaram a
corroer as estruturas do regime democrático e a estrutura do Estado de
Direito”.
No dia seguinte à operação da PF, Bolsonaro disse que levaria
ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, um pedido para que instaurasse um
processo contra os ministros do STF Alexandre de Morais e Luís Roberto Barroso,
esse último também presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Hoje, a PF também cumpre mandados de busca e apreensão em
operação que tem entre os alvos o cantor e ex-deputado Sérgio Reis e o deputado
federal Otoni de Paula (PSC-RJ). O objetivo é apurar “o eventual cometimento do crime de incitar a população, através das
redes sociais, a praticar atos violentos e ameaçadores contra a democracia, o
Estado de Direito e suas instituições, bem como contra os membros dos Poderes”.
Por Andreia
Verdélio – Repórter da Agência Brasil - Brasília
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