Brasil é o maior exportador de comida halal no mundo - Conceito norteia alimentação de muçulmanos em todo o mundo
Halal é uma palavra árabe que significa lícito, permitido.
Mais do que isso, é um conceito que permeia a alimentação e o uso de produtos
cosméticos e farmacêuticos por muçulmanos em todo o mundo. Pela sharia, o
código de leis islâmico, os seguidores da fé de Maomé só podem consumir
produtos que se encaixem nessa categoria porque seriam aqueles permitidos por
Deus.
No judaísmo, há uma categoria semelhante: o kosher. Um
exemplo é a proibição de consumo de carne de porco, de álcool etílico, sangue e
animais de presas longas, considerados haram, ou seja, não permitidos. As
carnes de boi, frango, caprinos e ovinos podem ser consumidas, desde que o
abate seja feito de forma adequada, em um ritual halal.
A restrição é ligada não apenas a esses itens, mas a qualquer
produto que contenha esses ingredientes em sua composição ou que tenha contato
com eles. Um carimbo usado em uma carne, por exemplo, não pode ter glicerina de
origem suína.
Como isso é levado muito a sério pelos muçulmanos, é preciso
garantir que os produtos consumidos realmente tenham sido processados da forma
correta. Por isso, as empresas interessadas em servir ao consumidor islâmico
precisam ser certificadas.
É um mercado concentrado não apenas no Oriente Médio e norte
da África, mas também em países como o próprio Brasil. Na Indonésia, por
exemplo, que tem grande população muçulmana e é o maior mercado consumidor de
comida halal, a certificação é obrigatória para os exportadores.
“Uma vez
que a empresa estiver certificada, ela vai atender a alguns países que antes
ela não atendia, por ter a certificação halal como requisito [para exportação]
ou por ter a certificação halal com diferencial”, afirma
Elaine.
Certificação
Segundo Elaine, o processo de certificação envolve
inicialmente uma avaliação documental da empresa, na qual se verifica, por
exemplo, os ingredientes e materiais usados na fabricação ou beneficiamento do
produto e sua origem. “A gente precisa garantir que se aquela empresa usa uma
queratina de origem animal, por exemplo, que ela tenha vindo de um animal
abatido de acordo com o ritual islâmico”, conta.
A certificadora, então, envia um auditor com conhecimentos técnicos
na área de atuação da empresa (que pode ser um veterinário, um engenheiro
agrônomo entre outros) e autoridades religiosas para verificar se tudo é feito
dentro dos preceitos do islamismo.
No caso do abate bovino, por exemplo, Elaine explica que é preciso
que tudo seja feito de acordo com um ritual, que começa com a declamação das
palavras Bismillah, Allahu Akbar (“em nome de Deus, Deus é o maior”) e termina
com a drenagem do sangue do animal por três minutos.
O abate deve ser feito por um muçulmano, mas se não houver
ninguém disponível, poderá ser executado por um judeu ou um cristão. Já o
supervisor do abate precisa ser um seguidor do Islã.
Depois de aprovada, a empresa pode receber uma certificação
para todos os lotes de seu produto, com validade de três anos, ou pode receber
certificações por lotes. Cerca de 450 empresas brasileiras são certificadas
apenas pela Fambras Halal.
Fábrica
brasileira
Com produtos presentes no Oriente Médio desde a década de
1970, a indústria alimentícia brasileira BRF decidiu dar um passo adiante, em
2014, de olho no gigantesco mercado halal, ao instalar uma fábrica nos Emirados
Árabes Unidos. Localizada na zona industrial de Abu Dhabi, capital do país, a
planta processa principalmente produtos de frango e também hambúrguer bovino.
É a primeira indústria alimentícia brasileira a instalar uma
fábrica no país e, se depender do governo dos Emirados Árabes, não será a
última. No último domingo (3), a ministra de Mudanças Climáticas e Meio
Ambiente da nação árabe, Mariam Almheiri, convidou empresas do Brasil a seguir
o exemplo da BRF.
Uma das marcas da BRF, a Sadia é uma das líderes em seu
segmento nos Emirados Árabes. “Quando você vê um mercado como Kuwait, o Catar,
os Emirados Árabes ou a Arábia Saudita, o reconhecimento da marca é maior do
que no Brasil”, disse Rohner.
Produtos
processados no Brasil
A decisão de montar uma fábrica nos Emirados Árabes, depois
de anos exportando produtos processados no Brasil, surgiu ao perceber que os
alimentos produzidos no país árabe poderiam estar mais próximos do paladar dos
consumidores da região.
“Para
desenvolver produtos para o sabor local, não tem nada melhor do que estar
próximo ao consumidor. Quando você tenta encontrar os ingredientes que as
pessoas se acostumaram a comer ou aprenderam a comer desde pequenas, é muito
difícil fazer isso de fora”, explicou Rohner.
Os animais são criados e abatidos no Brasil, onde recebem
certificação halal. Só depois, a carne é exportada para os Emirados Árabes,
onde é processada (por exemplo, transformada em nuggets, hambúrgueres ou
tenderizada e empacotada).
Segundo Rohner, financeiramente é mais viável criar os
animais no Brasil, porque o país tem a estrutura para atender ao mercado
nacional e ao internacional, além de abundância de grãos (para alimentação dos
rebanhos) e de água.
Além da fábrica em Abu Dhabi, a BRF opera outras três
unidades processadoras de alimentos no Oriente Médio, uma na Arábia Saudita e
duas na Turquia.
Há outras empresas alimentícias que ainda não têm fábrica nos
Emirados Árabes, mas que já marcam presença ali, como a JBS, concorrente da
BRF, que mantém um escritório comercial no país, e a Tropicool Açaí, rede
varejista que oferece produtos da fruta amazônica. Ela tem lojas em Dubai.
*Agência Brasil
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