A pandemia teve impacto na vida de bebês e crianças
brasileiras: pobreza, subnutrição, falta de assistência em saúde e educação,
além da perda da mãe, do pai ou de responsáveis para a covid-19. Diante da
crise sanitária e econômica, as crianças deixaram até mesmo de ser vacinadas e,
assim, cumprir o esquema previsto para a infância, ficando vulneráveis a
diversas enfermidades. As informações fazem parte da Epicovid-19, pesquisa
realizada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em parceria com o Ibope.
Dados inéditos da Epicovid-19, a maior pesquisa
epidemiológica sobre a doença feita no Brasil, são apresentados hoje (6), no 9º
Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância, realizado pelo
Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI). A pandemia teve impactos indiretos e
diretos na vida das crianças. Até setembro deste ano, 867 crianças de até 4
anos e 194 crianças de 5 a 9 anos morreram no Brasil por covid-19. O estudo
mostra ainda que também foram vítimas da doença 273 adolescentes de 10 a 14 anos
e 808, de 15 a 19 anos.
“Temos que
pensar em termos amplos, em políticas públicas de combate à pobreza, de
estimulação intelectual, de assistência médica - por exemplo, as vacinações que
foram perdidas -, de escolaridade, e assim por diante. Programas potencialmente
efetivos como o Criança Feliz precisam ser revitalizados, pois a pandemia
afetou marcadamente a frequência das visitas domiciliares visando a estimular a
interação entre crianças e seus familiares”, defende o professor emérito
de Epidemiologia na UFPel e coordenador do Epicovid, Cesar Victora.
De acordo com a pesquisa, as crianças também deixaram de ser
vacinadas. Durante o período pandêmico, 22,7% das crianças mais pobres deixaram
de ser vacinadas. Entre as mais ricas, o índice é de 15%. O maior impacto é o
fato de que as crianças que já estão fragilizadas pela subnutrição resultante
do aumento na pobreza, ficam ainda mais suscetíveis a outras doenças
infecciosas que podem ser prevenidas pela imunização”, diz o coordenador do
estudo.
O pesquisador defende uma atenção especial à infância e o
reforço de políticas públicas: “Investir na primeira infância e minimizar os
efeitos da pandemia é essencial para garantir não apenas a saúde das próximas
gerações, mas também o capital humano que permitirá o desenvolvimento de nosso
país nas próximas décadas”.
Nacionalmente, o Programa Criança Feliz é uma das principais
iniciativas voltadas para a infância. O programa atende a famílias com crianças
de até 6 anos. Por meio de visitas domiciliares às famílias participantes do
Cadastro Único, as equipes do Criança Feliz acompanham e orientam o
desenvolvimento delas.
Victora apresenta também dados de entrevista com
participantes do programa Criança Feliz que mostram que 11% das crianças
deixaram de ser vacinadas em setembro de 2020. Em janeiro de 2021, o índice foi
para 10%. Além disso, 6% das grávidas faltaram às consultas pré-natais em
setembro de 2020. Em janeiro, o percentual passou para 10%.
Ministério
da Cidadania
Em nota, o Ministério da Cidadania diz que, em decorrência da
necessidade de isolamento social, o atendimento remoto foi autorizado, e os
visitadores do Criança Feliz passaram a desenvolver atividades por meio de
videochamadas e encaminhar o conteúdo aos pais e responsáveis por meio de
plataformas digitais.
De acordo com o ministério, em 2020 o programa bateu o
recorde de 1,1 milhão de atendidos pelos 26 mil visitadores espalhados pelo
país. Ao longo do ano, foram realizadas 40 milhões de visitas. Em agosto deste
ano, ultrapassou a marca de 50 milhões de visitas e está presente nos lares de
mais de 1,2 milhão de brasileiros.
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