Réus por incêndio na boate Kiss começam a ser julgados na quarta-feira - Tragédia aconteceu em janeiro de 2013
Era para ser uma noite de alegria. A festa “Aglomerados”
marcaria a formatura de cursos como Agronomia, Veterinária e outros, da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul. Mas o que
aconteceu foi uma tragédia, uma das maiores da história recente do país.
No dia 27 de janeiro de 2013, a Boate Kiss, casa noturna
localizada na Rua dos Andradas, no centro da cidade de Santa Maria, recebeu
centenas de jovens para a comemoração. No palco, dois shows ao vivo. O
primeiro, de uma banda de rock. Depois, foi a vez dos rapazes da banda Gurizada
Fandangueira, de sertanejo universitário. A casa estava lotada: entre 800 e mil
pessoas. A boate tinha capacidade para 690 pessoas.
Segundo contou na época o guitarrista da banda Rodrigo Lemos,
o fogo começou depois que um sinalizador foi aceso. Ele disse que os colegas de
banda logo tentaram apagar o incêndio, mas o extintor não teria funcionado. Um
dos componentes da bando, o gaiteiro Danilo Jaques, morreu no local.
Ainda sem saberem do que se tratava, seguranças tentaram
impedir a saída antes do pagamento. Houve empurra-empurra. Alguns conseguiram
deixar o local. Muitos que não conseguiram, desmaiaram, intoxicados pela
fumaça. Outros procuraram os banheiros para escapar ou buscar uma entrada de ar
e acabaram morrendo. Segundo peritos, o sistema de ar condicionado ajudou a
espalhar a fumaça. Além disso, um curto-circuito provocado pelo incêndio causou
uma explosão. Morreram 240 pessoas.
Na rede social, uma das sobreviventes, Suzielle Requia, conta
como conseguiu escapar da morte. Resgatada com ajuda de um amigo, ela ficou
hospitalizada por dois dias, porque sentia muita falta de ar:
"Eu ouvi um grito de uma menina: 'abre, abre, a Kiss
está pegando fogo'. Quando eu olhei para o palco, eu vi um clarão. Eu olhei
para o meu amigo e disse: 'a Kiss está realmente pegando fogo'. E nisso ele
agarrou a minha mão e me puxou. Mas eu me perdi dele, porque a fumaça já tinha
tomado conta da Kiss. Eu não enxergava um palmo na frente do nariz. Até eu me
bati na primeira grade, consegui pular aquela grade e caí para fora da boate.
Eu desmaiei".
A terapeuta ocupacional Kelen Ferreira sobreviveu com
sequelas graves. Ela perdeu o pé direito, teve queimaduras em 20% do corpo e
ainda faz tratamento pulmonar:
A perícia policial apontou que uma combinação provocou a
tragédia: o material empregado para isolamento acústico (com a espuma
irregular), associado ao uso de sinalizador em ambiente fechado, a saída única,
as falhas no extintor e a exaustão de ar inadequada. Associado a tudo isso, o
indício de superlotação.
O caso comoveu o país inteiro e provocou debates sobre a
segurança de casas noturnas e locais de grande aglomeração de pessoas.
Ainda em 2013, o governo do Rio Grande do Sul publicou a Lei
Kiss, que estabelece normas sobre segurança, prevenção e proteção contra
incêndios nas edificações e áreas de risco de incêndios no estado. O exemplo
foi seguido por várias outras cidades. Uma audiência pública no Senado debateu
a legislação de prevenção e combate de incêndios no Brasil.
Em fevereiro de 2013, foi criada a Associação de Familiares
de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, com mais de 28 mil
assinaturas, pedindo apoio do Ministério Público para a busca de justiça.
Em março daquele ano, foram presos preventivamente quatro
investigados. Os réus são os sócios da Kiss, Elissandro Callegaro Spohr e Mauro
Londero Hoffmann; o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, que se apresentou
naquela noite, Marcelo de Jesus dos Santos; e o produtor musical Luciano
Bonilha Leão.
Eles vão a júri popular neste 1º de dezembro, no Foro Central
de Porto Alegre.
Comentários
Postar um comentário
Olá, agradecemos a sua mensagem. Acaso você não receba nenhuma resposta nos próximos 5 minutos, pedimos para que entre em contato conosco através do WhatsApp (19) 99153 0445. Gean Mendes...