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'Dou o pontapé inicial': Cabeleireiro que fez transformação em sem-teto já ajudou outras pessoas


O cabeleireiro que fez a transformação no sem-teto Bruno Henrique Cassimiro Ramos, de Votorantim (SP), contou ao g1 que já havia ajudado outras pessoas em situação de rua. https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/noticia/2022/04/01/cabeleireiro-que-fez-transformacao-em-sem-teto-ja-ajudou-outras-pessoas.ghtml?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=g1&fbclid=IwAR1EEc8BkAW22uNi34HTjKRr-e3l7DLe_uSYmOnnTsWuK3KyN-qfLx9_ioo

Cabeleireiro desde os 14 anos, Leandro Matias sempre foi apaixonado por ajudar os outros. Ao g1, ele lembrou da primeira transformação que fez.

"Foi antes da pandemia, uns três anos atrás. Uma senhora catadora de reciclagem passou em frente ao salão e eu pedi para um dos meus funcionários chamá-la. Ela entrou e eu disse que ela tinha ganhado um presente. Aí eu apontei para o céu e ela começou a chorar".



Com a certeza de que ninguém tem o direito de julgar os outros, o cabeleireiro coleciona transformações em pessoas que, como ele mesmo diz, ninguém enxerga.

"Toda transformação eu fico ansioso. Eu não deixo a pessoa ver o resultado até eu acabar. Eu pergunto o que a pessoa quer ou não e, depois, eu a viro de costas para o espelho. Quando finalizo, é aquela choradeira. Uma das minhas maiores motivações é saber que eu dou o pontapé inicial na vida dessas pessoas", explica.

Na tarde de quinta-feira (31), Leandro estava voltando ao salão, quando encontrou um outro rapaz nas ruas. Ele se aproximou e disse que o sem-teto até estranhou. "Ninguém é acostumado a ganhar nada de ninguém, por isso ele estranhou eu ter ido falar com ele. O rapaz aceitou e eu o levei ao salão. Fizemos a transformação".

A ansiedade era grande para ver o resultado final e, ao finalizar mais um dia de trabalho, a alegria de poder ajudar mais uma pessoa, não apenas com o lado externo, mas também com o interno, se espalhou em suas palavras (veja o resultado na foto acima).

"É fazer a diferença. Todo ser humano foi chamado para fazer isso. Eu sempre falo que, quando eu sinto vontade de ajudar uma pessoa, é Deus dando de presente. Eu aqui estou como instrumento dele. Uma das que me marcou muito foi a catadora de reciclagem. Ela disse que nunca tinha ido ao salão. Fiz a transformação dela".

Quem quiser ajudar as pessoas que passam por transformação no salão de beleza de Leandro pode entrar em contato com ele pelas redes sociais.

Repercussão

As ações do cabeleireiro ganharam repercussão diante da história de superação de Bruno Henrique Cassimiro Ramos, de 33 anos. O sem-teto conseguiu dar o primeiro passo para a mudança de vida através da transformação de Leandro Matias, realizada no dia 24 de março.

O encontro dos dois ocorreu em um semáforo próximo a um banco de Votorantim (SP). O cabeleireiro avistou o sem-teto e entregou a ele o cartão do seu salão. Após alguns dias, Leandro foi até o local onde Bruno se aloja, uma casa abandonada, e o levou até o salão para a mudança do visual.

"Dei uma toalha e um sabonete para ele e falei 'vai lá e toma o banho da sua vida'. Depois, ele colocou um roupão meu e almoçou. Depois, fiz luzes no cabelo dele, cortei, fiz uma esfoliação no rosto dele, e também fizemos a sobrancelha. Na hora, ele ficou em choque, não acreditava que era ele".

A transformação foi registrada e postada nas redes sociais de Leandro, tendo muitas curtidas e compartilhamentos. Após as postagens, uma dentista entrou em contato com o cabeleireiro e, nos próximos dias, Bruno vai começar a realizar um tratamento dentário. Ele também tem ganhado roupas e ajuda de pessoas que o encontram na rua.

Bruno contou ao g1 que é de Minas Gerais e, aos cinco anos, foi abandonado pela mãe. Ele morou com a irmã e, depois, ficou um tempo com o pai e até chegou a ir para um orfanato. Hoje, a irmã e o pai moram na Itália. O rapaz também deu detalhes de como veio parar no interior de São Paulo.

"Já fui para clínicas de reabilitação duas vezes em Araçatuba (SP). Lá eu comecei a trabalhar como técnico de iluminação, algo que eu tinha aprendido com meu irmão. Nesse tempo, eu fiquei com uma pessoa, estava bem, trabalhando, e, em 2019, fui fazer um trabalho na Ilha Comprida (SP). Foi quando descobri uma traição. Fiquei mal e decidi que iria embora para o interior. Não conhecia ninguém".

Bruno chegou a Sorocaba (SP) em fevereiro de 2020, um mês antes do início da pandemia no Brasil. Como não conhecia ninguém na cidade, acabou ficando nas ruas. E um dos seus seus maiores problemas havia voltado: a droga. Ele conta que, durante a pandemia, não recebeu muita ajuda.

"Nessa época, eu estava descrente da vida, não queria saber de nada. Quando o Leandro me encontrou, era o que eu estava precisando. A gente cansa da humilhação. Aquele não era o meu verdadeiro eu, então aceitei a mudança".

Questionado sobre a reação ao se olhar no espelho pela primeira vez após a mudança do visual, Bruno esbanjou alegria. "Me senti outra pessoa, foi muita alegria. Me fez lembrar do passado. O que eu tenho mais saudade é do meu trabalho, é o que eu faço desde os meus dez anos".

O rapaz afirma que está aproveitando a oportunidade para mudar de vida: "não quero ser mais aquele homem, quero mudar", afirma.

A repercussão foi tanta que a irmã de Bruno entrou em contato com Leandro através da postagem e está conversando com a família para tentar levá-lo até a Itália.

*Com informações: G.

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