A suspensão por 60 dias da implementação do Novo Ensino Médio
(NEM), criado em 2017, repercutiu positivamente no meio educacional. O
Ministério da Educação (MEC) suspendeu os prazos de parte do Cronograma
Nacional de Implementação do NEM e aguardará a conclusão da consulta pública
para avaliação e reestruturação da política nacional sobre o ensino médio. Para
especialistas e entidades ouvidos pela Agência Brasil, o tema deve ser tratado
a partir de um diálogo do governo com o setor.
A União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes)
considerou a suspensão importante para professores e alunos. “Frear a implementação
do Novo Ensino Médio é um passo importante para os estudantes e professores que
estão sofrendo os impactos de uma medida aprovada sem o amplo debate e o
aperfeiçoamento de quem vive a escola diariamente além de possibilitar a
construção de uma nova proposta para o Ensino Médio brasileiro”.
A presidente da Ubes, Jade Beatriz, defendeu a participação
dos estudantes na elaboração do novo currículo. “É uma vitória, mas não é
suficiente. A suspensão é um intervalo. Não queremos que o ensino médio volte a
ser o que era antes da reforma. Mas é preciso incluir os estudantes nesta
discussão. É um momento muito decisivo nas nossas vidas”, disse.
“Sem opção de boa educação e profissional, a gente vira mão
de obra barata”, acrescentou. A presidente da Ubes sinalizou que fará ainda uma
mobilização nacional pela revogação total e imediata do novo ensino médio.
O Todos pela Educação, organização da sociedade civil sem
fins lucrativos e suprapartidária, fundada em 2006, aprovou a suspensão da
implementação do novo ensino médio. Contudo, o diretor de Políticas Públicas da
entidade, Gabriel Corrêa, argumenta que a decisão do MEC precisa ser feita de
forma pactuada com as secretarias estaduais de Educação e com clareza aos
professores e estudantes.
“Faz parte do jogo e é importante nesse período de consulta
pública haver uma suspensão. É o que a gente tem chamado de um freio de
arrumação. Mas o Ministério da Educação precisa dar mais clareza às secretarias
de Educação, às escolas profissionais e aos estudantes o que isso vai
significar no dia a dia, nos próximos meses”.
O governo federal aguardará a conclusão da consulta pública
para avaliação e reestruturação da política nacional sobre o ensino médio. As
contribuições poderão ser feitas em audiências públicas, oficinas de trabalho,
seminários e pesquisas nacionais com estudantes, professores e gestores
escolares sobre a experiência de implementação do Novo Ensino Médio nas
unidades da federação.
A professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Katharine Ninive Pinto Silva entende
que a suspensão do cronograma foi necessária, mas insuficiente. “É preciso que
esse modelo de ensino médio seja revogado, tendo em vista o fato de que
aprofunda as desigualdades de acesso ao saber historicamente produzido pela
humanidade".
A Campanha Nacional pelo Direito à Educação, organização da
sociedade civil do campo da educação criada em 1999, entende que a medida do
atual governo é um “primeiro passo” e requer providências posteriores. “Não é,
obviamente, suficiente. E ainda faltou responder o que as escolas vão fazer
nesse período de consulta e nos 60 dias: segue com brigadeiro caseiro? Volta à
filosofia?”, disse a coordenadora geral da entidade, Andressa Pellanda.
No entanto, Andressa julga que a política educacional
suspensa pelo atual governo não tem condições de ser remendada. Para ela, o
problema maior está no modelo proposto. “Não serve para a formação plena dos
estudantes, sua formação, para a cidadania e para o trabalho”.
Enem de
2023 e 2024
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2023 não será
impactado pela suspensão de 60 dias da efetivação do Novo Ensino Médio. As
provas, que avaliam o desempenho escolar dos estudantes ao término da educação
básica e servem de porta de entrada no ensino superior, estão previstas para
serem aplicadas em 5 e 12 de novembro.
Gabriel Corrêa, do Todos pela Educação, esclarece que as
alterações previstas no Novo Ensino Médio, iniciadas em 2021, não serão
consideradas no Enem deste ano, pois não estavam completamente implementadas.
“O Enem deste ano não vai ser ajustado ao Novo Ensino Médio e já não seria
mesmo. Não haveria mesmo mudanças em qualquer cenário. A portaria antiga, que
foi suspensa agora, já indicava que o Enem de 2023 seguirá o modelo antigo do
ensino médio”.
Para Corrêa, a grande discussão está em torno da aplicação
das provas do Enem do próximo ano. “No Enem de 2024, [conforme] estava previsto
no novo modelo de ensino médio, o estudante teria no primeiro dia provas
comuns, com todos os estudantes fazendo o mesmo exame. E no segundo dia os
estudantes teriam opções de escolha de que provas fazer. Esse Enem previsto
para 2024 deveria ser adiado”, opina Gabriel.
Propostas
Katharine Ninive Pinto Silva, propõe que a revogação do novo
ensino médio possa ser feita “implementando, de fato, as Diretrizes
Curriculares do Ensino Médio de 2012, que orientam para uma formação para o
mundo do trabalho, que possam integrar as disciplinas de formação geral a
disciplinas de formação profissional nas modalidades integradas. Um exemplo
dessa implementação são os Institutos Federais de Educação, Ciência e
Tecnologia”.
Corrêa não defende revogar tudo o que está na lei e voltar ao
modelo anterior, porque, na avaliação dele, seriam perdidos alguns avanços. Ele
prioriza o ajuste dos pontos falhos para superar desafios, tais como melhorar a
infraestrutura das escolas, apoio aos professores e formação de diretores
escolares.
Ele aposta na manutenção de três premissas do novo modelo: a
expansão da carga horária do jovem, a flexibilização dos currículos e a
integração da formação técnica profissional. “Valorizar a formação e a educação
técnica no ensino médio, que hoje, de fato, não é integrado”.
*Agência Brasil
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