Butantan: nanopartículas combatem fungos agressivos à saúde humana e à agricultura - Defensivos agrícolas com ação antifúngica agem contra perdas em plantações de grãos, além de conter crescimento de fungos Candida SP
Pesquisadores do Laboratório de Desenvolvimento e Inovação do
Instituto Butantan (LDI) desenvolveram nanopartículas de prata biogênicas que
evitam a proliferação de fungos responsáveis por danos às plantações de
cana-de-açúcar, arroz, feijão e milho, entre outras culturas. Essas
nanopartículas metálicas também se mostraram eficientes em conter o crescimento
de fungos do gênero Candida, responsáveis por infecções moderadas e graves em
humanos.
“Exploramos a ação antimicrobiana das nanopartículas e vimos
que elas têm ação importante na agricultura para combater alguns fungos que são
prejudiciais na produção de grãos. E as nanopartículas desenvolvidas no
Butantan também se mostraram eficientes no combate a fungos do gênero Candida
sp que causam sérios problemas, incluindo as infecções hospitalares”, explica a
pesquisadora do Laboratório de Desenvolvimento e Inovação do Instituto
Butantan, Ana Olívia de Souza, líder do estudo publicado na revista
Antibiotics.
As nanopartículas metálicas, como as de cobre, zinco ou prata
produzidas no laboratório podem ser usadas pela indústria em diferentes
produtos. Conhecidas como AgNPs, elas são usadas em recipientes plásticos, por
exemplo, para evitar o surgimento de fungos que formam os conhecidos bolores.
Esse tipo de nanopartícula também já foi incorporada a
escovas dentais, desodorantes, roupas esportivas e calçados, para impedir a
proliferação de micro-organismos que causam mal odor pelo corpo. Até as
máscaras antivirais, amplamente comercializadas na pandemia de Covid-19, tinham
nanopartículas de prata.
“As nanopartículas metálicas têm um amplo espectro de
atividade antibiótica, incluindo a capacidade de inibir a formação ou eliminar
biofilme, que consiste em uma organização muito bem estruturada de alguns
patógenos, como a Candida sp, dificultando o tratamento”, esclarece a
pesquisadora.
Alternativa
aos fungicidas sintéticos
No estudo do Butantan, as AgNPs foram obtidas utilizando
espécies de fungos isoladas de plantas de Manguezal e da Caatinga. Essas
nanopartículas mostraram estabilidade por longo período em temperatura ambiente
e além do efeito antimicrobiano, em outro estudo publicado na revista
Environmental Science Nano, o grupo mostrou a ausência de toxicidade de baixas
dosagens das nanopartículas em organismos aquáticos como zebrafish e camarão.
“O uso destes nanomateriais na agricultura pode ser uma
alternativa aos fungicidas sintéticos, cujo uso sistemático vem causando
resistência dos fungos, causando mais dificuldade no controle das pragas, além
de um grande impacto na agricultura e na economia”, destaca a pesquisadora.
Combate a
fitopatógenos
O estudo descreve a atividade antifúngica das AgNPs em seis
espécies de fungos do gênero Fusarium (Fusarium oxysporum, Fusarium phaseoli,
Fusarium sacchari, Fusarium subglutinans, Fusarium verticillioides) e no fungo
Curvularia lunata, todos patógenos comuns em plantas e cereais.
O gênero Fusarium remete a fitopatógenos que causam danos em
cultivos de cana-de-açúcar, arroz, milho e feijão, entre outros, acarretando a
doença chamada murcha-de-fusarium. O fungo, que vive no solo, ataca os vasos
condutores de água das plantas, interrompendo o fluxo de líquido e nutrientes,
levando-as à morte. As plantações atacadas pelo fungo apresentam folhas
amareladas e murchas, e morrem precocemente.
Os fungos do gênero Curvularia podem causar doenças
importantes como a mancha de curvularia, queima das folhas do inhame e mancha
de curvularia em milho. Este fungo está entre as doenças mais agressivas que
ocorrem em determinadas plantas, por infectar todas as partes da planta, que
não consegue sobreviver.
Existem pelo menos 137 fitopatógenos e pragas responsáveis
por perdas e prejuízos de até 30% em plantações de tomate, batata, trigo,
arroz, milho e soja pelo país.
“Esses fitopatógenos causam doenças em diferentes espécies de
cultivos, e o impacto na economia é muito significante”, destaca o estudo.
Combate à
Candida
As AgNPS desenvolvidas pelo Butantan apresentaram também
atividade antifúngica contra seis espécies do fungo Candida sp de importância
clínica (C. albicans, Candida krusei, Candida glabrata, Candida parapsilosis,
Candida tropicalis e Candida guilliermondii).
A Candida é um gênero de fungos patogênicos que podem
ocasionar diferentes doenças infecciosas. Um exemplo é a candidíase, causada
por espécies deste gênero, que provoca infecções orais, vaginais, de pele e
sistêmica, sendo a originada pelo Candida albicans a mais comum.
As infecções fúngicas são consideradas um problema de saúde
pública mundial, com mais de 300 milhões de pessoas acometidas todos os anos,
resultando em mais de 1 milhão de mortes. Esta situação é agravada pelo aumento
da resistência destes patógenos aos tratamentos atualmente disponíveis, para
infecções tanto em humanos como em animais.
“É importante mencionar que os micro-organismos podem ser
usados como fonte de produtos e medicamentos que são úteis no nosso dia a dia.
Aqui no laboratório a nossa pesquisa tem a finalidade de desenvolver produtos
de forma sustentável e que tenham alguma aplicação farmacêutica”, conclui Ana
Olívia.
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