A
arrecadação da União com impostos e outras receitas teve recorde para o mês de
maio, alcançando R$ 202,98 bilhões, segundo dados divulgados nesta terça-feira
(25) pela Receita Federal. O resultado representa aumento real de 1.046%, ou
seja, descontada a inflação, em valores corrigidos pelo Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em comparação com maio de 2023.
É o maior
valor para meses de maio desde 1995, início da série histórica. Também é o
melhor desempenho arrecadatório para o acumulado de janeiro a maio de 2024. No
período, a arrecadação alcançou o valor de R$ 1,09 trilhão, representando um
acréscimo pelo IPCA de 8,72%.
Os dados
sobre a arrecadação estão disponíveis no site da Receita Federal. Quanto às
receitas administradas pelo órgão, o valor arrecadado no mês passado ficou em
R$ 196,68 bilhões, representando acréscimo real de 10,4%.
Os
resultados foram influenciados positivamente pelas variáveis macroeconômicas,
resultado do comportamento da atividade produtiva e, de forma atípica, pela
tributação dos fundos exclusivos, atualização de bens e direitos no exterior e
pelo retorno da tributação do Programa de Integração Social/Contribuição para
Financiamento da Seguridade Social (PIS/Cofins) sobre combustíveis.
Por outro
lado, houve perda de arrecadação no mês de maio em razão da situação de
calamidade ocorrida no Rio Grande do Sul. O estado enfrenta o pior desastre
climático da sua história e vem trabalhando na recuperação de estruturas após
enchentes nos meses de abril e maio que impactou famílias e empresas. Dos 497
municípios gaúchos, 478 foram afetados, uma população de mais de 2,4 milhões.
“Sem
considerar os pagamentos atípicos, haveria um crescimento real de 5,71% na
arrecadação do período acumulado e de 7,14% na arrecadação do mês de maio”,
informou a Receita Federal.
Calamidade
no RS
O chefe do
Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros da Receita Federal, Claudemir
Malaquias, explicou que alguns fatores não são possíveis medir, mas há
estimativas como sobre o diferimento de tributos federais em razão dos decretos
de calamidade pública dos municípios. Com isso, a perda de arrecadação em maio
chegou a R$ 4,4 bilhões.
“Parte dos
tributos em relação àqueles 499 municípios, que foram decretados a situação de
emergência, tiveram a prorrogação por dois meses. Em relação aos contribuintes
do Simples [Nacional], a prorrogação foi de um mês só, em relação a esses
municípios. E depois nós temos o efeito da calamidade, ou seja, houve quebra de
estrutura da atividade produtiva, você teve ali nitidamente a interrupção da
geração de renda. Então, você teve também a queda da arrecadação por esses
fatores”, disse Claudemir Malaquias durante coletiva de imprensa para
apresentar os resultados da receita.
“Quando a
gente está estimando R$ 4,4 bilhões é em relação à arrecadação do ano anterior.
É claro que a gente não consegue isolar os efeitos, uma vez que há um concurso
de fatores que vão interferir no resultado final. Parte desses tributos poderá
ser recuperada após o término do prazo de diferimento, mas parte certamente não
virá em razão da interrupção ou da perda realmente de receitas decorrente da
atividade que foi obstruída pelo efeito [das enchentes]”, acrescentou.
Contribuindo
para melhorar a arrecadação, em maio, houve recolhimento extra de R$ 820
milhões do Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) - Rendimentos de Capital,
referente à tributação de fundos exclusivos, o que não ocorreu no mesmo mês de
2023. A lei que muda o Imposto de Renda incidente sobre fundos de investimentos
fechados e sobre a renda obtida no exterior por meio de offshores foi
sancionada em dezembro do ano passado.
No total, a
arrecadação do IRRF-Rendimento de Capital teve alta de 6,46% em relação a maio
de 2023, alcançando R$ 8,22 bilhões. No acumulado do ano, a arrecadação com
esse item chega a R$ 52.85 milhões, crescimento real de 25,08%, sendo R$ 12,1
bilhões decorrentes da tributação dos fundos exclusivos.
Com base na
mesma lei das offshores, as pessoas físicas que moram no Brasil e mantêm
aplicações financeiras, lucros e dividendos de empresas controladas no exterior
tiveram até 31 de maio para atualizar seus bens e direitos no exterior. Com
isso, em maio, o Imposto de Renda Pessoa Física apresentou uma arrecadação de
R$ 23,02 bilhões, com crescimento real de 44,82%. Só com a regularização, foram
arrecadados R$ 7,26 bilhões.
Já a
reoneração das alíquotas do PIS/Pasep (Programa de Integração Social/Programa
de Formação do Patrimônio do Servidor Público) sobre combustíveis contribuiu
para evitar a perda de arrecadação. Em maio de 2023, a desoneração com esses
tributos havia sido de R$ 3 bilhões.
Outros
destaques
Também foram
destaque da arrecadação de maio o PIS/Pasep e a Cofins (Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social), que apresentaram, no conjunto, uma
arrecadação de R$ 40,52 bilhões no mês passado, representando crescimento real
de 11,74%. No acumulado do ano, o PIS/Pasep e a Cofins arrecadaram R$ 210,61
bilhões. O desempenho é explicado, entre outros aspectos, pelo retorno da
tributação incidente sobre os combustíveis e pela atividade produtiva, com
aumento na venda de bens e serviços.
O Imposto de
Renda Retido na Fonte (IRRF) – Trabalho apresentou uma arrecadação de R$ 16,81
bilhões, crescimento real de 12,58%, em função do crescimento da massa
salarial. De janeiro a maio, a arrecadação desse item chega a R$ 94,63 bilhões,
alta de 6,56%.
Considerando
o acumulado do ano, a Receita Previdenciária totalizou uma arrecadação de R$
263,97 bilhões, com crescimento real de 5,92%. Esse resultado também se deve à
alta real de 6,76% da massa salarial. Além disso, houve crescimento de 15% no
montante das compensações tributárias com débitos de receita previdenciária, no
período de janeiro a maio de 2024 em relação ao mesmo período do ano anterior.
Apenas em
maio, a Receita Previdenciária teve aumento real de 2,74%, chegando a R$ 51,67
bilhões.
Indicadores
macroeconômicos
A Receita
Federal apresentou os principais indicadores macroeconômicos que ajudam a
explicar o desempenho da arrecadação no mês. Entre eles, estão o crescimento da
venda de bens e serviços, respectivamente, em 4,9% e 5,6% em abril (fator
gerador da arrecadação de maio) e alta de 3,6% e 1,51% entre dezembro de 2023 e
em abril de 2024 (fator gerador da arrecadação do período acumulado).
A produção
industrial também subiu 10,27% em abril passado e 2,47% no período acumulado. O
valor em dólar das importações, vinculado ao desempenho industrial, teve alta
de 0,37% em abril de 2024 e de 0,98% entre dezembro de 2023 e abril de 2024.
Também houve
crescimento de 16,02% da massa salarial em abril e de 11,3% no acumulado
encerrado no mês.
“Todos os indicadores positivos sinalizam uma explicação para o crescimento da arrecadação na comparação com o ano passado. A trajetória de crescimento está na casa 8% em termos reais e 12% em termos nominais. Isso tudo está sendo explicado pela ativação da atividade econômica. Uma atração maior na atividade econômica, no consumo, a gente vai ter um desempenho melhor dos tributos vinculados ao faturamento das empresas. E também a massa salarial, como já vem sido destaque desde meados do ano passado, a trajetória crescente da redução do nível de desemprego está sendo responsável pelo crescimento do Imposto de Renda na fonte, sobre o trabalho e também da Previdência”, explicou Claudemir Malaquias.
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