"Certamente alguém pôs fogo", diz chefe do Parque da Serra dos Órgãos - Segundo biólogo, incêndio atual é o pior dos últimos anos.
O Parque Nacional da Serra dos Órgãos (Parnaso), na região serrana do Rio de Janeiro, é uma das diversas unidades de conservação do país que vem sofrendo com os incêndios florestais. As chamas atingem locais de difícil acesso, o que dificulta o combate.
Os esforços
para debelar o fogo são conduzidos pelo Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro e
por brigadistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio), órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) que responde
pela administração do parque.
De acordo
com o biólogo Ernesto Viveiros de Castro, chefe do Parque Nacional da Serra dos
Órgãos, somente após o fim do incêndio é que a perícia entrará em campo para
dar suporte às investigações. No entanto, ele é taxativo: "certamente
alguém pôs fogo". Sua principal hipótese é de que as chamas tenham se
alastrado a partir de áreas rurais vizinhas à unidade de conservação.
A situação é
ainda pior em estados do Centro-Oeste e do Norte do país, como Mato Grosso,
Amazonas e Pará. Diante do excesso de queimadas no Brasil o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva convocou uma reunião interministerial. A Polícia Federal
está investigando se condutas criminosas estão envolvidas nas queimadas.
No Parque
Nacional da Serra dos Órgãos, o incêndio atual atinge a área da travessia
Cobiçado e Ventania. A unidade de conservação tem a maior rede de trilhas do
Brasil. É também um dos locais mais buscados para a prática de esportes de
montanha, como escalada, caminhada e rapel.Em entrevista à Agência Brasil nesta
segunda-feira (16), Castro falou sobre a evolução do incêndio, as estratégias
de combate às chamas, o histórico recente de queimadas na Serra dos Órgãos, a
expectativa de recuperação das áreas afetadas, o funcionamento da unidade de conservação
e as medidas que podem ajudar a evitar eventos semelhantes.
Ernesto
Castro: Esse ano está bem seco. Devido aos efeitos do El Niño, a gente já
esperava uma ocorrência maior de incêndios nesse ano. Temos tido incêndios com
frequência, mas esse último é o pior do ano com certeza. E o pior de alguns
anos. O ponto de atenção é que está queimando uma área que não costuma ser
atingida. A gente não tem registro de queimadas nessa área. São as florestas
das encostas viradas para o mar, em Magé. Esse incêndio veio de Petrópolis, da
área do Caxambu que fica na vertente de dentro da serra. Mas virou a serra e
está descendo por área de floresta em direção à Magé.
Agência
Brasil: Como tem se dado o trabalho de combate ao fogo?
Ernesto
Castro: É um fogo complicado de combater porque ele está queimando o solo da
floresta. Felizmente, a princípio não está queimando a copa das árvores. Mas é
uma área muito íngreme. E por essas características, só conseguimos fazer o
combate com aeronaves e montando trincheiras para frear a expansão do fogo.
Estamos lá hoje com 60 pessoas sendo 36 ligadas ao ICMBio e 24 bombeiros. De
ontem para hoje, deu uma chuviscada em parte da vertente da serra. Isso trouxe
um pouco mais de umidade e melhorou um pouquinho com a condição de combate.
Ernesto
Castro: Tanto a Polícia Federal como o ICMBio possuem investigações abertas. A
gente só consegue fazer a perícia depois de apagar o fogo. Mas a origem mais
provável são as áreas rurais vizinhas ao parque. E, sendo assim, é uma prática
criminosa porque não é permitido fazer queimada nesse período. O que podemos
dizer é que não existe registro de incêndio natural nesta região. Não temos
registro de raios há meses aqui. Então certamente alguém pôs fogo. A questão é
se foi intencional ou não.
Ernesto
Castro: Tivemos um incêndio bem grande em 2014, há dez anos atrás. Foi pior do
que esse, pelo menos até o momento. Na época, as chamas subiram para os campos
de altitude, na área mais alta da serra. É uma área que tem muitas espécies
endêmicas [espécies que ocorrem exclusivamente em uma determinada localidade
geográfica, não sendo encontradas naturalmente em outros lugares]. Mas queimada
de área de floresta no nível que estamos observando agora não registramos há
muitos anos. Normalmente, o que queima são áreas mais abertas na vertente
voltada para o continente, que é mais seca. A umidade da floresta consegue
abafar o fogo. Mas agora está propagando para a floresta porque a região toda
realmente está muito seca.
Ernesto
Castro: Isso só com uma avaliação após o incêndio. Vai variar muito. Depende se
o incêndio atingiu a copa das árvores, se queimou o chão da floresta. Tem áreas
de difícil recuperação na parte mais alta que foi atingida, onde temos a
travessia do Cobiçado e Ventania e o Caminho da Mata Atlântica, que são trilhas
do parque. Topo de montanha demora mais para se recuperar. Mas ainda não
fizemos uma avaliação detalhada porque o objetivo agora é apagar o fogo.
Agência
Brasil: Essas trilhas estão com acesso suspenso?
Ernesto
Castro: Só estão fechadas as trilhas na área do fogo. O parque não está fechado
à visitação por enquanto. As decisões administrativas dependem de avaliação,
que é feita constantemente. A reabertura das trilhas vai depender da propagação
do fogo.
Agência
Brasil: Na sua visão, o que pode ser feito para impedir que eventos similares a
esse voltem a ocorrer no futuro?
Ernesto
Castro: O principal é a conscientização da sociedade. De maneira nenhuma, as
pessoas podem usar o fogo nesse momento de seca, seja para queimar lixo, para
limpar áreas agrícolas, para qualquer coisa. E em outros períodos, só em
condições muito específicas. Na parte de coerção, cabem punições e penas mais
rígidas. E precisamos fortalecer as estruturas de investigação. Hoje, raramente
alguém que coloca fogo na vegetação é realmente responsabilizado.
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