Meta promete se aliar a Trump contra países que regulam redes sociais - Empresa anuncia o fim do programa de checagem de informações
Citando suposta censura nas redes sociais, a Meta – companhia
que controla Facebook, Instagram e Whatsapp – anunciou nesta terça-feira (7)
que vai se aliar ao governo do presidente eleito dos Estados Unidos (EUA),
Donald Trump, para pressionar países que buscam regular o ambiente digital.
“Vamos trabalhar com o presidente Trump para pressionar os
governos ao redor do mundo que estão perseguindo empresas americanas e
pressionando para censurar mais”, afirmou o dono da Meta, Mark Zuckerberg.
Segundo o empresário, “a única maneira de resistir a essa tendência global é com
o apoio do governo dos EUA”.
Zuckerberg argumentou que a Europa está “institucionalizando
a censura”, que os países latino-americanos têm “tribunais secretos que podem
ordenar que empresas retirem coisas discretamente” e que a China “censurou
nossos aplicativos”.
Além disso, o dono da Meta anunciou cinco alterações nas
políticas de moderação de conteúdos em suas redes sociais, entre elas, o fim do
programa de checagem de fatos que verifica a veracidade de informações que circulam
nas redes; o fim de restrições para assuntos como migração e gênero; e a
promoção de “conteúdo cívico”, entendido como informações com teor
político-ideológico.
Para a especialista em direito digital consultada pela
Agência Brasil, Bruna Santos, da Coalizão Direitos na Rede, a iniciativa é
“lamentável” e mostra um alinhamento da gigante da tecnologia com o novo governo
de extrema-direita dos EUA.
“Essa decisão da Meta cria uma falsa dicotomia entre a
liberdade de expressão dos EUA versus o redor do mundo, inclusive quando cita
as ‘cortes secretas’. Ele deixa claro que os EUA voltam a ser o centro único de
poder, demonstrando muito bem como que vai ser o jogo de poder daqui para
frente”, destacou Santos.
Mudanças
Em um vídeo de cerca de cinco minutos publicado em uma de
suas redes socais, Mark Zuckerberg informa sobre as mudanças na política de
moderação de conteúdo das plataformas que controla para “voltar às raízes em torno
da liberdade de expressão”.
“Vamos nos livrar dos verificadores de fatos e substituí-los
por notas da comunidade semelhantes a [plataforma] X, começando nos EUA”, disse
Mark. A Meta tem grupos de verificadores de fatos independentes em cerca de 115
países, serviço que começou a prestar em 2016. Já as “notas de comunidade” são
informações incluídas pelos próprios usuários em cima de algum conteúdo.
Outra mudança anunciada é o fim de restrições para conteúdos
sobre imigração e gênero, temas caros à Donald Trump, que assume a Casa Branca
este mês. “O que começou como um movimento para ser mais inclusivo tem sido
cada vez mais usado para calar opiniões e excluir pessoas com ideias
diferentes, e isso foi longe demais”, afirmou Zuckerberg.
O empresário estadunidense também anunciou a intenção de
“trazer de volta o conteúdo cívico”. Segundo ele, no passado, a “comunidade”
pediu para ver menos política nas redes, mas que isso teria mudado.
“[O conteúdo sobre política] estava deixando as pessoas
estressadas, então paramos de recomendar essas postagens. Mas parece que
estamos em uma nova era agora, e estamos começando a receber feedback de que as
pessoas querem ver esse conteúdo novamente”, explicou.
Por último, o dono da Meta decidiu remover as equipes da
companhia que cuidam da moderação de conteúdo da Califórnia para o Texas,
estado que tem uma legislação mais branda em relação ao tema. “Isso nos ajudará
a construir confiança para fazer esse trabalho em lugares onde há menos
preocupação com o preconceito de nossas equipes”, comentou.
A integrante da Coalizão Direitos nas Redes, Bruna Santos, da
organização que reúne mais de 50 entidades que atuam com direitos na internet,
comentou à Agência Brasil que Zuckerberg não apenas fez um aceno, mas uma
virada completa a favor da política do Partido Republicano dos EUA. Para ela,
as mudanças podem resultar em um ambiente digital com mais desinformação.
“É um pouco cedo para avaliar, mas eu não me surpreenderia
caso, daqui a uns meses, a partir da implementação dessas medidas, passarmos a
ver um ambiente digital tomado por desinformação ou por discursos
problemáticos, o que tem sido uma constante até o momento, mas que era, em
alguma medida, combatida por esses mecanismos que ele retira a partir de hoje”,
analisou.
A especialista defende que medidas como checagem de fatos e
moderação de conteúdos não existem para censurar, mas para criar um ambiente
digital com informações mais confiáveis e que o oposto é um ambiente onde
prevalece a desinformação.
“Apesar do combate à censura estar sendo utilizado como
justificativa para retirada dessas medidas, temo que o resultado seja mais
censura na rede. Afinal, os usuários não terão acesso a medidas justas de
revisão de conteúdo ou de fornecimento de contexto específico para notícias de
governo, por exemplo. A gente pode passar a ver na Meta um ambiente digital com
menos integridade informacional e onde se priorizam ideais políticos ao invés
de informações confiáveis”, concluiu Bruna Santos.
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