Na última
semana, as novas regras da Receita Federal para fiscalização de transferências
financeiras tomaram conta do debate nas redes sociais. As críticas referem-se,
sobretudo, à ampliação do monitoramento das transferências via Pix, o sistema
de pagamentos em tempo real do Banco Central (BC), em vigor desde 2020. Os
ruídos vieram a público no momento em que o governo Lula (PT) faz ajustes na
comunicação.
Resumo da ópera
Pix que
somarem pelo menos R$ 5 mil por mês para pessoas físicas e R$ 15 mil para
pessoas jurídicas (as empresas) serão declarados à Receita;
Alta
informalidade no Brasil, com contribuintes que são autônomos, empreendedores ou
que fazem os chamados “freelas” e atuam de modo informal, aumentou preocupação
com o risco de cair na malha fina;
Fisco alega
que regras sempre foram as mesmas, sendo apenas incluído o novo sistema de
pagamentos;
Governo tem
sido acusado de fechar o cerco à classe média, apesar de ter afirmado que iria
“incluir o pobre no Orçamento e o rico no Imposto de Renda”. Fazenda diz que
medida é direcionada aos grandes sonegadores;
Na última
semana, o presidente Lula trocou o ministro da Secretaria de Comunicação da
Presidência – dispensou o deputado Paulo Pimenta, que volta à Câmara, e
designou o marqueteiro Sidônio Palmeira para assumir o posto.
As críticas às medidas anunciadas pela Receita estão mais centradas na classe média, que movimenta os montantes indicados e que tem expressado a percepção de que haverá mais fiscalização. Mas elas também têm se alastrado entre as classes C, D e E, com disseminação de desinformações que levam até mesmo a desincentivar o uso do Pix – sistema que, em seus quatro anos de existência, ganhou os brasileiros e tomou conta dos pequenos e grandes negócios do país.
Apesar do que dizem algumas publicações, o Pix não será taxado, pois não há nenhuma cobrança adicional. O que vai ocorrer é um aumento da fiscalização pela Receita, que vai passar a monitorar mais de perto as transações feitas por Pix.
Também há
usuários que acusam o governo de violar o sigilo bancário e a proteção de dados
pessoais, o que o Fisco nega, já que serão informados apenas os valores globais
movimentados (de entrada e de saída), sem especificação de destino, isto é, sem
detalhamento sobre quem pagou ou onde o dinheiro foi gasto.
Com a
medida, a Receita diz incorporar inovações tecnológicas e estender o
monitoramento de transferências feitas por Pix a:
fintechs
(bancos digitais); e
instituições
de pagamento (que fornecem carteiras virtuais).
Também houve
atualização no sistema de fiscalização sobre as transações com cartão de
crédito.
Quem vai
reportar as transações à Receita são as empresas responsáveis pelas operações
financeiras.
O que diz o
Ministério da Fazenda
O Ministério
da Fazenda, pasta à qual a Receita Federal é vinculada, sustenta que a medida
visa combater a evasão e a sonegação fiscal, tendo como foco os grandes
sonegadores, e não a classe média.
Em
entrevista ao Metrópoles na semana passada, o secretário da Receita, Robinson
Barreirinhas, disse que quem nunca caiu na malha fina vai continuar não caindo.
Segundo o
secretário, as medidas adotadas pelo Fisco visam “facilitar a vida do cidadão”.
“No momento em que a Receita Federal tem mais informações, ela tem mais
condições de não perturbar ou incomodar o bom contribuinte, que não tem nenhuma
inconsistência”, argumentou.
IRPF
Para se adequar, o contribuinte precisará ficar mais atento à declaração de rendimentos no Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF), citando “rendimentos de outras fontes”. Também é possível declarar seus ganhos ao abrir um CNPJ, tornar-se microempreendedor individual (MEI), abrir uma microempresa (ME) ou empresa de pequeno porte (EPE), ou optar pelo Carnê-Leão. Isso significa que muitos dos trabalhadores que hoje atuam na informalidade precisarão passar a se registrar para evitar problemas com o Fisco.
Na
sexta-feira (10/1), o próprio Lula fez uma doação de R$ 1.013, via Pix, para
uma vaquinha que pretende quitar a Arena Corinthians. Em vídeo publicado nas
redes sociais, o titular do Planalto, que é corintiano, aproveitou para rebater
a desinformação que circula nas plataformas sobre o governo taxar o Pix.
“Tem uma
quantidade enorme de mentiras, desde ontem, em todas as redes sociais, dizendo
que o governo vai taxar o Pix. E eu quero provar que é mentira. O governo não
vai taxar o Pix”, disse o presidente. “O que nós podemos fazer é fiscalizar
para evitar lavagem de dinheiro”, complementou.
A Fazenda
intensificou a comunicação nas redes sociais sobre o tema, incluindo um vídeo
do ministro Fernando Haddad após a disseminação de um vídeo deepfake (vídeo
artificial com o rosto e a voz de terceiras) com uma declaração criada por
inteligência artificial (IA).
“Imposto
sobre Pix, mentira. Imposto sobre quem compra dólar, mentira. Imposto sobre
quem tem um animal de estimação, mentira. Pessoal, vamos prestar atenção, está
circulando uma fake news. Prejudica o debate público, prejudica a política,
prejudica a democracia”, diz o ministro no vídeo, de um minuto e cinco
segundos.
Mudanças serão
sentidas em 2026
O prazo para
que os primeiros dados sejam apresentados ao Fisco pelas fintechs e
instituições de pagamento é até o último dia útil de agosto – neste ano, 29/8.
Sobre o segundo semestre, o prazo vai até o último dia útil de fevereiro de
2026.
Isso significa que os dados constarão na declaração do próximo ano, referente ao ano-calendário de 2025.
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