Estudo põe Brasil
entre os mais desiguais do mundo
Relatório mostra que, em nenhum país do planeta, o 1% mais
rico da população concentra parcela tão grande da renda. Discrepância social
aumentou desde 1980 em quase todas as regiões do mundo.A desigualdade no Brasil
é uma das maiores do mundo, segundo a Pesquisa Desigualdade Mundial 2018, uma
compilação de dados globais coordenada pelo economista francês Thomas Piketty e
divulgada nesta quinta-feira (14/12), em Paris.
País de contrastes: 55% da renda no Brasil está nas mãos dos 10% mais ricos da população |
Segundo dados do relatório, em 2015, 27% da renda do Brasil
estavam nas mãos do 1% mais rico da população - a maior discrepância do
planeta. Na comparação, o país aparece à frente, por exemplo, de Rússia (20%),
EUA (20%), China (14%) e Índia (21%).
O resultado acompanha uma tendência mundial: a renda cresceu
para todos, inclusive os mais pobres, mas foram os ricos que abocanharam a
maior fatia do crescimento. Em suas estimativas, os economistas responsáveis
pelo estudo se mostraram preocupados com o possível agravamento da situação
global até 2050.
Os dados mostram que a desigualdade de renda aumentou desde
1980 em quase todas as regiões do mundo, mas o crescimento mais acelerado tem
sido registrado na China, Rússia e Índia e na América do Norte. Enquanto os
dados mostram que a fase de políticas mais igualitárias depois da Segunda
Guerra terminou, as sociedades na América do Sul, África e no Oriente Médio se
tornaram ainda mais desiguais.
De acordo com o estudo, intitulado World Inequality Report e
que teve como um dos principais coordenadores Lucas Chancel, da Escola de
Economia de Paris, além do próprio Piketty, autor do best-seller O Capital no
século 21, a parte da riqueza nacional nas mãos de 10% dos contribuintes mais
ricos passou de 21% a 46% na Rússia e de 27% a 41% na China, entre 1980 e 2016.
Nos EUA e no Canadá, este índice passou de 34% a 47%, enquanto na Europa foi
registrado um aumento mais moderado - de 33% a 37%.
Pódio da desigualdade
Mas houve exceções ao padrão de crescimento vertiginoso.
"No Oriente Médio, África subsaariana e Brasil, as desigualdades
permaneceram relativamente estáveis, mas a níveis muito elevados", afirmou
o documento.
As três regiões formam o pódio da desigualdade no mundo:
África subsaariana (54%), Brasil e Índia (55%) e o Oriente Médio (61% da renda
nas mãos dos 10% mais ricos). Segundo os pesquisadores, essas regiões são as
"fronteiras da desigualdade".
No caso do Brasil, o documento se baseia num estudo publicado
em setembro por um discípulo de Piketty, o irlandês Marc Morgan. O trabalho
gerou controvérsia, pois sugeriu que a desigualdade no Brasil é muito maior do
que indicada em outras pesquisas, apesar dos avanços sociais observados nos
últimos anos. Estes dados também se limitam ao período entre 2001 e 2015.
A renda nacional total cresceu 18,3% no período analisado,
mas 60,7% desses ganhos foram apropriados pelos 10% mais ricos, contra 17,6%
das camadas menos favorecidas. A expansão foi feita às custas da faixa
intermediária de 40% da população, cuja participação na renda nacional caiu de
34,4% para 32,4%.
De acordo com o estudo, a queda se deve ao fato de que essa
camada da população brasileira não se beneficiou diretamente das políticas
sociais e trabalhistas dos últimos anos e nem pôde tirar proveito dos ganhos de
capital (como lucros, dividendos, renda de imóveis e aplicações financeiras),
restritos aos mais ricos.
Em termos de evolução, a divergência é "extrema entre a
Europa Ocidental e os Estados Unidos, que tinham níveis de desigualdade
comparáveis em 1980, mas se encontram atualmente em situações radicalmente
diferentes", destacou o estudo.
Em 1980, a parte da riqueza nacional nas mãos de 50% dos
contribuintes mais pobres era quase idêntica nas duas regiões: 24% na Europa
Ocidental e 21% nos EUA. Desde então, o índice permaneceu estável, a 22%, no
lado europeu e caiu a 13% no americano.
De acordo com Piketty, um fenômeno que se deve pela
"queda das rendas da menor faixa" nos Estados Unidos, mas também por
uma "desigualdade considerável na área de educação e uma tributação cada
vez menos progressiva neste país".
A principal vítima desta dinâmica, segundo o relatório,
baseado em 175 milhões de dados fiscais e estatísticas computadas pelo projeto
wid.world (wealth and income database), é a classe média mundial.
Entre 1980 e 2016, o 1% dos mais ricos obteve 27% do
crescimento mundial. Os 50% mais pobres receberam apenas 12% da riqueza, mas
viram sua renda aumentar significativamente. O que não aconteceu com as pessoas
entre as duas categorias, cujo "crescimento da renda foi frágil".
Os autores do estudo anteciparam um novo crescimento até
2050, com base nas atuais tendências. A participação do patrimônio dos mais
ricos aumentaria assim de 33% a 39%, enquanto a classe média mundial veria sua
participação no patrimônio cair de 29% a 27%.
Fonte: www.terra.com.br
Comentários
Postar um comentário
Olá, agradecemos a sua mensagem. Acaso você não receba nenhuma resposta nos próximos 5 minutos, pedimos para que entre em contato conosco através do WhatsApp (19) 99153 0445. Gean Mendes...