Uma criança de 9 anos foi encontrada
pelos pais enforcada em uma árvore, no quintal de sua casa, no bairro do
Cordeiro.
Um desafio que leva a pessoa ao sufocamento, chamado de
"Boneca Momo", tem circulado no aplicativo de mensagens WhatsApp. No
Recife, o jogo já fez uma vítima fatal: uma criança de 9 anos foi encontrada
pelos pais enforcada em uma árvore por um fio, no quintal de sua casa,
localizada no bairro do Cordeiro, Zona Oeste da cidade. Ele chegou a ser levado
com vida para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), no bairro dos Torrões,
depois foi transferido para um hospital particular na Ilha do Retiro, mas não
resistiu. A professora Jany Nascimento, mãe de Arthur Luis Barros Santos,
prestou depoimento nessa quarta-feira (22), no Departamento de Polícia da
Criança e do Adolescente (DPCA), afirmando que o filho estaria participando de
um jogo e foi induzido a se enforcar.
"Só percebi que ele participava desses jogos depois
que ele morreu. É muita dor. Um dia ele perguntou se eu tinha medo de uma
boneca chamada Momo. Ele mostrou essa imagem do tablet dele. Só que eu não
sabia o que era essa boneca. Depois, eu soube que ela fazia um desafio de
sufocamento para saber quanto a pessoa poderia aguentar", afirmou Jany, em
entrevista a uma emissora local. Ainda segundo a mãe, é possível que o desafio
tenha sido mostrado ao seu filho por alguma criança da escola ou do curso que
ele fazia.
A Policia Civil instaurou inquérito para investigar a
morte da criança, e os aparelhos (celular e tablet) apresentados pela família
já foram encaminhados para a perícia. Uma equipe do Instituto de Criminalística
(IC) também esteve no quintal onde o menino foi encontrado. A delegada
responsável pelo caso, Thais Galba, declarou que ainda não pode afirmar se a
criança foi realmente vítima de um desafio da internet. "Ouvimos os pais
pela manhã, mas preciso da perícia tanatoscópica, que é a que fez a necropsia
na criança para identificar a causa da morte. A mãe falou que em um determinado
momento que o filho mostrou a imagem dessa boneca, mas ela não sabia que era um
jogo. Não conseguimos visualizar essa imagem, mas estamos investigando no que
tange à nuvem e às pastas de compartilhamentos", disse a delegada, também
durante a entrevista.
No mesmo dia do depoimento dos pais de Arthur, outra
criança de 12 anos, que reside em Aldeia, também teria sido socorrida com os
mesmos sinais de enforcamento. A informação foi repassada à Folha de Pernambuco
por uma fonte ligada à Polícia Civil, que preferiu não ser identificada. Os
responsáveis pela criança, que está internada em um hospital particular do
Recife, registraram queixa e há suspeita de que ela também tenha participado do
desafio.
O jogo, que é parecido com o da Baleia Azul, pede para
que o usuário adicione um número no WhatsApp. A partir disso, segundo a Polícia
Federal (PF), as crianças e adolescentes começam a receber desafios e ameaças.
A imagem usada como perfil se trata de uma escultura japonesa exposta em
Tóquio, no Japão. Especialistas afirmam que dois dos números vinculados a Momo
são originários da Colômbia e do México. A PF disse ainda que os perfis
originais foram excluídos, mas ainda há pessoas propagando o jogo.
Psicóloga diz como identificar sinais
Jogos que colocam em risco a própria vida, a exemplo da
"Baleia Azul" e mais recentemente da "Boneca Momo", têm
despertado reflexão entre especialistas e autoridades sobre como crianças e
adolescentes são expostos na internet. Para a psiquiatra especializada em Saúde
Mental da Infância e Adolescência, Rackel Eleutério, muitas famílias não
percebem que as crianças estão envolvidas nessas situações e que, por isso, há
a necessidade de reforçar o diálogo com elas. “Os pais precisam ouvi-las, fazer
parte do universo delas e fortalecer a intimidade com as crianças”, diz.
Ela também aponta que crianças de 9 a 12 anos e
adolescentes de 12 a 17 anos são considerados como grupos de risco, ou seja,
estão mais suscetíveis a participarem e compartilharem esses desafios. “Eles
têm uma vulnerabilidade, no sentido de terem dificuldade de reconhecer seus
próprios sentimentos. Eles não conseguem nomear o que é estar angustiado, estar
triste, e cabe aos pais ajudarem nessa identificação”, ressalta.
O ambiente escolar também precisa atuar no combate ao mau
uso da internet. De acordo com a pesquisa TIC Educação 2017, realizada pelo
Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação
(Cetic.br), apenas 18% das escolas públicas e 41% das particulares - das
principais capitais do Brasil, como o Recife - realizaram palestras, debates ou
cursos sobre o uso responsável da Internet nos últimos 12 meses. "Tal
resultado pode ser um indício de que as discussões sobre o uso seguro,
consciente e responsável da internet são tratadas na escola de forma esporádica
e ainda não foram incorporadas com regularidade ao currículo e às atividades
extracurriculares", avalia Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br.
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