Conteúdo: Estadão
Dados das demonstrações financeiras do BNDES mostram que
a instituição terá caixa capaz para devolver R$ 126 bilhões ao Tesouro neste
ano, como quer o Ministério da Economia. O “saldo em tesouraria” do banco
estava em R$ 130 bilhões no terceiro trimestre de 2018, mas o valor deve ter
encerrado o ano em torno de R$ 150 bilhões, conforme revelou uma fonte ao
Estadão.
De 2015 a 2018, o banco já devolveu R$ 309 bilhões ao
Tesouro. Em julho do ano passado, o BNDES firmou uma reestruturação da dívida
com a União, antecipando o prazo final de 2060 para 2040 e estabelecendo um
cronograma anual de devoluções – entre 2019 e 2022, numa média de R$ 25 bilhões
ao ano. O ministro da Economia, Paulo Guedes, quer acelerar as devoluções para
abater a dívida pública.
O caixa do BNDES vem crescendo porque a demanda por
empréstimos está baixa, enquanto o banco veio acelerando a venda de
participações acionárias e os tomadores de crédito ampliaram, ano passado, o
pagamento de suas dívidas.
Em 2018, os desembolsos ficaram em R$ 69,3 bilhões, o
menor desde 1996, quando se desconta a inflação. A queda nos desembolsos
resulta em sobra de caixa não só porque o banco libera menos, mas também porque
o BNDES está recebendo hoje o retorno de empréstimos concedidos anos atrás,
explicou o analista João Augusto Salles, da consultoria Lopes Filho.
“No passado, o BNDES emprestava R$ 100 bilhões, R$ 120
bilhões por ano. Esse dinheiro está voltando agora”, disse o economista Carlos
Thadeu de Freitas, diretor financeiro do BNDES até janeiro deste ano.
Dívidas
Por sua vez, o pré-pagamento de dívidas por parte dos
clientes do BNDES ficou em torno de R$ 25 bilhões no ano passado, informou uma
fonte com conhecimento dos dados financeiros.
Nos bancos privados, segundo Salles, isso se dá na forma
de repactuação de dívidas. No caso do BNDES, os clientes pagam antes os
empréstimos quando conseguem crédito mais barato em outra fonte. Para isso,
contribui o fato de a Taxa de Juros de Longo Prazo, que baliza os financiamentos
do BNDES anteriores a janeiro de 2018, estar em 7,03% ao ano, ou seja, acima da
Selic.
Nesse quadro, Freitas acha que dá para devolver R$ 126
bilhões este ano e ampliar as devoluções nos próximos anos. Já o especialista
em contas públicas José Roberto Afonso, professor do Instituto Brasiliense de
Direito Público, que trabalhou na formulação da Lei de Responsabilidade Fiscal,
critica as devoluções antecipadas desde 2016. Segundo ele, as operações seriam
uma “forma disfarçada de financiamento de um banco público a seu controlador”,
o que é “vedado” pela LRF. “A proposta tem um grave dano fiscal. Reduzirá
possíveis lucros do BNDES, que implica não apenas receita de dividendos, como
de impostos e contribuições, ou seja, será menos receita primária para o Tesouro”,
comentou Afonso, por e-mail.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo na semana
passada, o presidente do BNDES, Joaquim Levy, disse que a devolução dos
recursos ao Tesouro é “uma prioridade”, reconheceu que o banco tem dinheiro em
caixa, mas que o retorno dos aportes deve estar atrelado ao pagamento dos
financiamentos que a instituição concedeu com esses recursos, incluindo
Estados, municípios, Caixa e Banco do Brasil.
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