Ambos queimaram diante dos
olhos de duas nações desoladas, mas comparado aos € 850 milhões (R$ 3,76
bilhões) em promessas de doações para reconstruir a Catedral de Notre-Dame de
Paris, o Museu Nacional do Rio de Janeiro ainda luta para ampliar o R$ 1,1 milhão
reunidos em oito meses após o incêndio que o devastou.
Vendo as imagens do
gigantesco incêndio que destruiu parte da catedral francesa na segunda-feira,
muitos brasileiros lembraram do incêndio que chocou o país e a comunidade
científica em setembro passado, embora o importante museu no Rio não seja tão
conhecido mundialmente como Notre-Dame.
— Ficamos muito satisfeitos
em ver a reação extremamente positiva da sociedade francesa. Isso nos dá a
certeza de que a catedral vai ser reconstruída e nos dá a esperança de que,
quem sabe, seguindo o exemplo da França, as empresas brasileiras passem também
a fazer doações — disse Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional.
A doação de € 20 milhões
realizada pela milionária brasileira Lily Safra para a reconstrução da
Notre-Dame despertou questionamentos sobre a falta de engajamento semelhante na
ajuda ao Museu.
— As doações não precisam
ser nesse mesmo volume, mas seria muito interessante, porque o museu está
precisando — acrescentou Kellner. — Com
R$ 1 milhão, resolveríamos um monte de problemas. Um milhão de reais, não de
euros. Isso nos ajudaria a respirar, porque neste momento estamos respirando
com a ajuda de aparelhos — comparou o diretor.
Segundo ele, a Associação de
Amigos do Museu Nacional, encarregada de recolher as doações, obteve R$ 142 mil
de indivíduos e apenas R$ 15 mil de empresas.
O museu também recebeu uma
doação de €180 mil do governo alemão e
R$ 150 mil da representação local do
British Council, agência britânica internacional encarregada pelos intercâmbios
educacionais e relações culturais.
Para Kellner, as doações
realizadas pelos brasileiras são muito fracas, bem abaixo das expectativas.
— No nosso país não há o
costume do mecenato, o costume de doar. Também não existem reduções de impostos
para esse tipo de doações como nos Estados Unidos e na França. O governo
brasileiro deveria aprender com isso — sugere.
O Ministério da Educação
desbloqueou R$ 10 milhões para trabalhos
de urgência que permitiram preservar a estrutura do prédio, mas outros fundos
públicos prometidos ainda não chegaram.
Kellner aguarda
especialmente R$ 55 milhões de uma
reserva parlamentar solicitada pelos deputados do Rio de Janeiro.
No começo de abril, os
investigadores concluíram que o fogo começou no sistema de refrigeração e se
propagou rapidamente pela falta de equipamentos de combate a esse tipo de
acidente.
Desde o incêndio, dezenas de
paleontólogos e arqueólogos trabalham na busca de vestígios e materiais entre
os escombros.
Cerca de 2.000 peças, das 20
milhões que compõem o acervo do museu, foram encontradas, entre elas sua
principal atração: Luzia, um fóssil humano de 12.000 anos.
*Conteúdo ‘’O
Globo’’
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