Conteúdo: O Globo
O ministro Osmar Terra Foto: O Globo
Mudanças na lei que garante
uma grande parte da produção cultural do Brasil começaram a ser anunciadas para
valer na segunda-feira. Em vídeo publicado às 18h na página de Facebook do
Ministério da Cidadania, o ministro Osmar Terra explica algumas das diretrizes
da Lei de Incentivo à Cultura - o nome Lei Rouanet não será mais usado.
As mudanças serão feitas por
meio de uma instrução normativa a ser publicada quarta-feira no Diário Oficial
da União. Assim que isso ocorrer, elas terão validade imediata e nem precisarão
ser referendadas pelo Congresso.
Conforme anunciado há duas
semanas pelo presidente Jair Bolsonaro, o limite para captação de recursos pela
lei vai baixar de R$ 60 milhões para R$ 1 milhão por projeto. Já uma mesma
empresa que apresentar várias propostas diferentes poderá receber, quando
somados todos os eventos patrocinados, até R$ 10 milhões por ano. O teto, nesse
caso, também era de R$ 60 milhões.
Haverá algumas exceções.
Feiras de livros e festas populares, como o Festival Folclórico de Parintins,
no Amazonas, e o Natal Luz, em Gramado (RS), poderão captar até R$ 6 milhões.
Restauração de patrimônio tombado, construção de teatros e cinemas em cidades pequenas,
e planos anuais de entidades sem fins lucrativos, como museus e orquestras,
também estão fora do limite de R$ 1 milhão, mas não há detalhes do teto para
esses casos.
— Com isso, vamos enfrentar
a concentração de recursos nas mãos de poucos. Com o mesmo dinheiro, mas melhor
distribuído, vamos ter muito mais atividades culturais e artistas apoiados,
dando oportunidade para os novos talentos — disse Terra, a quem a Secretaria de
Cultura é subordinada.
Mais ingressos gratuitos
A cota de ingressos gratuitos,
que hoje é de 10%, deverá ficar entre 20% e 40%. Além disso, o valor dos
ingressos populares terá que baixar de R$ 75 para R$ 50. Também haverá editais
focados no incentivo à cultura regional, em parceria com as empresas estatais,
e estímulo para que as 25 unidades da federação, com exceção de São Paulo e Rio
de Janeiro, tenham mais recursos. O objetivo é desconcentrar os projetos
patrocinados, que em sua maioria estão atualmente nesses dois estados.
Outro ponto citado é que os
beneficiados pelos repasses terão que fazer ação educativa em escolas ou na
comunidade, em parceria com as prefeituras.
Terra afirmou ainda que as
prestações de contas já feitas, tanto na Secretaria de Cultura como em outras
áreas sob o guarda-chuva do Ministério da Cidadania, serão "passadas a
limpo" por um comitê. E que as prestações de contas daqui para a frente
serão feiras "praticamente" em tempo real na internet.
— Os brasileiros, que estão
cansados de ouvir falar dos abusos no uso dos recursos da Lei Rouanet, podem
ter certeza que isso está acabando. Vamos enfrentar a concentração de recursos
públicos beneficiando poucos. Nossa nova lei de incentivo vai aumentar o acesso
da população brasileira à cultura, especialmente para as pessoas mais pobres.
Nossas ações também terão foco no estímulo ao surgimento de novos talentos, no
fortalecimento de ações de inclusão social, formando profissionais na área
artística e promovendo a cultura popular — disse Terra, que não quis dar
entrevista sobre o assunto nesta segunda-feira.
Musicais liquidados?
O ex-ministro da Cultura
Sérgio Sá Leitão, atual secretário de Cultura de São Paulo, se manifestou sobre
alguns aspectos divulgados num programa do Movimento Brasil Livre (MBL) no
YouTube:
— Há um mito muito grande em
relação à concentração no Rio e em São Paulo. Como o mecanismo é baseado em
imposto de renda, tende a reproduzir a concentração econômica no país. Além
disso, restringir isso, criar teto para aquilo... Isso é uma dose de dirigismo.
Há uma ilusão de que ao restringir investimentos em determinados projetos vai
fazer com que se consiga democratizar o acesso.
Já Eduardo Barata,
presidente da Associação de Produtores Teatrais no Rio de Janeiro, diz que “a
mudança é a maior ação de marketing de um governo que vi em 32 anos de carreira”.
— Boa parte do que foi
anunciado está na Instrução Normativa de 2017. Da forma como foi feito, quem
sofre são os grandes musicais. Está certo que R$ 60 milhões é muito, mas um
milhão é um pouco de menos. Porque essas produções empregam uma galera.
Sá Leitão concorda:
— Temos que pensar: o que o
país ganha liquidando os musicais? O Brasil é o terceiro maior mercado de
musicais no mundo.
Presidente da Associação
Brasileira de Cineastas (Abraci), Daniel Caetano pondera:
— Perto de outras reformas
propostas por outros ministérios, essa surpreende pela relativa razoabilidade.
Me parece excessivo reduzir os limites de teto dos projetos de forma tão
abrupta. Mas os princípios de democratizar e regionalizar patrocínios são bem
razoáveis.
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