Por: Pedro Henrique de Melo Andrade (Pedrin)
Recentemente, o Brasil está sendo palco para grandes eventos
que recebem turistas do mundo inteiro, como por exemplo, o Lollapalooza, que
foi 3 dias de festival com artistas nacionais e internacionais dos mais
variados estilos. Uma das características da festa, que mais chamou atenção e
despertou comentários nas redes sociais, foi o elevado preço da entrada. No
Lollapalooza, o Lollapass(ingresso para os 3 dias de evento) chegou a custar
R$1560,00. Os preços exorbitantes não pararam na entrada, dentro do festival,
um simples pastel custou 20 reais e uma cerveja, 13$. Isso no mesmo país onde
5,2 milhões de pessoas passam fome e mais de 12 milhões estão desempregados,
ressuscitando o antigo, porém atual, debate
sobre as desigualdades sociais.
Como foi dito, os preços exorbitantes geraram diversos
comentários, entre eles, um que gerou controvérsias foi a respeito dessa
relação que contém uma falácia sobre a interpretação do cenário atual,
‘‘...esse povo tem dinheiro para ir no
Lollapalooza, mas não tem dinheiro pra comer, fica na fila para entrar no festival, mas chega atrasado para o
Enem’’. Partindo de situações e dados verdadeiros podemos chegar em uma
conclusão falsa.
Ao analisar o cenário brasileiro, vemos claramente que a
situação de desigualdade é acentuada em nosso país e não podemos comparar
pessoas as quais suas condições são totalmente diferentes.’’ ’Exigir’ respostas
iguais em cenários opostos é uma falha e vício do nosso sistema’’, segundo o
professor da USP, Renato Janine.
“Vivemos uma crise econômica
recente muito severa que gerou uma onda de desemprego. Essa onda reduziu a
renda geral do Brasil, sobretudo a renda da base da pirâmide social, os
primeiros a sofrerem nos tempos de crise. E como efeito, houve aumento da
desigualdade da renda do trabalho, aumento da pobreza e a estagnação da
equiparação de renda entre os gêneros, além de um recuo na equiparação de renda
de negros e brancos. Esse cenário é o que compõe o país estagnado estampado
pelo relatório”, segundo relatório e coordenador de campanhas da organização no
Brasil, Rafael Georges.
Em 2017, os 50% mais pobres
da população brasileira sofreram uma retração de 3,5% nos seus rendimentos do
trabalho. A renda média da metade mais pobre da população foi de R$ 787,69
mensais, menos que um salário mínimo. Por outro lado, os 10% de brasileiros
mais ricos tiveram crescimento de quase 6% em seus rendimentos do trabalho. A
renda média dessa parcela da população foi de R$ R$ 9.519,10 por mês, conforme
dados da PNAD/IBGE.(Dados retirados de Agência Brasil)
Para aqueles que possuem uma
compreensão melhor dos fatos através de gráficos e índices, o ‘’índice de
Gini’’ é extremamente didático e expõe bem a dimensão das desigualdades no
Brasil. A medição do índice de Gini
obedece a uma escala que vai de 0 (quando não há desigualdade)
a 1(com desigualdade máxima), que são dois números cujos valores jamais
serão alcançados por nenhum lugar, pois representam extremos ideais. ‘‘Nesse
sentido, quanto menor é o valor numérico do coeficiente de Gini, menos desigual
é um país ou localidade.’’
Graficamente, a interpretação
do coeficiente de Gini é encontrada partindo da chamada curva de Lorenz, a
qual apresenta a proporção acumulada de renda em função da proporção acumulada
da população. Observando o gráfico a seguir, considera-se que a reta
representaria a perfeita igualdade e que qualquer ponto em y(vertical)
corresponde a um igual valor no eixo x(deitado). Portante, o país verde(País B)
é mais desigual que o azul(País A), por estar mais longe da situação ‘’ideal’’
No Brasil, o coeficiente de Gini mostra uma realidade delicada. O Brasil é o
nono país mais desigual do
mundo, segundo dados divulgados no
Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH), elaborado pelas Nações Unidas,
calculado a partir do Índice de Gini. O que é esquematizado pelo mapa mundi
abaixo.(Quanto mais avermelhado maior a desigualdade).
Consequências da desigualdade.
Percebe-se, através de
estudos feitos pelo economista Thomas Coutrot, que os países onde a
desigualdade social é elevada, também registram índices igualmente elevados de
outros fatores negativos, tais como: violência e criminalidade, desemprego,
desigualdade racial, guerras, educação precária, , diferenciação de tratamento
entre ricos e pobres, entre outros. Ou seja, os impactos não são restringidos
apenas às classes mais baixas, mas a sociedade como um todo.
Portanto, é necessário ficar
atento às perspectivas e aos dados que são apresentados de um cenário para
melhor interpretá-los. A realidade do Brasil e as vendas do Lollapalooza não
afirmam que estamos em uma sociedade ignorante e acomodada no ‘‘pão e circo’’,
mas sim, em uma situação crítica de desigualdades e má atuação dos nossos
governantes para combatê-la, independente de partido ou direcionamento
ideológico.
Fonte de pesquisas:
- A Economia da Desigualdade – Thomas Piketty
- Agência Brasil
- Valor Econômico
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