País teve 10.324 mortes
violentas em janeiro, fevereiro e março. Apenas o Paraná não informa os dados.
No mesmo período de 2018, houve 13.552 assassinatos. Índice nacional de
homicídios criado pelo G1 acompanha os crimes violentos mês a mês. Queda nos
assassinatos já tinha sido antecipada pelo Monitor com o balanço de 2018 e do
primeiro bimestre deste ano.
Por G1
Reprodução G1
O Brasil registra uma queda
de 24% nas mortes violentas no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo
período do ano passado. É o que mostra o índice nacional de homicídios criado
pelo G1, com base nos dados oficiais
dos 26 estados e do Distrito Federal.
Isso quer dizer que o país
teve 3,2 mil mortes violentas a menos em janeiro, fevereiro e março deste ano
em relação a 2018. O número de assassinatos, porém, continua alto.
A tendência de queda nos
homicídios do país foi antecipada pelo G1
no balanço dos dois primeiros meses do ano, que apresentaram redução de 25% em
relação ao mesmo período do ano passado, e no balanço das mortes violentas de
2018, que teve a maior queda dos últimos 11 anos da série histórica do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, com 13%.
De acordo com o novo
levantamento feito pelos repórteres do G1,
houve 10.324 mortes violentas no primeiro trimestre deste ano. Apenas o Paraná
não informa os dados deste intervalo de tempo. Já no mesmo período de 2018,
houve 13.552 assassinatos — também desconsiderando o Paraná, para que seja
feita a comparação.
O governo do Paraná informa
que os números de janeiro, fevereiro e março ainda estão sendo tabulados para
posterior divulgação.
O levantamento faz parte do
Monitor da Violência, uma parceria do G1
com o Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Os dados apontam que:
·
Houve 3.228 mortes a
menos no 1º trimestre de 2019
·
Todos os estados do
país apresentaram redução de assassinatos no 1º trimestre
·
Quatro estados
tiveram quedas superiores a 30%: Ceará, Amapá, Sergipe e Rio Grande do Norte
·
Em números absolutos,
o estado com a maior redução foi o Ceará, com 691 vítimas a menos
Brasil registra redução no
número de mortes violentas no 1º trimestre — Foto: Igor Estrella e Guilherme
Gomes/G1
Causas
Entre os motivos por trás da
queda, segundo o pesquisador do NEV-USP Bruno Paes Manso e o diretor-presidente
do FBSP Renato Sérgio de Lima, estão:
·
Diminuição da tensão entre as facções depois da crise nos
presídios
"A rebelião de presos
no Amazonas, Roraima e Rio Grande do Norte, em janeiro de 2017, atiçou a
rivalidade entre grupos criminais, principalmente nos estados do Norte e
Nordeste, onde o mercado de drogas e o interior dos presídios já era bastante
competitivo e violento. A velocidade dos conflitos e a tensão nos presídios foi
diminuindo ao longo de 2017 e 2018 com a interrupção de novos massacres."
·
Mais instrumentos para atuar no comando das facções
"As autoridades
estaduais passaram a ter mais instrumentos para atuar diretamente nas cadeias
de comando nas prisões que davam os rumos dos conflitos criminais. Como o novo
modelo de negócios criminais parte de decisões tomadas no interior dos presídios,
as lideranças ficaram mais vulneráveis a ações do estado por meio de punições e
transferências para presídios federais. Fica, portanto, mais difícil para esses
grupos persistirem com os conflitos."
·
Crise de 2017 como ponto de alerta
"A crise de 2017 fez com
que os governos estaduais assumissem a nova configuração criminal em seus
estados, articulada a partir dos presídios. A necessidade de interrupção das
cadeias de comando vindas do sistema penitenciário se tornou preocupação
urgente, aproximando autoridades de diferentes instituições, como Ministério
Público e Executivo."
·
Compartilhamento de políticas públicas entre todas as
esferas
"Essas políticas
compartilhadas que passam pela coordenação e integração de esforços entre
União, DF, estados e municípios já vinham sendo articuladas desde a criação dos
Gabinetes de Gestão Integradas, criados durante a Copa do Mundo de 2014. A
crise dos presídios e o crescimento da violência em 2017 acabou provocando
essas esferas de diferentes poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) e
órgãos do estado (ministérios públicos, polícias, defensorias, guardas
municipais, entre outros) a trabalharem juntas na tentativa diminuir uma
situação que ameaçava fugir do controle."
·
Interesses mútuos dos governos e das facções
"A redução dos
conflitos e da violência interessava também às próprias facções, que, por
atuarem em mercados rentáveis, têm muito dinheiro a perder com os custos
envolvidos nas disputas com rivais. Nesse sentido, o esforço do Estado para
cessar a crise ia ao encontro do interesse das organizações, que preferem
ganhar dinheiro com o crime do que se envolver em conflitos predatórios e
caros."
·
Programas estaduais de redução da violência
"Houve um empenho
localizado dos estados na execução de programas de redução da violência letal
conforme suas realidades orçamentárias. Pernambuco revisou estratégias e
retomou o Pacto pela Vida, programa premiado de redução de violência. No
Recife, o Centro Comunitário da Paz (Compaz), ganhou destaque nas políticas
públicas. Em Alagoas, o governo estadual implantou o Programa Força Tarefa, que
busca esforços conjuntos. No Acre, o Ministério Público estadual passou a
auditar as estatísticas policiais e cobra medidas quase que em tempo real
quando ajustes são necessários, aumentando a ideia de planejamento integrado.
Em Santa Catarina, a Polícia Militar tem investido em câmeras corporais
instaladas nas fardas dos policiais, bem como em tablets de registro de
ocorrências, programas de vizinhança que utilizam o WhatsApp para comunicação instantânea
e já atingem uma rede de mais de 100 mil pessoas; e em operações 'ferrolho',
que mapeiam todas as rotas e caminhos possíveis para a entrada de drogas e
armas no estado. No Rio Grande do Norte, após as crises prisionais, o governo
federal manteve ações durante um período prolongado no estado. No Rio Grande do
Sul, programas de prevenção como o POD (Programa de Oportunidades de Direitos)
foram acelerados, e o mais importante: investimentos na criação de área
integradas entre a Polícia Civil e a Brigada Militar foram priorizados."
·
Criação do Sistema Único de Segurança Pública
"Todos esses esforços
resultaram na criação, no meio de 2018, do Susp (Sistema Único de Segurança
Pública). Durante o ano, as eleições acabaram servindo como instrumento de
pressão para os governos liberarem recursos para o setor, já que o tema era
visto como prioritário para o eleitorado. Em dezembro de 2018, o país ganhou
uma Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social pautada, exatamente,
na articulação federativa e republicana; na ideia de que uma nova governança da
segurança pública é necessária e possível."
·
Pressão da opinião pública
"A pressão exercida por
projetos como o Monitor da Violência, que passou a cobrar das autoridades
estaduais a publicação de dados sobre homicídios e a ouvi-los sobre os
resultados de suas políticas, expôs esses agentes à opinião pública. A rotina
estabelecida na produção de informações acaba criando uma nova cultura para
lidar com o problema, que passa a ser mais bem diagnosticado e enfrentado com
maior inteligência e estratégia. Outros instrumentos importantes que já
realizavam essa cobrança eram o Anuário Brasileiro de Segurança Pública e o
Atlas da Violência, produzidos pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública
(parceiro do Monitor da Violência) e pelo Instituto de Pesquisas Aplicadas
(Ipea)."
Ceará: a maior redução
Assim como no balanço do
primeiro bimestre deste ano, o Ceará teve a maior queda no número de mortes
violentas do país: 56%. O estado teve 546 assassinatos no primeiro trimestre de
2019, contra 1.237 no mesmo período do ano passado.
Em janeiro, o Ceará teve
centenas de ataques coordenados por facções criminosas por conta de medidas
anunciadas no governo para tornar a fiscalização nos presídios mais rígidas.
Por isso, para o pesquisador Luiz Fábio Paiva, do Laboratório de Violência da
Universidade Federal do Ceará (UFC), o que houve no estado foi "um regime
de não conflito" entre as facções criminosas.
"Quando o Ceará estava
sob forte ataque, era observado que havia situações que demonstravam um certo
nível de cooperação desses grupos, sobretudo permitindo que determinados
membros de uma facção passassem pelo território do outro sem sofrer alguma ação
violenta", diz Paiva.
De acordo com o secretário
da Segurança Pública do estado, André Costa, a redução do número de homicídios
ocorre desde 2018 devido a um "conjunto de ações" elaboradas em 2017.
Entre as estratégias, diz, estão o combate à "mobilidade do crime",
evitando furto e roubo de veículos e recuperando automóveis roubados;
investimento em ciência e tecnologia para estudar a atuação de criminosos; e
ações da Secretaria da Administração Penitenciária, que dificultam a
comunicação de presidiários que comandam facções criminosos e ordenam crimes de
dentro das prisões.
Como o levantamento é feito
A ferramenta criada pelo G1 permite o acompanhamento dos dados
de vítimas de crimes violentos mês a mês no país. Estão contabilizadas as
vítimas de homicídios dolosos (incluindo os feminicídios), latrocínios e lesões
corporais seguidas de morte. Juntos, estes casos compõem os chamados crimes
violentos letais e intencionais.
Jornalistas do G1 espalhados pelo país solicitam os
dados, via assessoria de imprensa e via Lei de Acesso à Informação, seguindo o
padrão metodológico utilizado pelo fórum no Anuário Brasileiro de Segurança
Pública.
Em março, o governo federal
anunciou a criação de um sistema similar. Os dados, no entanto, não estão
atualizados como os da ferramenta do G1.
O último mês disponível é dezembro de 2018.
Os dados coletados mês a mês
pelo G1 não incluem as mortes em
decorrência de intervenção policial. Isso porque há uma dificuldade maior em
obter esses dados em tempo real e de forma sistemática com os governos
estaduais. O balanço de 2018 foi publicado pelo Monitor da Violência
separadamente, em abril.
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