Evento em shopping de Cuiabá
foi realizado com autorização judicial e em parceria com a OAB-MT. Para
advogado, ação foi equivocada e se assemelha à venda de escravos.
Desfile foi realizado em
shopping de Cuiabá. — Foto: Divulgação
Um desfile de crianças e
adolescentes de 4 a 17 anos que aguardam adoção promovido em um shopping de
Cuiabá nesta terça-feira (21) foi alvo de críticas nas redes sociais. A
Associação Mato-grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (Ampara), que organizou
o evento, defendeu a iniciativa, citando que ela promove a "convivência
social" e "mostra a diversidade da construção familiar".
O desfile, que aconteceu
pela segunda vez e faz parte das ações ligadas à Semana da Adoção, foi feito em
parceria com a Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da Ordem dos Advogados do
Brasil Seccional Mato Grosso (OAB-MT).
A realização foi autorizada
pela juíza Gleide Bispo Santos, da 1ª Vara Especializada da Infância e
Juventude de Cuiabá.
Ao portal de notícias G1, a presidente da Ampara, Lindacir
Rocha, disse que o projeto dá aos jovens a oportunidade de integrar uma
convivência social "em um mundo que
os trata como se fossem invisíveis".
Segundo ela, será realizada
uma exposição fotográfica com as crianças e adolescentes, com o objetivo de
mostrar também a diversidade da construção familiar por meio da adoção.
Em nota, a Ampara informou:
"A OAB-MT e a Ampara repudiam qualquer tipo de distorção do evento
associando-o a períodos sombrios de nossa história e reitera que em nenhum
momento houve a exposição de crianças e adolescentes".
O trecho é uma referência a
críticas em redes sociais feitas pelo advogado e membro da Academia
Mato-grossense de Letras Eduardo Mahon, que comparou o desfile às antigas
feiras em que escravos era comercializados (leia mais abaixo).
O comunicado da entidade
também diz: "Nenhuma criança ou adolescente foi obrigado a participar do
evento e todos eles expressaram aos organizadores alegria com a possibilidade
de participarem de um momento como esse".
"Crianças e
adolescentes que desfilaram o fizeram na companhia de seus 'padrinhos' ou com
seus pais adotivos. A realização do evento ocorreu sob absoluta autorização
judicial conferida pelas varas da Infância e Juventude de Cuiabá e Várzea
Grande, bem como o apoio do Poder Judiciário", acrescenta o texto.
'Adoção tardia'
Em novembro de 2016, quando
a primeira edição do desfile foi realizada, dois adolescentes foram adotados.
Lindacir Rocha cita ainda a
questão da adoção tardia, que faz com que sejam urgentes medidas como a Semana
da Adoção, que tornam público o que ela considera um problema social.
O Relatório de Dados
Estatísticos do Cadastro Nacional de Adoção do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ) informa que, no Brasil, 8,7 mil crianças e adolescentes aguardam por uma
família.
Shopping diz repudiar
'objetificação de crianças e adolescentes'
Em nota, o shopping onde foi
realizado o desfile afirma que repudia a objetificação de crianças e
adolescentes e esclarece que o único intuito em receber a ação foi contribuir
com a promoção e conscientização sobre adoção e os direitos da criança e
adolescente com palestras e seminários conduzidos por órgãos competentes que
possuem legitimidade no assunto.
O shopping afirma que a ação
foi promovida pela Ampara em parceria com Comissão de Infância e Juventude
(CIJ) da OAB-MT e reitera que o evento contou ainda com o apoio do Ministério
Público Estadual (MPE), Poder Judiciário de MT, governo estadual, Secretaria
Estadual de Assistência Social e Cidadania, Sindicato dos Oficiais de Justiça,
Associação Nacional do Grupo de Apoio à Adoção e Conselho Estadual dos Direitos
da Criança e do Adolescente, além do Tribunal de Justiça do Mato Grosso.
O Tribunal de Justiça não se
posicionou oficialmente sobre o assunto e afirmou, por meio da assessoria, que
ainda não foi definido se haverá ou não uma resposta à imprensa.
Críticas
Membro da Academia
Mato-grossense de Letras (AML), o advogado Eduardo Mahon criticou o desfile e
classificou o evento como ação equivocada.
"Um desfile de crianças
a serem adotadas, me pareceu análogo a uma antiga feira de escravos.
Evidentemente que guardadas as proporções, porque não é justo que haja essa
comparação, eu reconheço. Mas não me pareceu eticamente o melhor caminho",
afirmou em entrevista ao G1.
Ele elogiou, porém, o
trabalho realizado pela Ampara: "Acho que eles são profundamente
comprometidos com a questão da adoção, bem como todos os parceiros que a
instituição envolve".
Para Mahon, a exposição das
crianças no shopping é uma experiência negativa para elas.
"Do meu ponto de vista,
não é permitido esse tipo de exposição, envolvendo uma questão legal, que eu
não quero entrar. Quero falar do trabalho de eficiência que eles estão querendo
imprimir. É preciso uma certa delicadeza para projetar o que é que fica
aparecendo e projetar também como é que fica a cabeça dessas crianças daqui a
15 anos. Um shopping é um local essencialmente comercial", disse Mahon.
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