Levantamento socioeconômico
entrevistou 487 pessoas do total de 10,5 mil imigrantes no país. Estudo mostra
ainda que 92% fala português.
Refugiados que vivem no
Brasil têm escolaridade acima da média brasileira, mas são mais afetados pelo
desemprego e poucos conseguem revalidar o diploma no país, de acordo com um
levantamento inédito feito pela Agência da ONU para Refugiados (Acnur).
O relatório, divulgado nesta
quinta-feira (30), entrevistou 487 imigrantes que foram forçados a deixar seu
país de origem e, agora, vivem em 14 cidades brasileiras (veja detalhes
abaixo). Juntos, esses municípios concentram 94% dos refugiados sob proteção do
governo federal. No Brasil, até o ano passado, o Ministério da Justiça
reconheceu 10,5 mil pessoas nessa condição.
Segundo o documento, 34% dos
refugiados ouvidos na pesquisa concluíram o ensino superior, e 3% já cursaram
alguma pós-graduação – especialização, mestrado ou doutorado. Entre a população
brasileira acima de 25 anos, apenas 15% concluíram o mesmo nível de ensino.
"Os refugiados
demonstram elevado capital linguístico e capital escolar acima da média
brasileira, ou muito acima se considerarmos apenas a população brasileira negra
e parda", aponta o documento.
Apesar do número de
diplomados vindos para o Brasil, os refugiados se deparam, contudo, com
dificuldades na revalidação dos diplomas. Entre os entrevistados – pessoas
acima de 18 anos–, apenas 14 conseguiram aproveitamento dos anos de estudos,
contra 133 que não conseguiram.
Além disso, 92% do total
declarou falar português. Para os especialistas, a alta taxa de escolaridade é
um "estímulo à continuação dos estudos no Brasil". Para esta
pesquisa, no entanto, foram excluídos refugiados nascidos em Angola – por já
falarem o português.
Mercado de trabalho
Os dados mostram ainda que
mais da metade (57%) dos entrevistados estavam trabalhando entre junho de 2018
e fevereiro de 2019. Neste grupo, 22% desempenham algum tipo de atividade
empresarial, o que revela que entre esse público, "o empreendedorismo não
é apenas um sonho, mas uma realidade", diz o documento.
Dentre 462 refugiados que
responderam a respeito, 315 (68%) não atuavam em suas áreas de formação. Para a
ONU, o índice elevado pode ser resultado da "falta de informações ou pelo
baixíssimo número daqueles que conseguiram revalidar seus diplomas" –
apenas 14 casos.
No outro extremo, 19%, ou 95
refugiados, estavam desempregados neste período. O índice é superior à média
nacional – de 12%, em março. Além disso, ficou constatado que 25% dos
imigrantes forçados recebidos pelo Brasil estão fora do mercado de trabalho, ou
seja, desocupados e não procuraram emprego.
Para a ONU, o número é
"bastante preocupante" por se tratar de uma população vulnerável.
"Trata-se de população obrigada a deixar seu país de origem em condições
de grande fragilidade e que não está conseguindo gerar renda no país de
destino", destaca o documento.
Por outro lado, 26
entrevistados (5%) declararam-se "ocupados com afazeres domésticos" e
3 refugiados (0,6%) são aposentados ou pensionistas. Por fim, 42 pessoas acima
de 18 anos se identificaram como estudantes e, por isso, não estavam
trabalhando nem procurando emprego.
Renda média
Para medir a qualidade de
vida dos entrevistados, a Acnur também analisou a renda domiciliar mensal dos
cerca de 500 refugiados que vivem em setes estados brasileiros e no Distrito
Federal.
Sobre esse quesito, 79% dos
imigrantes possuem renda inferior a R$ 3 mil, sendo que 30% deles vivem com
menos de R$ 1 mil por mês. Outros 20% recebem acima de R$ 3 mil.
Quem são?
A pesquisa entrevistou 497
refugiados que vivem no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina,
Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Amazonas e no Distrito Federal.
Entre esses imigrantes, a
origem configura em, majoritariamente, quatro países: Síria, República
Democrática do Congo, Angola e Colômbia. Em 83% dos casos, a autorização de
refúgio foi concedida a partir de 2010.
Conteúdo por ‘’G1’’
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