O vírus do mayaro, doença
com sintomas semelhantes aos da chikungunya e também transmitida por mosquitos,
já circula no interior do Estado de São Paulo. Pesquisadores da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto detectaram
anticorpos do vírus ao analisarem 5,6 mil amostras de doadores do banco de
sangue de São Carlos.
Em 36 amostras, foram encontrados
dois tipos de anticorpos para a doença. O vírus é transmitido por um mosquito
silvestre e, como a maioria dos doadores não notificou viagens para regiões
endêmicas, a conclusão é de que há circulação local do mayaro.
São Paulo é o segundo Estado
com possível circulação do mayaro. Recentemente, foi constatada a presença no
Rio de Janeiro. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, informou que o
Ministério vai expedir nota técnica ao sistema de saúde orientando sobre o
vírus. “A gente deve mandar uma nota técnica, mas o comportamento de virose é
muito similar aos outros, embora com as suas peculiaridades.”
O ministro não vê motivo
para alarme. “É um vírus muito similar aos da chikungunya, da dengue, da zika,
transmitidos pelo Aedes. Não muda nada. A estratégia é combater o vetor,
continuar o controle do Aedes, que pode se tornar um transmissor também desse
vírus, assim como transmite os outros.”
Conforme o professor Luiz
Tadeu de Morais Figueiredo, diretor do departamento de virologia da USP em Ribeirão
Preto e coordenador da pesquisa, é possível que parte dos casos de dengue e
chikungunya registrados na região sudeste do País sejam, de fato, casos de
mayaro. “Como achamos lá (São Carlos), a gente supõe que os casos estejam
acontecendo em muitos outros lugares, por isso é preciso investigar. Embora
tenha sintomas parecidos com outras doenças, o mayaro é outro vírus. A saúde
pública e os médicos precisam pensar nele quando se deparam com um paciente com
sintomas.”
Mosquito Aedes aegypti
também pode se tornar vetor de doença
A circulação do vírus já
havia sido detectada no Rio de Janeiro por pesquisadores da Universidade do Rio
de Janeiro (UFRJ). Figueiredo acredita que a doença passou desapercebida em São
Paulo e defende a adoção de métodos para seu diagnóstico pelos laboratórios. “O
que os olhos não veem o coração não sente, então o paciente, sem informação,
não sabe que doença pegou. É preciso divulgar e fazer o diagnóstico. Ainda não
existe kit comercial para isso, mas já tem algo em desenvolvimento.”
Segundo ele, três
laboratórios públicos brasileiros estão preparados para isso: Adolfo Lutz, em
São Paulo; Fiocruz, no Rio de Janeiro, e Evandro Chagas, em Belém. Ele defende
que a tecnologia seja repassada a outros laboratórios para enfrentamento mais
rápido da nova doença. O mayaro é transmitido principalmente pelo mosquito
Haemagogus janthinomys, endêmico da região amazônica.
Conforme o pesquisador,
especialista em virologia, o mayaro é uma zoonose transmitida para o macaco,
como a febre amarela, mas pode também ser transmitida para o homem, ao ser
picado pelo mosquito infectado pelo vírus. “Não é uma doença urbana, mas tem o
risco de se tornar, pois o Aedes aegypti pode transmitir. Esses vírus são muito
adaptáveis, então é preciso preparar os mecanismos de prevenção.” O vírus foi
descoberto em 1955 e sua presença no Brasil estava restrita à Amazônia.
O secretário de Saúde do
Estado de São Paulo, José Henrique Germann Ferreira, disse que ainda é precoce
ter uma preocupação maior com essa doença. “É mais uma virose e vamos ficar
atentos. No momento, temos uma preocupação maior com as doenças que já estão
aí, como a dengue e a chikungunya, mas estamos com um combate firme ao
mosquito.”
Conforme o pesquisador da
USP, a febre do mayaro tem sintomas muito parecidos com os da chikungunya,
transmitida pelo mosquito Aedes aegypti: febre alta, dores musculares, de
cabeça e nas articulações.
Os sintomas desaparecem com
o tempo, mas pode haver complicações graves, como hemorragia e problemas
neurológicos. O ciclo é parecido com o da febre amarela: o mosquito com o vírus
mayaro infecta o ser humano ou um macaco. Esses hospedeiros podem ser picados
por outro inseto que recebe o vírus e o passa para a frente. Para todas essas
doenças, a melhor forma de prevenção é evitar o contato com o mosquito. No caso
do mayaro, é importante evitar áreas de mata.
Saiba as diferenças entre as doenças
Dengue: a dengue é
transmitida pelo Aedes aegypti e tem como sintomas principais febre alta (acima
de 38 graus), dores musculares intensas, dor ao movimentar os olhos, mal estar,
falta de apetite, dor de cabeça e manchas vermelhas no corpo. Os sintomas duram
de 2 a 7 dias e podem gerar complicações, como dor abdominal, vômito e
sangramento mas mucosas. Não há vacina na rede pública.
Zika: o vírus da zika é
transmitido pelo Aedes aegypti, mas também pode ser passado por sexo sem
proteção e pela mãe, para o feto, na gravidez. Os sintomas são febre baixa, dor
de cabeça, dores no corpo e nas juntas, manchas vermelhas no corpo e olho
vermelho. Os efeitos duram de 3 a 7 dias e há risco de complicações, como
encefalite, síndrome de Guillain-Barré, doenças neurológicas e microcefalia.
Não há vacina.
Chikungunya: a chikungunya,
transmitida pelo Aedes aegypti, tem como sintomas febre alta (acima de 38
graus), pele e olhos avermelhados, coceira, dor de cabeça e dores no corpo. O
diferencial em relação à zika e a dengue são as dores nas articulações,
principalmente joelhos e pulsos. Os sintomas durante até 15 dias e pode gerar
complicações, como encefalite, síndrome de Guillain-Barré e complicações
neurológicas.
Mayaro: o vírus do mayaro é
transmitido pela picada do Haemagogus janthinomys, que prolifera na copa das
árvores, em áreas de mata. Os sintomas são febre alta (acima de 38 graus), dor
de cabeça, dor muscular, manchas no corpo e, como na chikungunya, dor e inchaço
nas articulações. A duração chega também a 15 dias. Pode resultar em
complicações, como encefalite e artrite crônica. Não há vacina.
*Com Estadão Conteúdo
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