No Brasil, crianças pobres
se alfabetizam um ano mais tarde que as mais ricas, diz o economista-chefe do
Instituto Ayrton Senna, Ricardo Paes de Barros - José Cruz/Agência Brasil
Mais da metade das crianças
brasileiras chegam ao final do 3° ano do ensino fundamental sem saber ler e
compreender textos variados, o que prejudica o aprendizado dos demais
componentes curriculares nas diferentes etapas de formação. É o que revela a
Avalição Nacional de Alfabetização (ANA 2015). Este e outros desafios do século
21 na alfabetização estão sendo debatidos hoje (10) pelo Instituto Ayrton
Senna, que reuniu educadores e especialistas na área para apresentar possíveis
caminhos e políticas públicas para que crianças e jovens tenham oportunidade de
desenvolver todo seu potencial.
O economista-chefe do
Instituto Ayrton Senna, Ricardo Paes de Barros, apresentou um diagnóstico da
alfabetização no Brasil, no qual um dos dados preocupantes é que crianças pobres
se alfabetizam um ano mais tarde do que as ricas. "No nosso sistema educacional,
a alfabetização desnivela o ponto de partida, o que é péssimo para quem
acredita que a educação é a base para construir uma sociedade mais
igualitária", afirmou Barros.
Para o economista, o
analfabetismo tem grande impacto enorme sobre o que acontece no dia a dia.
"Na hora em que a pessoa sai de casa, vai fazer uma compra, vai pegar um
ônibus. Enfim, tem uma consequência de longa duração naquilo que a pessoa vai
conseguir alcançar no seu projeto de vida."
O diagnóstico mostra que, no
Brasil. 55% das crianças ao final do 3° ano têm proficiência inadequada em
leitura e 54% em matemática. A Meta 5 do Plano Nacional de Educação (PNE) é
alcançar 0% em 2024.
"Os resultados [do
diagnóstico] mostram a importância da alfabetização. E é importante perceber
que o número de matrículas está caindo acentuadamente por causa da transição
demográfica e porque estamos reduzindo a taxa de distorção idade/série",
disse o economista. Ele acrescentou que, com isso, haverá cada vez menos
crianças para ser alfabetizadas. "Com o aumento das funções docentes e da
qualificação dos professores e com a estabilidade no gasto com a educação,
vamos ter mais oportunidades para gerar uma alfabetização de melhor
qualidade", afirmou o economista.
Barros ressaltou que, ainda
assim, há municípios que conseguem alfabetizar com recursos muito limitados.
"Mesmo assim, [essas cidades] conseguem ter um sistema muito resiliente e
conseguem alfabetizar as crianças de maneira impressionante."
Um desses municípios é
Sobral, no Ceará. Na reunião desta segunda-feira, o prefeito Ivo Gomes falou
sobre as experiências que Sobral fez para mudar as baixas taxas de
alfabetização no municípios. Em 2000, a taxa de abandono escolar nos anos
iniciais era de 6,74% e de 21,14% nos anos finais. No ano passado, a taxa mudou
para 0% e 0,10%, respectivamente.
"O município tem criado
metas para que o aluno possa superar a média brasileira em leitura, matemática
e ciencias", disse Ivo Gomes. Segundo o prefeito, o município tem
trabalhado no fortalecimento da gestão escolar e da ação pedagógica e na
valorização do magistério. "O professor é o coração do sistema público de
ensino", enfatizou.
Para Gomes, isso se deve à
vontade de melhorar o ensino. "Na educação não há político, e sim
políticas públicas", concluiu.
Cooperação técnica
Durante o evento, também foi
assinado o termo de cooperação técnica entre o Instituto Ayrton Senna e o
Conselho Nacional da Educação para estudos de alfabetização integral. "O
Instituto e o CNE vão trabalhar juntos na perspetiva de olhar para o futuro e
nas diretrizes próximas veiculadas tanto na área de educação infantil quanto na
educação fundamental, naquilo que concerne à alfabetização", disse o
diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves
Ramos.
Já o presidente do Conselho
Nacional de Educação, Luiz Robert Curi, ressaltou que o termo vai atribuir
aprendizado ao trabalho do CNE. "A presença do Instituto Ayrton Senna no
acordo irá atribuir ao nosso trabalho além de uma imensa riqueza, um imenso
aprendizado no contato com o conjunto da sociedade", disse Curi.
Comentários
Postar um comentário
Olá, agradecemos a sua mensagem. Acaso você não receba nenhuma resposta nos próximos 5 minutos, pedimos para que entre em contato conosco através do WhatsApp (19) 99153 0445. Gean Mendes...