Dados revelam que valor médio da dívida do brasileiro é
de R$ 3.252,70, equivalente a mais de três vezes o valor do salário mínimo no
país (R$ 998).
Uma pesquisa feita pela Confederação Nacional de
Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil)
mostra que a inadimplência do consumidor cresceu 0,9% no primeiro semestre de
2019, se comparado com o fim do ano passado. Esta, no entanto, é a segunda
menor variação desde 2012, quando a inadimplência cresceu 5,8% no primeiro
semestre daquele ano.
A autônoma Suzana Elias Azar, de 48 anos, engrossa a
lista de brasileiros que estão com contas atrasadas. Ela conta que o primeiro
semestre deste ano foi complicado para conseguir emprego e afirmou que a
inflação também foi um fator negativo.
“Tudo aumentou de preço. O supermercado está uma loucura;
cada vez que eu vou, eu tomo um susto com algum produto, que eu pagava x, agora
está x mais y. Eu senti melhora agora em julho, espero que continue, mas, de
toda forma, infelizmente, acabei me enrolando com as minhas contas e estou com
algumas delas, de consumo, em atraso. Com a grana curta, a gente acaba
priorizando pagar o aluguel e alimentação”, disse.
Quem também tem enfrentando dificuldades para manter as
contas em dia é a jornalista Fabiana Honorato, de 43 anos. Ela conta que se
sente incomodada com a situação e espera que seja em breve possa regularizar os
débitos atrasados.
“Confesso que não é uma rotina que me agrada. Me tira o
sono, tira o sono do meu marido também, mas a gente tem que aprender a conviver
e, na maneira do possível, conforme vai entrando, a gente vai saldando. A gente
vive um dia de cada vez, um mês de cada vez, um boleto de cada vez. Acredito
que seja momentâneo, porque a gente tem buscado cada vez mais trabalhos para a
gente ter o mínimo para quitar as contas fixas”, afirmou.
Para o educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli, o
desemprego e a estagnação da economia alavancam os números de inadimplência
entre os brasileiros.
“O crescimento vem desacelerando, o que é um fator
positivo. Apesar que o ideal, obviamente, é que nós tenhamos aí uma diminuição
do número de inadimplentes. Mas temos que lembrar que temos um estoque alto de
dívida e que as pessoas têm encontrado dificuldade para resolver por conta do
desemprego, por conta da falta de renda”, ponderou.
Até abril deste ano, 62,6 milhões de pessoas se
encontravam nessa situação, o que representa quase 41% da população adulta. A
alta mais acentuada foi na região Sudeste, com 3,4% em junho frente ao mesmo
período do ano passado, seguida pelo Norte e Sul do país.
Do total de consumidores que têm contas em atraso no
país, um quarto (25%) está na casa dos 30 anos, fase da vida em que as pessoas
tendem a assumir mais compromissos financeiros, como casamento, filhos e
despesas domésticas.
Segundo o educador financeiro do SPC Brasil, José
Vignoli, uma tendência observada no levantamento que chama atenção é o
crescimento no atraso de contas entre população idosa, que varia de 65 aos 84
anos.
“Houve um aumento de 7,5%. Isso demonstra que os mais
velhos, por possuírem uma renda provavelmente vinda da aposentadoria, estão aí
assumindo compromissos para cobrir eventuais problemas de familiares,
eventualmente desempregados ou que andaram desorganizados nas suas finanças.
Isso não é um bom sinal, porque leva essas pessoas, que muitas vezes são o
arrimo de família, a terem problemas”, conta.
Os dados apontam ainda que o valor médio da dívida do
brasileiro é de R$ 3.252,70. O valor representa quase três vezes e meio o valor
do salário mínimo no país, que é de R$ 998.
Matéria: Beto Ribeiro Repórter
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