Deputados de dez partidos diferentes protocolaram, na
Câmara dos Deputados, um projeto de lei que propõe que novos remédios não
precisem mais do aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para
entrar no Brasil. De acordo com a proposta, medicamentos já aprovados nos
Estados Unidos, no Japão, no Canadá e na União Europeia poderiam ser
autorizados diretamente, sem análise prévia.
Segundo o deputado General Peternelli (PSL-SP), autor do
projeto, o motivo é que essa autorização demora muito e prejudica pacientes,
principalmente portadores de doenças raras. “A Anvisa dá prioridade para o caso
das doenças raras, mas muitas vezes o tempo que leva é muito prolongado”, afirmou, acrescentando que, em alguns casos,
quando o aval para o medicamento ser comercializado fica pronto, ele já está
defasado.
Em nota, a agência explica que é necessário uma série de
procedimentos para que medicamentos vindos de fora possam circular no País, o
que impede uma aprovação automática. “O reconhecimento automático, sem análise,
pode ocasionar a aprovação de um produto com especificações diferentes daquelas
aprovadas por determinada agência reguladora”, diz.
Para o ex-presidente da agência, o médico Gonzalo Vecina
Neto, há uma “boa intenção” no projeto, mas é preciso ter cautela ao adotá-lo.
“Não existe uma equivalência. É uma questão de política externa. Os outros
países terão vantagem sobre os produtos brasileiros”, afirmou, em referência à
falta de aprovação automática de medicamentos produzidos no Brasil nos outros
países.
O projeto está na fila da Comissão de Seguridade Social e
Família, ainda sem previsão de entrar na pauta. A proposta tem caráter terminativo,
o que, no jargão do Legislativo, significa que, se for aprovada em comissões da
Câmara, pode seguir direto para o Senado Federal, sem passar pelo plenário.
Quais são os critérios para
que um remédio circule no Brasil?
Um dos aspectos avaliados pela Anvisa para autorizar um
medicamento, por exemplo, é o estudo de estabilidade para garantir que o
medicamento mantenha sua qualidade durante todo o prazo de validade. Como o
Brasil é mais quente e úmido que os países europeus, os Estados Unidos e o Japão,
existem requisitos de específicos para o
território nacional.
Outra questão apontada pela Anvisa é que nem sempre os
estudos conduzidos em medicamentos internacionais consideram as especificidades
da população brasileira quanto aos aspectos epidemiológicos.
Críticas
Para o deputado Alexandre Padilha (PT-SP), médico e
ex-ministro da Saúde de Dilma Rousseff (PT), o projeto representa o “cúmulo do
vira-latismo”. “Estabelece apenas países como Estados Unidos, Japão e europeus,
desconhecendo, por exemplo, toda a parceria bilateral que existe entre as
agencias sanitárias no âmbito do Mercosul (Mercado Comum do Sul)”, disse
Padilha. “A Anvisa é reconhecida como uma agência de padrão internacional pela
União Europeia.”
A líder da Minoria na Câmara, Jandira Feghali (PCdoB-RJ),
que também é médica, faz coro às críticas. “Há a regra de mercado sobre a vida
das pessoas. Não pode ser assim, nós temos de avaliar. Toda substância química
tem de ser avaliada antes de entrar no mercado”, afirmou.
Conteúdo: ‘Jovem Pan’
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