Macron diz que G7 dará 20 milhões de euros para combater queimadas, mas Bolsonaro questiona interesse da França
O ministro do Meio Ambiente,
Ricardo Salles, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disseram que a ajuda é
bem-vinda. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, classificou as
declarações de Macron como oportunistas.
Foto: François Mori /
REUTERS
Conteúdo: ‘G1’
O presidente da França,
Emmanuel Macron, anunciou nesta segunda-feira (26) que os líderes do G7 vão
providenciar, imediatamente, 20 milhões de euros (cerca de R$ 91 milhões) de
ajuda emergencial para combater queimadas na Amazônia. O anúncio acontece em meio
à tensão entre Macron e o o governo brasileiro. Mais cedo, o presidente Jair
Bolsonaro questionou o interesse da França em ajudar a preservar a floresta.
A maior parte do dinheiro
dos países ricos seria destinada ao envio de aviões Canadair de combate a
incêndios, segundo a agência France Press. O G7 também propôs uma assistência
de médio prazo para o reflorestamento, a ser apresentada na Assembleia Geral da
ONU no final de setembro. Para recebê-la, o Brasil teria que concordar em
trabalhar com ONGs e populações locais, disse governo francês.
Bolsonaro não disse se
aceitaria ou não o apoio. Ao sair do Palácio da Alvorada, nesta manhã,
comentou: "Será que alguém ajuda alguém – a não ser uma pessoa pobre, né?
– sem retorno? [...] O que que eles querem lá há tanto tempo?”.
Pouco depois, pelas redes
sociais, Bolsonaro disse que conversou sobre a Amazônia com o presidente da
Colômbia, Iván Duque, e que não se pode aceitar que Macron "dispare
ataques descabidos e gratuitos à Amazônia".
"Não podemos aceitar
que um presidente, Macron, dispare ataques descabidos e gratuitos à Amazônia,
nem que disfarce suas intenções atrás da ideia de uma 'aliança' dos países do
G-7 para 'salvar' a Amazônia, como se fôssemos uma colônia ou uma terra de
ninguém", postou Bolsonaro.
Desde a semana passada, com
a crise gerada pela alta das queimadas na Amazônia, Bolsonaro e Macron trocam
críticas em declarações e entrevistas. O francês, por exemplo, disse que
Bolsonaro mentiu sobre sua preocupação com a proteção do meio ambiente (veja mais
detalhes abaixo).
Dados divulgados neste
domingo (25) pelo Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe) mostram que, antes mesmo do final do mês, agosto já registra
mais focos de queimadas na Amazônia que a media dos últimos 21 anos.
No site do instituto, em 25
dias de agosto, o bioma amazônico registrou 25.934 focos de incêndio, número
ligeiramente acima da média da série histórica para este mês (25.853) que
abrange os anos entre 1998 e 2018.
Salles: 'Medida bem-vinda'
Nesta manhã, o ministro do
Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que a decisão da cúpula do G7 é "uma
excelente medida, é muito bem-vinda".
"Eu queria aproveitar
inclusive para lembrar que desde 2005 o Brasil tem cerca de 250 milhões de
toneladas de gás carbônico, mecanismo de desenvolvimento limpo, pra receber, e
isso gera mais ou menos uma receita de US$ 2,5 bilhões. Então essa é também uma
medida que nos pedimos que os países desenvolvidos, o G7, nos ajudem a quitar
essa fatura do Protocolo de Kyoto, esse crédito que o Brasil tem, o que seria
muito bem vindo para nós", disse em um evento em São Paulo.
O ministro destacou que
"quem vai decidir como usar recursos para o Brasil é o povo brasileiro e o
governo brasileiro."
Ministro da Defesa: 'Toda ajuda é bem-vinda'
O ministro da Defesa,
Fernando Azevedo e Silva, afirmou à BBC que "toda ajuda é bem-vinda"
ao fala sobre o apoio de outros países no combate às queimadas. "Ajuda no
combate ao incêndio não afeta [soberania nacional]. Não é ingerência, é questão
de ajuda técnica", declarou.
De acordo com a reportagem,
embora não tenha comentado especificamente qualquer proposta de auxílio
internacional, Azevedo e Silva afirmou que o governo "está avaliando a
necessidade" de ajuda.
Ele também usou os termos
"um exagero" e "uma crítica muito forte" ao tratar da
repercussão internacional das queimadas. E disse: "Houve períodos de
queimadas maiores que o atual".
Maia: 'Não vejo problema'
Na mesma linha de Salles, o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia, afirmou que não vê problema em o Brasil
aceitar ajuda financeira dos países ricos. “Não vejo problema do Brasil aceitar
ajuda nessa e em outras áreas, contanto que fique claro que a região amazônica,
como todo território nacional, a soberania é do Estado brasileiro”, declarou
ele, que participou de um seminário do Superior Tribunal de Justiça, em
Brasília.
Após o evento, Maia disse
que Emmanuel Macron tem razão em se preocupar com o desmatamento na Amazônia,
mas o presidente francês cometeu excessos e, por isso, ficou isolado.
O presidente da Câmara
afirmou ainda não haver ações concretas do governo de Jair Bolsonaro no
estímulo às queimadas na região, mas disse que a forma como o presidente da
República fala "pode gerar esse tipo de dúvida".
Tereza Cristina: 'É difícil controlar'
A ministra da Agricultura,
Tereza Cristina, classificou as respostas do presidente da França como
"oportunistas". Segundo a ministra, ele "prejudicou a imagem do
Brasil, que já não anda bem", mas destacou a ação do encontro dos líderes
do G7, que enviarão 20 milhões de euros como ajuda emergencial.
Para ela, é necessário que
se fiscalize e preserve sem interferir na soberania do país.
Esforços de Macron
O presidente francês já
havia anunciado, desde a semana passada, que os problemas na Amazônia seriam um
dos temas debatidos na reunião de cúpula do G7, que começou sábado (24) e
termina nesta segunda-feira em Biarritz, na França.
No domingo (25), Macron
disse que havia convergência para oferta de ajuda do grupo aos países da
América do Sul afetados por queimadas.
Na sexta-feira (23), o
presidente francês havia ameaçado não ratificar o acordo comercial entre União
Europeia e Mercosul por conta de supostas mentiras do Brasil em relação aos
compromissos de preservação ambiental. No entanto, no dia seguinte, Reino
Unido, Alemanha e Espanha fizeram críticas a Macron e defenderam o acordo
UE-Mercosul.
O primeiro-ministro do
Canadá, Justin Trudeau, disse que o país dele oferece ajuda ao Brasil com
aeronaves que carregam água para ajudar nos incêndios.
Apoio de Israel
No domingo, o presidente
Jair Bolsonaro conversou por telefone com o primeiro-ministro israelense
Benjamin Netanyahu. Após o diálogo, Bolsonaro anunciou que aceitou o envio de
aeronaves de Israel com "apoio especializado para colaborar" nas ações
contra as queimadas.
O presidente disse nesta
segunda que conversou com "líderes excepcionais" sobre a situação na
Amazônia e, sem citar nomes, afirmou que não falou com lideranças estrangeiras
que desejam continuar "tutelando" o Brasil.
"Vinte e quatro horas
por dia eu trabalhei, conversei com vários líderes de países, líderes
excepcionais, que querem realmente colaborar com o Brasil. Não conversei com
aqueles outros, que querem continuar nos tutelando", afirmou.
Além de Netahyahu, Bolsonaro
conversou nos últimos dias com os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump,
e do Chile, Sebastián Piñera. Bolsonaro não teve diálogo com Macron sobre
Amazônia desde o início da crise gerada pela alta das queimadas.
ONU quer a mobilização internacional
O secretário-geral da ONU,
António Guterres pediu a mobilização da comunidade internacional para preservar
a Amazônia.
"Há um forte apelo, e
espero que possamos mobilizar muito mais recursos para ajudar os países da Amazônia",
disse.
É necessário, acrescentou,
"uma forte vontade coletiva para preservar esse patrimônio universal,
absolutamente essencial para o bem-estar da população mundial".
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