De acordo com o Inmet, além
da frente fria, a escuridão desta segunda também foi causada pela fumaça de
queimadas na região amazônica. Meteorologista diz que fumaça pode contribuir
para alterações na cor da chuva.
Água escura coletada em casa
de São Mateus, na Zona Leste de SP — Foto: Leandro Matozo/GloboNews
Moradores da capital
paulista e da Grande São Paulo coletaram água da chuva de cor escura e com
cheiro de queimado após nebulosidade intensa que encobriu a cidade por volta
das 15h da segunda-feira (19). Uma análise preliminar do Instituto de Química
da Universidade de São Paulo (USP) confirma a presença de uma substância
marcadora de queimada na água da chuva coletada na capital.
A cor da chuva pode ter sido
alterada pela presença de partículas de fumaça
na atmosfera, segundo a meteorologista Beatriz Oyama, do Instituto de Energia e
Meio Ambiente (Iema). Marcos Buckeridge, diretor do Instituto de Biociências da
Universidade de São Paulo (IB-USP), diz que a fuligem proveniente das queimadas
também pode conter substâncias tóxicas aos seres humanos. "Se nós
tivéssemos recebido a fumaça sobre a cidade, sem a presença de uma frente fria
que trouxe chuva, isso poderia ter um efeito muito pior nas pessoas", diz.
O repórter cinematográfico
Leandro Matozo, da GloboNews, coletou a água que parece conter fuligem em
baldes no quintal da casa onde mora, em São Mateus, na Zona Leste da capital.
"Minha mãe sempre deixa
uns baldes no quintal para coletar água da chuva. Essa água é utilizada para
atividades como lavar o chão, dar descarga, regar as plantas e isso gera uma
baita economia nas contas, além de ajudar o meio ambiente", explica
Matozo. "Só que a chuva de hoje chamou a nossa atenção."
Nas redes sociais, moradores
de outros bairros das zonas Leste e Sul da cidade também postaram imagens da
água com cor escura coletada na tarde de segunda.
A Companhia Ambiental do
Estado de São Paulo (Cetesb), responsável pelo controle de qualidade do ar no
estado, disse que não houve anormalidade de partículas no ar nesta
segunda-feira e que não é possível determinar se, de fato, choveu fuligem na
capital. No boletim diário da Cetesb as estações medidoras na região
metropolitana de São Paulo apontam condições boas ou moderadas durante a tarde
da segunda-feira.
Chuva limpa atmosfera
A meteorologista Beatriz
Oyama, do Iema, explica que as nuvens de chuva acumulam o material particulado
que se encontra na atmosfera. Segundo Oyama, essas partículas poderiam alterar
a cor da água da chuva.
"Se, de fato, ocorreu o
transporte de partículas originadas das queimadas, essas partículas podem ter
contribuído para a água da chuva ficar mais escura que o normal. Contudo, são
necessárias análises para que esse transporte seja confirmado", explica.
Além de partículas de
fumaça, outros materiais poluentes também podem alterar a cor da chuva, como as
micropartículas emitidas pelos escapamentos e freios de veículos. No entanto,
esse tipo de material particulado nem sempre contribui para a formação de
chuvas.
Além disso, ela destaca que
as medições de qualidade do ar da Cetesb retratam a concentração de material
particulado na superfície, onde as pessoas respiram. No alto, onde as nuvens se
formam, a concentração de partículas pode ser diferente da registrada pelas
estações.
"A chuva é um processo
de limpeza da atmosfera. Como a gente está abaixo da nuvem, a gente não sabe
exatamente qual é a concentração de partículas lá em cima, onde a nuvem se
forma. No nível de superfície, o ar já está relativamente limpo por conta da
chuva", explica.
Água preta coletada em Santo
André. Foto: reprodução
Dia virou noite
De acordo com o Instituto
Nacional de Meteorologia (Inmet), além da frente fria, a escuridão desta
segunda também foi causada pela fumaça de queimadas na região amazônica.
"O material
particulado, oriundo da fumaça produzida por esses incêndios silvestres de
grande porte que estão acontecendo na Bolívia, conjugado com o ar frio e úmido
que está no litoral de São Paulo, causou a escuridão", diz Franco Vilela,
meteorologista do Inmet.
Além disso, a cidade ficou
"dentro de uma nuvem" por causa da atuação de massas com temperaturas
diferentes. “Isso acontece por conta dessa convergência de massas tão
diferentes. A frente fria da capital, junto com as temperaturas amenas que vêm do
oceano e do vento quente do interior, provocam essa turbulência e isso baixou o
nível da nuvem," diz Helena Balbino, meteorologista do Inmet.
Segundo o Climatempo, a
fumaça proveniente de queimadas na região amazônica, nos estados do Acre e
Rondônia e na Bolívia, chegou a São Paulo pela ação dos ventos. "A fumaça
não veio de queimadas do estado de São Paulo, mas de queimadas muito densas e
amplas que estão acontecendo há vários dias em Rondônia e na Bolívia. A frente
fria mudou a direção dos ventos e transportou essa fumaça pra São Paulo",
diz Josélia Pegorim, meteorologista do Climatempo.
“Aqui na região da Grande
São Paulo a gente teve a combinação desse excesso de umidade com a fumaça,
então deu essa aparência no céu", completou.
No final de semana, a
direção do vento estava levando a fumaça para o Sul do Brasil. Com a chegada da
frente fria no Sudeste, a fumaça começou a ser direcionada para o estado de São
Paulo, segundo o Climatempo.
Os meteorologistas do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que também monitora o clima
no país, ainda não verificaram influência das queimadas no aumento na
nebulosidade que tornou o céu da capital tão escuro.
"O vento até pode
trazer essa fumaça de queimadas, mas teria que ser bem intenso o incêndio. Geralmente,
isso ocorre mais com fumaça de vulcões", diz Caroline Vidal,
meteorologista do Inpe.
Conteúdo: ‘G1’
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