Imagem de satélite da Nasa mostra o corredor
de fumaça da Amazônia sobre a América do Sul na segunda-feira (19)
Imagem: Reprodução
Conteúdo: ‘UOL’
Um corredor de fumaça
proveniente das queimadas na Amazônia vem descendo pela América do Sul desde a
semana passada, atingindo o Centro Oeste, o Sudeste e o Sul do Brasil, e países
vizinhos como Argentina, Uruguai, Peru e Bolívia.
O fenômeno costuma ocorrer
entre agosto e setembro, por causa da temporada seca, mas chamou a atenção
depois que uma mistura de fumaça com a frente fria que atingiu o estado de São
Paulo escureceu a região da capital paulista no meio da tarde desta segunda-feira
(19).
No caso de São Paulo, a
fumaça provocada pelas grandes queimadas no sul da Bolívia e no Paraguai no fim
de semana contribuiu para que o paulistano pudesse achar que anoiteceu mais
cedo, por volta das 15h da segunda. A fumaça dos incêndios atravessou o Paraná,
Mato Grosso do Sul, atingiu o estado de São Paulo e chegou a alcançar Minas
Gerais, somando-se à fumaça provocada pelas queimadas amazônicas e aumentando a
intensidade desse "corredor".
Em entrevista ao UOL por email, o argentino Santiago
Gasso, pesquisador da Nasa, a agência espacial norte-americana, conta que o fenômeno
do "corredor de fumaça" não ocorreu nos últimos anos e depende de
muitos fatores para se formar.
"Incêndios sempre
acontecem nesta época do ano. Mas o corredor da fumaça não se forma todos os
anos por razões que incluem o número de incêndios e sua intensidade, o tipo de
combustível, a umidade no solo e questões meteorológicas", afirma o
especialista.
A empresa de meteorologia
MetSul explica que é possível saber que a fumaça que atingiu é proveniente da
Bolívia, por onde passa o corredor, e não só da Amazônia, por causa da cor da
fumaça vista nos satélites. "A cor da fumaça que vem da região amazônica é
esbranquiçada, e a fumaça que veio da Bolívia e do Paraguai é marrom. E o que
estava sobre o estado de São Paulo era marrom", afirma a MetSul.
"Como a fumaça é
'emparedada' nos Andes, acaba se concentrando e fica muito espessa, parecendo
uma nuvem de cor diferente, meio azulada. Ao se mover para o sul, parece uma
longa nuvem contínua de cores diferentes" diz Gasso, explicando que a
imagem gerada pelos satélites assemelha-se a um rio. Por onde passa, a poluição
causada pela fumaça é responsável por aquele visual do sol avermelhado se pondo
no horizonte, como ocorre na capital paulista no inverno.
Segundo a MetSul, os ventos
da Amazônia sopram de leste para oeste, entrando no continente pelo Nordeste do
Brasil em direção aos Andes, onde encontram uma grande parede de montanhas de
até 5.000 metros na cordilheira. A fumaça, que costuma concentrar-se entre
1.500 e 2.000 metros de altitude, não consegue ultrapassar esta barreira e
desce em direção ao sul da América do Sul, passando por Peru, Bolívia, o Centro
Oeste do Brasil e o Paraguai, chegando até o sul do Brasil. Com os fortes
ventos e as queimadas na Bolívia e no Paraguai, a fumaça acabou atingindo SP e
MG.
O especialista da Nasa
lembra ainda que os efeitos da fumaça os tradicionais: má qualidade do ar,
riscos à saúde de idosos e crianças e pessoas com doenças respiratórias, baixa
qualidade de vida (você não pode sair e praticar esportes, por exemplo), além
dos impactos no clima e no ecossistema. "Existe um componente internacional
importante, porque provoca a má qualidade do ar no Paraguai, na Argentina e no
Uruguai, países que não são necessariamente os principais produtores de
fumaça", diz o Gasso.
De acordo com o MetSul, o
número de queimadas em agosto está acima da média dos últimos anos. O tempo
muito seco e o aumento de incêndios ilegais contribuem para o crescimento dos
focos de incêndio na região amazônica.
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