Doria manda recolher apostila de ciência que fala sobre diversidade sexual: 'Não aceitamos apologia à ideologia de gênero'
Governador fala em 'erro
inaceitável' e 'apuração dos responsáveis'. Livro é destinado a alunos do 8º
ano do ensino fundamental das escolas estaduais de São Paulo.
Texto contido
no livro recolhido pelo governo de São Paulo — Foto: Reprodução
Conteúdo: ‘G1’
O governador João Doria
(PSDB) mandou recolher nesta terça-feira (3) o material escolar de ciências
para alunos do 8º ano da rede estadual de São Paulo. Segundo professores, a
alegação seria uma página da apostila que contém um texto que trata de
diversidade sexual explicando as diferenças sobre "sexo biológico, identidade
de gênero e orientação sexual".
No 8º ano estudam alunos com
ao menos 13 anos de idade.
"Fomos alertados de um
erro inaceitável no material escolar dos alunos do 8º ano da rede estadual.
Solicitei ao Secretário de Educação o imediato recolhimento do material e
apuração dos responsáveis. Não concordamos e nem aceitamos apologia à ideologia
de gênero", escreveu Doria pelo Twitter.
Em nota, a Secretaria da
Educação de São Paulo afirma que o termo "identidade de gênero"
estaria em desacordo com a Base Nacional Comum Curricular do MEC e com o Novo
Currículo Paulista aprovado em agosto, e que a apostila é complementar ao
estudo dos alunos.
Veja a nota da Secretaria:
"Nesta segunda-feira, a
Secretaria da Educação tomou conhecimento de que os alunos do 8º ano do Ensino
Fundamental (menos de 10% da rede) receberam as apostilas de ciências do São
Paulo Faz Escola em que consta conteúdo impróprio para a respectiva idade e
série e em desarranjo com as diretrizes desta gestão. Diante disso, a Seduc-SP
esclarece:
1- O tema de
"identidade de gênero" está em desacordo com a Base Nacional Comum
Curricular, aprovada em 2017 pelo Ministério da Educação e também com o Novo
Currículo Paulista, aprovado em agosto de 2019. Assim, o assunto extrapola os
dois documentos, que tratam do respeito às diferenças e à multiplicidade de
visões da nossa sociedade.
2- A Secretaria da Educação
iniciou imediatamente o recolhimento dos exemplares das escolas, nesta
terça-feira, dia 3, assim como a apuração da responsabilidade pela aprovação do
conteúdo.
3- As apostilas do São Paulo
Faz Escola são elaboradas por servidores da rede estadual, desde 2009, que se
utilizaram das fontes abertas que dispunham, no caso, de manual do Ministério
da Saúde.
4- Não houve prejuízo
material para a secretaria, uma vez que trata-se da apostila complementar
referente apenas ao 3º bimestre, além de se tratar de apostila consumível, ou
seja, que já não seria reaproveitada por outros alunos.
5- As apostilas são material
complementar de apoio ao currículo e seu uso fica a critério de cada professor.
6- A Seduc-SP decidiu
reestruturar todo o processo de produção das apostilas e já está contratando
serviço de revisão externa para todos os materiais."
Sobre ideologia de gênero
A corrente de estudos sobre
o gênero – iniciada nas décadas de 1960 e 1970 nos Estados Unidos e na Europa –
teoriza a diferença entre o sexo biológico e o gênero. Para essa escola
acadêmica, ser um homem ou uma mulher não depende apenas da genitália ou dos
cromossomos, mas de padrões culturais e comportamentais. Tais padrões, segundo
os teóricos da área, são adquiridos na vida em sociedade.
Acadêmicos conservadores, no
entanto, acreditam que as conclusões dos estudos sobre o gênero não obtiveram
validação das ciências exatas e biológicas.
Para eles, portanto, a
corrente de estudos sobre o gênero não poderia sequer ser chamada de
"teoria" – afinal, faltaria rigor científico para chamá-la assim.
Dessa forma, fala-se em "ideologia de gênero": um conjunto de ideias
que defende que cabe a cada pessoa se definir homem ou mulher.
Em entrevista à GloboNews,
ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, definiu o que
considera ideologia de gênero: "Um grupo de pensadores chegou à conclusão
de que a criança nasce [com a designação sexual] neutra, cresce neutra, e
depois decide".
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