CONTEÚDO:
GAZETA DO POVO
Moradora do Rio de Janeiro,
Ágatha Vitória Sales Félix, a menina atingida na sexta-feira (20) por um tiro
nas costas, provavelmente de fuzil, era uma criança “de futuro”, na descrição
do avô materno, Ailton Félix. Na calçada em frente ao Hospital Getúlio Vargas,
na Penha, o avô entrou em desespero ao saber que a neta não resistiu ao
ferimento. Mataram “uma garota inteligente, obediente, de futuro”, disse ele.
Ela tinha apenas 8 anos de idade.
Ailton Félix contou que
Ágatha fazia aula de balé, era estudiosa e falava inglês – em uma das fotos que
agora circulam nas redes sociais, a menina sorridente mostra um desenho que fez
da própria casa, a “Agatha’s House”, como ela exibe no papel. Em outra foto,
ela aparece fantasiada de Mulher-Maravilha, a heroína das histórias em
quadrinhos.
Na noite de sexta-feira
(20), ela voltava toda animada para casa, no Complexo do Alemão, acompanhada da
mãe, Vanessa Sales, após um dia de passeio. As duas estavam numa Kombi, quando
um tiro atingiu a menina.
Moradores afirmam que não
havia confronto na favela. Segundo eles, uma policial teria feito um único
disparo em direção a um motociclista que não tinha atendido à ordem de parar.
Já a Polícia Militar informou que agentes foram atacados por traficantes e
revidaram.
“Foi a filha de um
trabalhador, tá? Ela não vivia na rua, não”, falou Ailton. “Mais um na
estatística. Vão chegar e dizer que morreu uma criança no confronto. Que
confronto? A minha neta estava armada, por acaso, para levar um tiro?”,
continuou o avô.
A mãe de Ágatha, Vanessa
Sales, passou mal ao saber da morte e teve que sair do hospital numa cadeiras
de rodas. O pai, Adegilson Lima, sequer teve condições de ir ao Instituto
Médico-Legal (IML) para liberar o corpo, sofrimento que coube a outros
parentes.
A Divisão de Homicídios vai
fazer uma reprodução simulada do assassinato durante a semana, para tentar
esclarecer de onde partiu o tiro. Agentes já ouviram parentes no IML. Elias
César, tio de Ágatha, disse que uma funcionária do governo estadual ofereceu
ajuda para pagar o enterro, mas que a família não aceitou.
Moradores, parentes e amigos
da família participaram no sábado (21) de um protesto contra a violência
policial nas comunidades que formam o Complexo do Alemão. Em vídeos postados
nas redes sociais pelo jornal comunitário Voz das Comunidades, era possível ver
os manifestantes carregando faixas com nomes de algumas das vítimas de
confrontos e mensagens como "Parem de nos matar", "Chega de
morte" e "Não quero enterrar meu filho".
Os líderes do protesto
pediam um basta à violência e ao uso de helicópteros da polícia que têm
sobrevoado as comunidades fazendo disparos contra a favela.
O enterro do corpo da menina
ocorreu às 16 horas deste domingo (22), no cemitério de Inhaúma, na zona norte
do Rio.
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