Valor real do rendimento
familiar é ainda menor se descontados rendimentos não monetários e
transferências de renda, que juntos correspondem a 57% do rendimento total das
famílias de baixa renda.
“Se retirar isso [rendimento não monetário e rendimento advindo de
transferência], você vê que o tamanho do rendimento seria ainda menor. E vale
lembrar que, dentro dessa classe de rendimento, você encontra ainda mais
desigualdades, já que estamos falando de uma média e dentro desse grupo [dos
que têm rendimento mensal de até dois salários mínimos] há famílias que não
recebem sequer um salário mínimo por mês”,destacou Martins.
Em média, as famílias
brasileiras têm um rendimento mensal R$ 5.088,70. Parece muito para a realidade
brasileira – e é, já que se trata de uma média , ou seja, considera todos os
rendimentos recebidos no país dividido pelo total de famílias vivem aqui. Mas
ao separar as famílias por faixas de rendimento, nota-se que 23,9% delas vivem
com uma média de R$ 1.245,30 por mês.
Os dados constam na Pesquisa
de Orçamentos Familiares (POF), divulgada nesta sexta-feira (4) pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o levantamento, o rendimento
total médio das famílias em 2018 foi de R$ 5.436,70, a ele somada a variação
patrimonial.
Para auferir o rendimento familiar, o IBGE considera:
·
rendimentos do
trabalho (o salário recebido pela prestação de serviço)
·
transferências de
renda (valores recebidos de programas governamentais, como Bolsa Família,
pensão, aposentadoria, bolsa de estudo, etc, ou recebidos em transações
intrafamiliar, como a chamada mesada)
·
rendimento de aluguel
(e outros associados ao patrimônio de bens móveis ou imóveis)
·
outras fontes de
renda (distintas do trabalho ou de transferências)
·
rendimentos não
monetários (atribuído à produção para o próprio consumo ou a doações recebidas
de produtos e serviços)
Assim, dos R$ 5.426,70, a
maior parte é rendimento do trabalho (R$ 3.118,66 na média), que corresponde a
57,5% do rendimento total. As transferências de renda, por sua vez, respondem
por 19,5% do total de rendimentos.
Ao analisar regionalmente, a
média do rendimento total familiar (somada a variação patrimonial) sofre
grandes variações. Nas áreas urbanas, chega a R$ 5.806,24, enquanto nas rurais,
R$ 3.050,49. Ou seja, as famílias em situação rural recebem pouco mais da
metade (52,3%) dos valores que recebem as famílias em áreas urbanas.
Entre as regiões do país, a
que contempla o maior rendimento total médio familiar é a Centro-Oeste, onde o
valor chega a R$ 6.772,86. Já o menor foi auferido no Nordeste, onde soma R$
3.557,98.
Ao analisar o rendimento
médio familiar dividindo as famílias por classes de rendimento se evidencia
ainda mais a desigualdade do país. As famílias que recebem até dois salários
mínimos mensais representam 23,9% do total de famílias brasileiras e respondem
por 5,5% da renda média nacional. Já aquelas que ganham até 25 salários mínimos
somam 2,7% de todas as famílias e respondem por 20% de toda a renda média
nacional.
Para as famílias da classe
mais baixa, o rendimento médio total somado à variação patrimonial é de R$
1.245,30 por mês, enquanto para aquelas da classe mais alta ele chega a R$
17.425,13 mensais.
Quando se observa a
composição do rendimento destas famílias, percebe-se que a desigualdade é ainda
maior entre elas. Para as mais pobres, 41% da renda vem do trabalho, 28,8% de
transferência e 28,2% é rendimento não monetário. Já para as mais ricas, 60,4%
é renda do trabalho, 18,5% de transferências, enquanto o rendimento não
monetário é de 10,1%.
“Uma coisa importante que a
gente não pode deixar de mencionar é que, embora o rendimento não monetário não
signifique o desembolso da família, a gente vê a importância dele na aquisição
de produtos e, por isso, o quanto ele é importante no orçamento da família mais
pobre”, enfatizou o gerente da pesquisa, André Martins.
Somados, o rendimento
advindo de transferências e o não monetário representam 57% de todo o
rendimento médio das famílias mais pobres, enquanto para as mais ricas eles
representam apenas 28,6% da renda média mensal.
“Se tivéssemos falando só da
parte monetária, a gente estaria deixando de falar do modo de viver das
pessoas, das condições de vida dela que elas efetivamente têm. Então, quando a
gente olha para toda a composição do rendimento delas, conseguimos entender
como elas estão vivendo no sentido geral”, pontou o pesquisador.
Descontado o rendimento não
monetário das famílias de baixa renda, tem-se que elas vivem com rendimento
médio de até R$ 894,37. E se deste valor for descontado aquilo que recebem por
transferência de renda, como os advindos de programas sociais, esse valor cai
para R$ 535,34.
Considerando que, para o
IBGE, a família brasileira é composta, na média, por três pessoas, significa
que para os membros de 23,9% das famílias brasileiras o rendimento médio mensal
é de apenas R$ 178,44.
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