Investigações sigilosas da
Marinha e da Petrobras encontraram petróleo com a mesma "assinatura"
do óleo da Venezuela em manchas que se espalharam até agora por pelo menos 138
pontos do litoral dos nove estados do Nordeste. Nesta terça-feira (8) o
presidente Jair Bolsonaro disse não descartar uma ação criminosa. E o Sergipe
planeja usar boias para impedir que o material atinja a bacia de rios, como Vaza
Barris e São Francisco.
Segundo uma fonte da alta
cúpula do governo, ouvida pelo jornal "O Estado de S. Paulo",
trata-se do mesmo tipo de óleo extraído da Venezuela, o que corrobora rumores a
esse respeito veiculados desde a semana passada.
A conclusão já foi informada
ao Ibama, órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente. Mas não é possível dizer
que todo o vazamento que atinge praias tem a mesma origem. A Marinha e a
Polícia Federal analisam amostras e não deram informações oficiais.
Ainda nesta terça, o
presidente Jair Bolsonaro afirmou que há a possibilidade de que o derramamento
tenha sido criminoso. Ele, no entanto, ponderou que as investigações estão em
curso.
A reportagem questionou a
Petrobras sobre a possível presença de óleo da Venezuela nas instalações da
refinaria Abreu e Lima, estrutura que, em princípio, seria construída com a
parceria da estatal PDVSA. A Petrobras informou que nunca processou óleo de
origem venezuelana em Abreu e Lima.
Por meio de nota, a estatal
declarou que a análise realizada pela empresa em amostras de petróleo cru
encontrado em praias do Nordeste "atestou, por meio da observação de moléculas
específicas, que a família de compostos orgânicos do material encontrada não é
compatível com a dos óleos produzidos e comercializados pela companhia".
Os testes foram realizados nos laboratórios do Centro de Pesquisas da Petrobras
(Cenpes), no Rio.
"Nós temos isso bem
documentado, coletamos 23 amostras, nosso centro de pesquisas realizou análises
bioquímicas e chegou à conclusão de que não se trata de nenhum óleo produzido
e/ou comercializado pela Petrobras", disse o presidente da Petrobras,
Roberto Castello Branco, após audiência na Câmara. Segundo ele, já foram recolhidas
133 toneladas de resíduo oleoso de praias.
O "Estado"
procurou a estatal PDVSA, que não se pronunciou. As investigações sobre a
origem do óleo ainda não avançaram. Para David Zee, professor da Faculdade de
Oceanografia da Universidade do Estado do Rio (Uerj), o vazamento de um navio
constitui "uma hipótese possível". "Pela quantidade espalhada
pode até ser a carga completa de um petroleiro."
Em nota, a Marinha disse ter
empenhado 1.583 militares, cinco navios e uma aeronave nessas operações de
análise e monitoramento. A Marinha ainda classificou a ocorrência como
"inédita".
Boias e preocupação
O governo de Sergipe
anunciou nesta terça que colocará boias absorventes para evitar que o óleo que
polui a zona litorânea sergipana entre nos rios, sobretudo o São Francisco. Os
equipamentos serão cedidos pela Petrobras. O trabalho de retirada do óleo da costa
continua, assim como o monitoramento, tanto por parte da Administração Estadual
do Meio Ambiente (Adema) como por órgãos federais.
A situação preocupa, além
das autoridades, ambientalistas. "Sem dúvida é o maior desastre ambiental
no litoral do Nordeste do Brasil", diz Flávio Lima, coordenador geral do
Projeto Cetáceos da Costa Branca da Universidade Estadual de Rio Grande do
Norte (UERN). Ele e sua equipe estão envolvidos no atendimento dos animais
contaminados pelo óleo de origem ainda desconhecida e identificado como
petróleo cru.
Até o momento, em todo o
Nordeste, 16 tartarugas marinhas, espécie ameaçada de extinção, foram
contaminadas pela substância --e o lançamento delas também deixou de ocorrer. O
vazamento do óleo já atinge 61 municípios.
"Além do risco de
contaminação para a megafauna marinha local, que envolve diversas espécies de
aves, cetáceos e o peixe-boi marinho, espécie de mamífero marinho mais ameaçada
de extinção do país, é preocupante a exposição da população e dos atores locais
que utilizam as praias afetadas", alerta o coordenador.
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