A condenação do
ex-governador de Minas Gerais se refere a crimes cometidos quando ele era
ministro do governo Dilma, entre 2011 e 2014. Ele poderá recorrer em liberdade.
Defesa de Pimentel diz que a sentença tem "fragilidade surpreendente"
e será revista.
A Justiça Eleitoral condenou
o ex-governador Fernando Pimentel (PT) a 10 anos e 6 meses de prisão por
tráfico de influência e lavagem de dinheiro, com o agravante de abuso de poder,
por ter usado o cargo de ministro para cometer os crimes. O inquérito apurou
irregularidades de caixa 2 no período em que Pimentel foi ministro do
Desenvolvimento, no governo Dilma, entre 2011 e 2014.
A juíza Divina de Paula
Peixôto determinou que a pena seja cumprida em regime fechado, mas o
ex-governador poderá recorrer em liberdade.
O empresário Benedito
Rodrigues de Oliveira, o “Bené”, que teria prestado serviços para a campanha de
Pimentel ao governo de Minas em 2014 e ajudado no esquema de caixa 2, foi
condenado a 8 anos de prisão.
Marcos Coimbra, sócio da Vox
Populi, e o empresário Márcio Hiran Novaes foram condenados a 2 anos, 9 meses e
18 dias de prisão. A pena foi substituída por prestação de serviços
comunitários (1 hora por dia de condenação) e pelo pagamento de 30 salários
mínimos.
A decisão afirma que os
direitos políticos de Pimentel e dos outros réus serão suspensos após trânsito
em julgado da condenação – ou seja, quando não couber mais recurso.
O que dizem as defesas
Eugênio Pacelli, advogado de
Pimentel, disse que a condenação "ultrapassou qualquer limite do razoável".
"Nunca vi nada tão
despropositado e tão contrário à prova dos autos. Colaboradores mudando
versões, fatos claramente inventados na polícia e em juízo, e desvendados em
audiência. E acolhidos como verdade", afirmou a defesa.
O advogado afirmou ainda que
"essa sentença, de fragilidade surpreendente, será inteiramente revista em
recurso."
No processo, a defesa de
Pimentel disse que ele jamais pediu vantagem ou fez promessa de apoio para a
campanha eleitoral de 2014. Também alegou que não houve crime de lavagem de
dinheiro porque não existiu um crime precedente. "Se houve fraude em notas
fiscais com a finalidade de encobertar gastos com a campanha eleitoral, o réu
sequer teve ciência muito menos anuência disso", argumentou a defesa, de
acordo com a sentença.
O advogado Roberto Pagliuso,
que defende Bené, afirmou que "essa condenação do Pimentel é fruto da
efetiva colaboração" com a Justiça.
Paulo Crosara, advogado de
Márcio Hiram, disse que a condenação é "um equívoco, pois inexistem provas
contra ele. Além disso, esse é apontado como representante da Vox Populi,
apesar de há meses não mais prestar serviços para a referida empresa na data
dos supostos crimes. Iremos apresentar apelação e temos confiança que a
sentença será revertida no TRE-MG".
Denúncias e julgamento
A investigação, relacionada
à Operação Acrônimo, foi conduzida pelo Ministério Público Federal e depois
repassada ao Ministério Público Eleitoral.
Segundo a denúncia, o
ex-governador de Minas Gerais cometeu tráfico de influência ao negociar um
acordo com o empresário José Auriemo Neto, sócio da JHSF Incorporações. Essa
empresa conseguiu o direito de operar o aeroporto Catarina, em São Roque, na
Região Metropolitana de São Paulo, e, em troca, fez repasses ao PT e a Pimentel
durante a campanha eleitoral de 2014, quando ele disputou o governo de Minas e
venceu. A previsão é que esse aeroporto seja inaugurado em dezembro deste ano.
Os investigadores dizem que
a pessoa responsável por intermediar as negociações foi o empresário Bené, dono
de uma gráfica. Ele assinou acordo de delação premiada e admitiu ter usado a
gráfica para pagar vantagens indevidas a Pimentel.
Na colaboração, Bené disse
que o ex-governador de Minas cobrou R$ 4,25 milhões em propina do grupo JHSF.
Parte desse dinheiro foi doado ao PT. Outra parte foi transferida ao Vox Populi
como caixa 2, para pagar as despesas da campanha de Pimentel ao governo de
Minas. Uma terceira parte, R$ 200 mil em espécie, foi entregue em uma bolsa a
um portador em 22 de setembro de 2012, em São Paulo.
O processo contra José
Auriemo Neto, sócio da JHSF, foi suspenso após ele fazer uma doação de R$ 1
milhão ao Hospital do Câncer de Barretos. Em nota, o empresário disse que já
fez esse pagamento.
A JHSF disse que não é parte
neste processo e que não foi apresentada qualquer denúncia contra a companhia.
"Em 2017, o controlador da empresa celebrou um acordo de colaboração com
as autoridades brasileiras, já homologado pelo Superior Tribunal de Justiça,
para esclarecimento dos fatos", afirmou em nota.
Na sentença, a juíza Divina
de Paula Peixôto disse que analisou os crimes de lavagem de dinheiro e tráfico
de influência porque uma decisão do Supremo Tribunal Federal firmou, neste ano,
a competência da Justiça Eleitoral para julgar crimes conexos aos crimes eleitorais.
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