Carta atual foi elaborada durante a ditadura Pinochet;
manifestantes que tomam as ruas do país há 20 dias demandam uma nova.
Conteúdo: ‘O GLOBO’
O presidente do Chile,
Sebastián Piñera , descartou renunciar e admitiu, pela primeira vez, estar
disposto a reformar a Constituição herdada da ditadura de Augusto Pinochet
(1973-1990), uma das demandas dos manifestantes que tomam as ruas do país há 20
dias.
Os comentários de Piñera
foram feitos durante uma entrevista à BBC, concedida após dias de silêncio. Ao
ser questionado se pretendia apresentar sua renúncia em meio aos maciços
protestos contra o governo marcados pela violência, o presidente foi enfático: “Não”.
— É claro que eu vou chegar
ao fim do meu governo. Fui eleito democraticamente por uma grande maioria de
chilenos — disse o presidente, em inglês, em outro momento da entrevista.
Como opção para solucionar a
crise política, Piñera disse que está disposto a conversar sobre tudo,
“inclusive uma reforma constitucional”. Esta é a primeira vez que o presidente
admite publicamente alterar o documento elaborado durante a ditadura chilena .
A Constituição atual do
Chile foi promulgada em 1980, após um plebiscito cercado por denúncias de
irregularidades que fazem sua legitimidade ser questionada. O ideólogo do
documento, o líder estudantil conservador Jaime Guzmán — assassinado por
militantes de esquerda em 1991 —, estabeleceu quóruns muito altos para qualquer
reforma constitucional.
Manutenção de poder
O texto original, que passou
a valer na íntegra em 1990, foi elaborado para que o regime de Pinochet e os
setores conservadores pudessem manter o poder mesmo depois do fim da ditadura,
também em 1990. Durante essa época, foi implementada uma série de reformas que
praticamente acabaram com a presença e o poder de regulamentação do Estado em
áreas como educação, saúde e Previdência, os três pilares dos protestos nas
ruas nas últimas semanas.
Por estes motivos, a Constituição
de Pinochet virou um obstáculo para as reivindicações dos chilenos, que agora
desejam mais participação na tomada de decisões e reformas sociais em setores
cruciais no modelo aberto aos mercados chileno.
O documento também não prevê
a possibilidade de renúncia, o que torna ainda mais improvável que Piñera ceda
aos manifestantes que pedem sua saída. A Constituição chilena, no entanto,
prevê mecanismos de sucessão.
Caso o presidente venha a
abandonar seu cargo a menos de dois anos do fim do mandato — que serão
completados em março de 2020 —, a Presidência será ocupada pelo ministro do
Interior, que deverá convocar novas eleições. Caso a saída ocorra antes deste
prazo, caberá ao Congresso decidir o nome do sucessor.
Manifestações violentas
Piñera tentou responder as
demandas dos manifestantes com um pacote de reformas sociais que incluem um
aumento de 20% nas aposentadorias básicas e uma diminuição nas contas de luz.
Oito de seus 24 ministros, incluindo seu chefe de Gabinete e primo Andrés
Chadwick, foram demitidos . Nada disso, no entanto, foi capaz de debelar a
crise.
Novos protestos voltaram a
tomar as ruas do país na segunda-feira, em um grande ato convocado pelas redes
sociais. Em Santiago, dezenas de milhares de pessoas se concentraram em frente
ao Palácio de La Moneda, sede do governo chileno, e na Plaza Italia, epicentro
dos protestos.
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