Confusão durante ação da PM deixou 9 mortos e 12 feridos
na madrugada de domingo (1º), na Zona Sul de São Paulo.
Há duas versões sobre o que
aconteceu em um baile funk de Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, na madrugada
de domingo (1º), quando nove pessoas morreram pisoteadas e outras 12 ficaram
feridas. A polícia diz que a confusão foi provocada por criminosos, que
atiraram contra militares e usaram frequentadores da festa como "escudo
humano". Parentes de vítimas contestam e falam em uma
"emboscada" da PM.
Veja a seguir mais detalhes
sobre o baile funk, sobre a comunidade, sobre as versões do que aconteceu no
domingo e o que ainda falta esclarecer:
Baile da 17
Na madrugada do último
domingo, acontecia na rua Ernest Renan, em Paraisópolis, o Baile da 17 (muitos
jovens chamam o baile pela sigla Dz7), uma festa que existe desde o começo dos
anos 2000. Segundo moradores ouvidos pela BBC News Brasil, o número 17 é uma
referência a um bar de drinks que existia na favela. A festa teria surgido como
um pagode em frente a esse boteco, mas, nos intervalos, os frequentadores
ouviam funk em carros estacionados na rua.
O baile cresceu e invadiu as
madrugadas. Carros com aparelhos de som potentes tocam funk para até 30 mil
pessoas espalhadas por vielas que hoje são mais comerciais do que residenciais.
A festa costuma ocorrer nas noites de sexta e sábado. Mas podem começar na
noite de quinta-feira e se estender até domingo. No dia da confusão, cerca de 5
mil pessoas participavam do baile.
Paraisópolis
É a 2ª maior favela de São
Paulo e 5ª maior do Brasil. Tem 10 quilômetros quadrados e fica ao lado do
Morumbi, bairro nobre na zona oeste de São Paulo.
Estima-se que tenha cerca de
100 mil habitantes e 8 mil estabelecimentos comerciais — a maioria pertence a
moradores. O local sofre com pobreza extrema, falta de saneamento básico e
atuação do tráfico de drogas.
A confusão na madrugada de domingo
O que diz a polícia:
·
Agentes do 16º
Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M) faziam a Operação Pancadão,
que busca "garantir o direito de ir e vir do cidadão e impedir a
perturbação do sossego"
·
Eles foram alvo de
tiros disparados por dois homens em uma motocicleta
·
A dupla fugiu em
direção ao baile funk ainda atirando, o que provocou tumulto
·
Equipes da Força
Tática, que foram reforçar a ação, levaram pedradas e garrafadas. Os policiais,
então, revidaram com munições químicas para dispersão
·
Nenhum policial fez
disparos com armas de fogo
·
Duas viaturas da PM
foram depredadas
·
Todas as vítimas
morreram pisoteadas, e não por causa de tiros
O que dizem frequentadores do baile e parentes de
vítimas:
·
Policiais chegaram e
fecharam duas ou três ruas onde acontecia o baile, coagindo os frequentadores
·
Houve corre-corre
·
Policiais atiraram
com armas de fogo, atiraram bombas de gás e balas de borracha, jogaram
garrafas, bateram com cassetetes e usaram sprays de pimenta na multidão
·
Agrediram com tapas e
chutes pessoas já imobilizadas
Mortos e feridos
Nove pessoas morreram e 12
foram hospitalizadas com ferimentos. Na manhã desta segunda-feira (2), apenas
uma permanecia internada.
Saiba quem são os mortos:
·
Marcos Paulo Oliveira
dos Santos, de 16 anos
·
Dennys Guilherme dos
Santos Franca, de 16 anos
·
Denys Henrique
Quirino da Silva, de 16 anos
·
Gustavo Cruz Xavier,
de 14 anos
·
Bruno Gabriel dos
Santos, de 22 anos
·
Eduardo Silva, de 21
anos
·
Mateus dos Santos
Costa, de 23 anos
·
Gabriel Rogério de
Moraes, de 20 anos
·
Luara Victoria de
Oliveira, de 18 anos
O que aconteceu após o baile
Seis policiais que
participaram da ação prestaram depoimento na tarde de domingo e foram
liberados. As armas deles foram apreendidas.
Moradores protestaram nas
ruas de Paraisópolis no domingo para pedir justiça. Um grupo carregou cartazes
e cruzes e caminhou até a Avenida Giovani Gronchi. O ato foi pacífico.
Nesta segunda, a Polícia
Civil começa a colher depoimentos de testemunhas da ação da PM. Serão ouvidos
frequentadores do baile, parentes de vítimas e outros policiais que ajudaram a
socorrer as vítimas.
O que falta esclarecer
·
Criminosos atiraram contra
policiais? Esses criminosos foram localizados?
·
Policiais revidaram
com arma de fogo?
·
Por que a polícia
precisou usar bombas de gás e cassetetes contra a multidão do baile?
·
Quais são as causas
das mortes das nove pessoas?
·
Os vídeos que mostram
policiais agredindo outras pessoas foram gravados durante o baile de domingo?
Esses policiais já foram identificados? E as vítimas?
Repercussão
O ouvidor das polícias,
Benedito Mariano, afirmou que "a PM precisa mudar protocolo".
"Toda intervenção
policial em baile funk tem que chegar antes do evento. Intervenção policial
quando há cinco mil pessoas na rua o conflito é inerente. Há necessidade de
mudar o protocolo da PM sobre bailes funk", disse o ouvidor.
O governador João Doria (PSDB)
lamentou as mortes e pediu "apuração rigorosa" do episódio.
Ariel de Castro Alves,
advogado e conselheiro do Conselho Estadual de Direitos Humanos (Condepe),
disse que "foi uma ação desastrosa da Polícia Militar, porque gerou
tumulto e morte".
"Os vídeos mostram
torturas, abusos e que os jovens foram encurralados. Demonstram que os PMs são
os principais responsáveis pela tragédia. A polícia precisa estar preparada
para atuar em situações como essa", afirmou Ariel.
A diretora-executiva do
Instituto Sou da Paz, Carolina Ricardo, afirmou que a polícia de São Paulo tem
de prestar contas do que ocorreu na comunidade.
"É muito importante que
a polícia preste contas do que, de fato, aconteceu, sem medo de assumir um erro
caso tenha havido", afirmou. "Esse é o principal ponto."
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