Conchal registra 949 casos confirmados de dengue até ontem (28) – No Brasil especialista indicam sinal de nova alta do surto em 2020
Em Conchal já são 2.616 notificações, com 949 casos
confirmados, segundo último balanço do Departamento de Saúde do Município apresentado ontem, sexta-feira (28).
No entanto, a tendência de alta da dengue neste ano só poderá
ser confirmada nos próximos meses — historicamente, o número de doentes cresce
a partir de março.
No mesmo mês em que o Brasil confirmou seu primeiro caso de
paciente com um novo tipo de coronavírus surgido na China, um velho conhecido
dos brasileiros deu sinais de que vai infectar ainda mais pessoas em 2020: o
vírus da dengue, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti.
Conforme noticiado pelo G1, o mais recente boletim
epidemiológico do Ministério da Saúde com dados sobre a dengue aponta que o
número de casos prováveis da doença — aqueles que são notificados à pasta pelos
Estados — cresceu 19% nas cinco primeiras semanas do ano em comparação com o
mesmo período de 2019.
Foram notificados 94.149 casos prováveis até a quinta semana
do ano (mais precisamente de 29/12/2019 a 01/02/2020), ante 79.131 no mesmo período
no ano passado.
Neste início de 2020, há a confirmação de que pelo menos 14
pessoas morreram por dengue no país. A comparação de óbitos com 2019 ainda é
incerta, já que os números ainda podem mudar bastante conforme chegam os
resultados de análises laboratoriais e à medida que os Estados e municípios
enviam seus informes ao ministério. Os dados do boletim atual, por exemplo,
ainda não computam os casos e as mortes registrados a nível local em fevereiro.
Mas o ministério já trabalha com um cenário de aumento de
casos de dengue para este ano, e alguns municípios e Estados pelo país
decretaram alerta para uma epidemia de dengue — que é definida quando há uma
taxa de 300 casos confirmados de doença para cada 100 mil habitantes.
Hoje, o país tem em média uma incidência de 44,8 casos
prováveis para cada 100 mil habitantes, valor que também é maior do que o
registrado no boletim de mesmo período do ano passado (26,3 casos por 100 mil;
a comparação entre boletins de diferentes anos deve ser feita com cautela, já
que há muitas alterações e atualizações de números depois que eles são
publicados).
A situação varia drasticamente dentro do país, e três Estados
já dispararam com mais de 200 casos por 100 mil habitantes: Acre (taxa de
281,65/100 mil); Mato Grosso do Sul (249,98/100 mil) e Paraná (220,75/100 mil).
Especialistas e representantes de governos entrevistados pela
BBC News Brasil atribuem a tendência de alta da dengue em 2020 a uma combinação
de fatores: primeiro e talvez mais importante, um novo ciclo poderoso de
circulação do sorotipo 2 (existem 4 sorotipos do vírus da dengue, uma
classificação que corresponde à resposta de diferentes anticorpos no
infectado); soma-se a isso condições meteorológicas particulares nos últimos
meses e fatores culturais e comportamentais da população.
'Não dá
para ficar esperando o poder público limpar o seu quintal'
Apesar de apontar para a importância do saneamento e da
urbanização no controle do mosquito Aedes aegypti — que também transmite zika e
chicungunha —, Valle chama a atenção para o papel das pessoas no combate à
dengue e outras doenças.
"O Aedes é um mosquito doméstico. De cada 10 criadouros,
8 estão dentro da casa das pessoas", destaca.
Ivana Belmonte também menciona questões climáticas, como o
aumento das chuvas em determinadas regiões, além de questões culturais para
explicar o avanço da dengue no Paraná neste ano.
"A cultura da eliminação de criadouros do mosquito ainda
é pequena no Brasil. É preciso sensibilizar ainda mais a população de que o
risco é real, de que você ou um parente pode morrer de dengue", explica.
Segundo ela, municípios do Paraná têm feito mutirões para
verificar e eliminar criadouros do Aedes aegypti, mas, mesmo assim, os dados de
contágio têm subido.
Santa Catarina, embora ainda não tenha tido um aumento
significativo dos casos de dengue em 2020, já projeta uma alta nos próximos
meses. O número de focos do mosquito — quando as cidades identificam criadouros
do Aedes aegypti — cresceu 54% até 15 de fevereiro, chegando a mais de 7.600 pontos.
O último boletim epidemiológico também aponta que 100 dos 295 municípios de
Santa Catarina enfrentam uma "infestação" de Aedes aegypti.
"Pela proximidade com o Paraná e a circulação de
turistas, enxergamos um cenário de crescimento da dengue", diz Tharine Dal
Cim, bióloga da Secretaria de Saúde de Santa Catarina. "Nós tivemos verões
mais quentes e invernos menos rigorosos. Normalmente, o inverno mais frio
controla a proliferação do mosquito. Mas as temperaturas mais amenas, e o fato
de o Aedes estar se adaptando a essas condições, têm feito aumentar os focos no
Estado".
Para a bióloga, parte da região Sul ainda não está acostumada
a enfrentar a dengue, pois, no imaginário da população, Estados mais frios são
livres da doença — a temperatura alta de fato é um fator importante na
proliferação dos mosquitos, mas isso não blinda a região Sul do país.
"As pessoas pensam que aqui não tem dengue, que ela só
atinge o Sudeste e Nordeste. Então, acaba existindo um descuido com a
proliferação do mosquito", diz Dal Cim.