A infectologista Carla Guerra faz um apelo. “Estamos muito
preocupados. Reforcem as medidas de proteção e se cuidem”, diz em tom de
desabafo, durante entrevista à BBC News Brasil, no início da tarde desta
terça-feira (17). O pedido é feito pela profissional após acompanhar por seis
dias o caso do primeiro brasileiro que teve a morte confirmada em razão do novo
coronavírus.
O paciente de 62 anos, que não teve a identidade divulgada,
tinha diabetes e hipertensão. Ele começou a sentir os sintomas da Covid-19,
doença causada pelo vírus, em 10 de março. O homem procurou atendimento médico,
os sintomas pioraram e ele morreu dias depois.
Ele não tinha histórico recente de viagem ao exterior e não
teve contato com nenhum paciente doente. Desta forma, o caso dele é considerado
transmissão comunitária — quando não se sabe a origem do vírus.
O homem morava na capital paulista. São Paulo é o estado com
mais registros do novo coronavírus no Brasil: até esta terça-feira eram 164
casos confirmados — em todo o país são 314.
Ele estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do
Hospital Sancta Maggiore, no bairro do Paraíso. Na mesma unidade, segundo a
Secretaria de Saúde de São Paulo, há outras quatro mortes de idosos suspeitas
de coronavírus — os exames ainda não foram concluídos.
“Apesar de não termos o resultado antes, considerávamos o
caso dele suspeito para o novo coronavírus desde que ele deu entrada no
hospital”, explica Guerra, que acompanhou o paciente desde a entrada dele na
unidade de saúde.
O homem era considerado caso suspeito para novo coronavírus
por apresentar sintomas como febre alta, tosse e problemas respiratórios.
‘Fiquem em
casa’
Autoridades anunciam primeira morte causada por coronavírus
no estado de São Paulo. — Foto: Reprodução/TV Globo
Desde o primeiro atendimento, segundo Guerra, toda a equipe
médica que acompanhou o paciente adotou os Equipamentos de Proteção Individual
(EPI) orientados pelo Ministério da Saúde: gorro, máscara N95, luvas, aventais
descartáveis e óculos protetores.
A Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo orientou que o
enterro do paciente seja com caixão lacrado. O velório será com restrição para
poucas pessoas, apenas as mais próximas.
O corpo não foi encaminhado para o Instituto Médico Legal
(IML), para evitar que mais pessoas possam ser expostas ao vírus. Ele será
encaminhado diretamente do hospital para o cemitério.
Após a morte e diante das outras quatro mortes suspeitas de
relação com o novo coronavírus, Guerra faz um alerta. “A única forma de se
prevenir dessa epidemia é que todo mundo fique em casa. É importante permanecer
em casa, sem nenhum encontro social”, desabafa a infectologista. “Peçam para as
empresas fazerem home office. Poupem os idosos de exposições”, declara.
Diante da pandemia, diversos países têm orientado que as
pessoas evitem aglomeração, adotem hábitos de higiene para evitar a propagação
do vírus e recorram ao distanciamento social, para que se mantenham a cerca de
dois metros de distância entre si.
Nesta terça, a Prefeitura de São Paulo declarou estado de
emergência na cidade — o decreto permite que a prefeitura tome atitudes
emergenciais, como cancelar alvarás de eventos já concedidos, comprar
suprimentos a preços diferentes, entre outras medidas.
No Rio de Janeiro, o governador Wilson Witzel decretou estado
de emergência nesta segunda-feira (16) e recomendou o fechamento de lojas de
shoppings, clubes e academias. Os outros Estados brasileiros também adotaram
medidas semelhantes para contenção do novo coronavírus.
Para evitar a propagação do vírus, Guerra orienta que as
pessoas devem seguir medidas de higienização: lavar as mãos com frequências,
usar álcool em gel e evitar aglomerações. “É preciso reforçar as medidas de
proteção pessoal neste momento. Se todo mundo ficar doente ao mesmo tempo, não
teremos serviço de saúde para atender à demanda”, afirma.