Um estudo que contou com a participação de pesquisadores de
vários países identificou um fármaco em fase clínica de testes — o hrsACE2
(ACE2 humano solúvel recombinante) — que bloqueia os efeitos do Covid-19 no
início da infecção pelo novo coronavírus.
Uma equipe do Instituto de Bioengenharia da Catalunha (Ibec)
na Espanha, liderada por Núria Montserrat, conseguiu decifrar como o Sars-CoV-2
interage e infecta células renais humanas. A partir daí, detectou o potencial
do fármaco, segundo o estudo publicado nesta quinta-feira (2) na revista
científica Cell.
Para realizar os testes, os pesquisadores utilizaram
mini-rins desenvolvidos a partir de células estaminais humanas geradas no Ibec
pela equipe de Montserrat. Os organoides, criados por técnicas de
bioengenharia, capturam a complexidade do órgão real, o que permitiu aos
especialistas decifrar como o vírus infecta as células renais humanas, assim
como identificar uma terapia destinada a reduzir a carga viral.
O estudo contou também com a participação de pesquisadores do
Instituto Karolinska, da Suécia, do Instituto de Biotecnologia Molecular da
Academia Austríaca das Ciências e do Instituto de Ciências da Vida (LSI) da
Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá.
“A utilização de organoides humanos nos permite testar muito
rapidamente tratamentos que já estão sendo utilizados para outras doenças ou
que estão prestes a ser validados. Nesta época de pressão de tempo, essas
estruturas 3D poupam drasticamente o tempo que passaríamos analisando um novo
medicamento em humanos”, explicou Montserrat.
Outras publicações
Publicações recentes mostraram que, para infectar uma célula,
os coronavírus utilizam uma proteína, chamada S, que se une a um receptor das
células humanas chamado ACE2 (enzima conversora de angiotensina 2).
Considerando que esta ligação foi identificada como uma porta de entrada do
vírus no organismo, evitá-la seria um alvo terapêutico potencial.
Seguindo esta estratégia, os pesquisadores se concentraram em
compreender o papel do receptor ACE2 nos organoides humanos, porque imitam
muitas das características dos órgãos reais em poucos milímetros, e assim
torna-se possível analisar como o vírus pode infectar os vasos sanguíneos e os
rins.
O receptor ACE2 é encontrado não só nos pulmões, mas também
no coração, nos vasos sanguíneos, no intestino e nos rins, o que explicaria a
disfunção multiorgânica observada em doentes infectados com Sars-CoV-2, de
acordo com Montserrat.
O fato desse receptor atuar fortemente nos rins, e de o
Sars-CoV-2 também ser encontrado na urina, foi o que levou esta equipe de pesquisadores
a utilizar os organoides renais como modelo para os testes.
Como foi
feita a pesquisa
Em primeiro lugar, os especialistas mostraram que os
organoides renais continham grupos de células que exprimem a ACE2 de forma
semelhante aos tecidos humanos e, em seguida, infectaram-na com o coronavírus.
Com os mini-rins infectados, os pesquisadores aplicaram
terapias diferentes e concluíram que o hrsACE2 (ACE2 humano solúvel
recombinante), um fármaco que já passou pelas fases 1 (em voluntários
saudáveis) e 2 (em pacientes com síndrome de dificuldade respiratória aguda)
dos testes clínicos, inibe significativamente as infecções pelo coronavírus e
reduz sua carga viral.
“Estas descobertas são promissoras como tratamento capaz de
travar a infecção precoce deste novo coronavírus”, disse Montserrat, que também
destacou a importância das técnicas de bioengenharia para a medicina do futuro.
Fonte: Jovem Pan
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