Restaurantes demitem funcionários – Setor que emprega 3 milhões de pessoas estima a demissão de 1 milhão entre os meses de maio e junho
Com a crise gerada pela pandemia da covid-19, grandes
restaurantes demitiram até um terço de seu quadro de pessoal, fecharam unidades
de forma definitiva, saindo de Estados onde atuavam, e estudam a venda de
marcas. Nas últimas semanas foram 5,4 mil demissões só nas redes Coco Bambu,
Fogo de Chão, Madero, Parmê e IMC (dona de KFC, Pizza Hut e Frango Assado).
Burger King e McDonald’s reduziram jornada e salário em 25%, no mínimo.
De acordo com empresas do setor e Abrasel, as redes alcançam,
entre maio e junho, faturamento de 30% a 45% do patamar previsto para o
período, ou em comparação ao nível registrado antes do isolamento social. A
taxa considera a venda em pontos reabertos, delivery e retirada do pedido em
loja.
“Hoje, nós fazemos 46% do que eu projetava atingir em vendas
agora. Ou seja, faço 46% dos 100% que deveria fazer, e esta é uma taxa que vem
subindo. Era 4% em março, depois fomos para 10% em abril, até chegar nesse índice”,
afirma Luiz Durski Junior, fundador do grupo Madero, com cerca de 200 unidades
no país.
Segundo Paulo Solmucci, presidente-executivo da Abrasel, só o
delivery das redes cobria de 10% a 20% das vendas das companhias após o início
do isolamento. Com a reabertura dos pontos nas últimas semanas em alguns
Estados, essa taxa subiu para cerca de 30%, segundo dados informais dos
associados. Ou seja, a taxa ainda está 70% abaixo da venda pré-covid. Houve
corte de despesas, incluindo salários e aluguel, mas num ritmo inferior à queda
na venda.
No momento, empresários do setor têm destacado as perdas das
redes para ressaltar a necessidade de liberação de linhas de crédito pelo
governo federal, o que tem sido negociado via BNDES. Além disso, as entidades
negociam com prefeituras de capitais a colocação de mesas e cadeiras nas
calçadas dos estabelecimentos, por seis meses, após a reabertura dos pontos.
Também preparam redução no cardápio para cortar custos. No Estado de São Paulo,
a data para essa reabertura não está definida.
Com a forte queda na demanda, a Coco Bambu, com quase 40
unidades, dispensou em junho 20% de seus funcionários, cerca de 1,5 mil de um
total de 7 mil, após o fim do prazo de suspensão do contrato de trabalho. No
começo do ano, dois meses antes do início do isolamento, a rede afirmou ter
chegado a um “marco histórico” com R$ 1 bilhão de receita em 2019, alta de 28%.
Procurada, a empresa não retornou os contatos.
Para especialistas, apesar da recente expansão de algumas
cadeias, as redes são impactadas não só porque perderam capital de giro de
forma imediata com o fechamento de pontos, mas também porque parte operava
muito alavancada, com lucro operacional comprometido pelas dívidas. Algumas
estavam fragilizadas, se recuperando da última recessão.
“Segundo pesquisa que fizemos junto a mil empresas, todas já
demitiram. Na média, reduziram na crise um terço da mão de obra. Se
considerarmos que são 3 milhões de empregados no setor, estimamos que já
seriam, então, 1 milhão de vagas a menos”, diz Solmucci.
Para Antônio Ângelo, presidente do sindicato dos garçons no
Rio, empresas que têm contrato de trabalho suspenso com empregados podem
começar a demitir em agosto. “Até lá, pela MP 936, que trata o tema, elas não
podem cortar ou têm custos maiores de rescisão. Então, ainda podemos ter uma
onda maior de demissões”.
Fundada há 47 anos, a rede de pizzarias Parmê, com 35
unidades e atuação no Rio, demitiu um terço do total de 1,4 mil empregados.
Ainda no Rio, a empresa do chef Henrique Fogaça, a Sal Gastronomia, dispensou
em maio 200 pessoas das 350, e deixou o mercado fluminense. “Há redes deixando
o Rio porque já sentiram o baque da recessão de 2015 e da crise fiscal do
Estado em 2018. Muitas não resistem mais”, diz Ângelo.
O Fogo de Chão, do fundo americano Rhône Capital, informa 436
demitidos na crise, mas o Ministério Público do Trabalho cita corte de 690
pessoas. A rede tem 3,1 mil empregados no mundo, diz a empresa de pesquisas
Craft.
Após revisar planos de investimentos no ano, o Grupo Madero
informou em abril a demissão de 600 funcionários (7,5% do quadro total), mas
nos últimos dois meses recontratou 70 pessoas. “Abril começou fraco e foi
melhorando. Fizemos as demissões e conseguimos ‘break even’ em maio. Nesse
cenário, retomamos alguns projetos aos poucos”, diz Durski Junior.
A IMC analisa a venda de cadeias não estratégicas para
simplificar a operação, diz o CEO Newton Maia. O Valor apurou que estão nesse
grupo Batata Inglesa, Viena, Brunella e Olive Garden. Desde janeiro, a IMC
fechou 30 pontos deficitários ou com baixa margem de contribuição. São 433
unidades no Brasil, sendo 259 já reabertas.
“O ‘grosso’ dos encerramentos já foi, mas tem certa
quantidade de pontos com aluguel sendo renegociado e, se não tiver acordo, pode
ter mais fechamento”, disse Maia. Em março, o grupo demitiu 30% de seu quadro,
equivalente a 2,1 mil pessoas. O grupo estuda a injeção de recursos no negócio,
por meio de um investidor ou aumento de capital, diz fonte.
Fonte: Valor Econômico