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'Acho que nunca senti tanta solidão': professora se afasta das salas de aula após ser ameaçada por aluno armado



Em 2009, a professora Rosemeyre de Oliveira, de São Paulo, não permitiu que um aluno do ensino médio entrasse atrasado na aula. Ele a xingou, chutou a porta e mostrou a arma na cintura. “Na próxima, dou um tiro na sua boca.”

Sem receber qualquer amparo, Rose desenvolveu síndrome do pânico e depressão. “O que você quer que eu faça?”, questionou uma das funcionárias do colégio estadual. “Nem adianta tentar ir atrás do menino, ele já deve ter passado a arma para outra pessoa”, disse um soldado da ronda escolar.



“Acho que nunca senti tanta solidão. Claro que ver a arma assusta, mas as reações fisiológicas apareceram depois. Comecei a tirar licenças médicas. Tentei voltar a dar aula, mas não conseguia”, conta Rose.

Dois anos e meio depois, a professora decidiu “jogar a toalha”, como diz, e pedir para entrar em readaptação. Ou seja: ser afastada da sala de aula por motivos de saúde e assumir uma função administrativa na escola.



Professora readaptada

Por sugestão da psiquiatra que a acompanhava, Rose passou a auxiliar na coordenação de outro colégio, para “não se lembrar do que houve”.

Foi quando começou a enfrentar situações de preconceito. “Eu não podia ter contato com alunos, mas me punham em sala de aula para fazer chamadas administrativas. Ouvi muitas piadinhas. Senti a perda da identidade docente”, diz. Rose deixou de ser tratada como “professora”. Era “a readaptada”.



Assim como ela, outros 11.100 docentes na rede estadual de São Paulo estão em processo de readaptação, segundo estatística de novembro de 2019, do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp). Eles enfrentam preconceito e desamparo.

Rose, então, decidiu estudar o tema: em 2014, foi aprovada como bolsista no doutorado da PUC-SP, em linguística aplicada e estudos da linguagem, e publicou sua tese em outubro de 2020, aos 55 anos.



“Eu já vinha pesquisando sobre a identidade dos readaptados. Quando liguei para a escola e falaram que eu era a ‘readaptada da tarde’, percebi que já tinha até título para a tese. Foi uma frase emblemática. Não me senti ofendida, mas vi que precisava dar voz a esse grupo”, diz.

No livro “Atende aí que é a readaptada da tarde! Sentidos-e-significados do trabalho do professor em readaptação”, Rose analisa o discurso de docentes e conclui que a principal queixa deles é a exclusão social.



“O professor em readaptação é, na maioria das vezes, visto como ‘não professor’”, afirma a tese. Segundo a autora, são realocados, frequentemente, na secretaria ou nos corredores da escola, tratados com descaso e sem qualquer suporte médico para auxiliar em quadros de ansiedade e pânico.

Ao G1, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo afirma que planeja contratar um serviço de psicólogos para dar suporte aos professores readaptados e aos demais servidores e alunos que precisem de apoio emocional.



Também menciona que:

- criou o programa "Conviva São Paulo", "voltado para melhorar a convivência nas escolas";

- estabeleceu uma parceria entre comandantes da Polícia Militar e dirigentes de ensino, para casos de violência nos colégios.



Uma tentativa de voltar

Rose foi classificada como professora readaptada de 2012 a 2014. Terminado o período, ela precisava passar por uma perícia médica. “O departamento do estado só conseguiu marcar minha reavaliação em 2017. Em abril de 2018, saiu no Diário Oficial que eu deveria voltar a dar aula”, relata.

Ela tentou. “A pressão arterial subia, eu suava dando aula. Entrei com um processo de tutela antecipada, que é quando o juiz entende que não há condição de saúde de voltar. Ele aprovou, e continuei afastada da docência.”



Desde então, Rose auxilia na coordenação de um colégio público da zona leste de São Paulo.

Trajetória: sonhos, gravidez precoce e susto

Rose já sonhava em ser professora quando estava nas aulas de português do ensino fundamental 2. “Sabe quando o profissional te encanta? Você olha e diz ‘quero ser assim quando crescer?’”

Só que, aos 14 anos, ela engravidou e abandonou os estudos. “Foi uma necessidade, mais do que uma decisão. Eu não tinha outra escolha, porque o pai não deu nenhum apoio”, conta.



Quando sua filha, Helô, completou 5 anos, Rose voltou a estudar - fez o supletivo (na época, uma forma de cursar o ensino médio em 1 ano e meio) e, logo depois, prestou vestibular para letras. Foi aprovada na primeira tentativa.

Durante o curso, fez estágio como ouvinte em uma escola pública. E aí veio o primeiro susto.

“Eu me espantei com a diferença que era do tempo em que eu estudava. Uma bagunça. A professora de inglês ficava repetindo as mesmas coisas, ninguém dava atenção. Já foi uma amostra grátis de que não seria fácil”, afirma.



Ela se formou em 1991, mas só prestou concurso para ser professora em 2003, “justamente pelo receio do que tinha visto na sala de aula”. “É aquela história: meu diploma, tadinho, estava guardado. Depois de tanto tempo, decidi tentar.”

Seu primeiro emprego como professora foi como “eventual” - ela assumia turmas quando o titular faltava ou estava em licença. Em 2006, foi contratada como efetiva.



“Você respira fundo e vai. São 35 alunos na sala, mas a sensação é de solidão. É você e mais ninguém.”

Que os próximos não sofram tanto

Quando foi readaptada, Rose teve uma redução significativa na remuneração mensal. "Perdi adicional por tempo de serviço, não pude mais fazer prova de mérito [forma de conseguir promoção na carreira]. Estar em licença médica conta como se fosse 'quebra de assiduidade'", conta.



Para solucionar a questão, a professora luta para que as doenças causadas pelo exercício da docência sejam consideradas "acidentes de trabalho". "Gostaria que quem entrou em readaptação por causa desses problemas tivesse o mesmo direito de todos os acidentados em serviço".

Rose redigiu, então, o texto do projeto de lei 411/2020, apresentado pelo deputado estadual Carlos Gianazzi (PSOL-SP). A intenção é garantir mais direitos "aos professores readaptados, em processo de readaptação e em licença médica prolongada". Desde julho, o projeto está na Comissão de Constituição, Justiça e Redação.

*Com informações de G1.






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