Em meio ao crescimento do número de casos de covid-19, pais experimentam alívio e preocupação na retomada às aulas presenciais nas escolas particulares em São Paulo. A educadora Luciana Tofanelli Scaccabarozzi, 47 anos, mãe de Luan, de 11 anos, afirma que o filho acordou às 6h30 ansioso para se arrumar para o primeiro dia oficial de atividades presenciais. "Reforcei com ele todas as regras, falei para ele não encostar em nada e mandei uma garrafa d’água própria", disse. "Estou confiante nas diretrizes da escola, mas assim que ele chegar vai tirar o uniforme, tomar banho e higienizar a mochila."
Após seguidas batalhas na Justiça, as escolas estaduais e municipais foram autorizadas a retomar as atividades presenciais. No entanto, as redes estadual e particular têm calendários diferentes para a retomada. As primeiras instituições a receber os alunos com protocolos de saúde foram as particulares. As escolas estaduais têm previsão de retorno dia 8 de fevereiro e as municipais, dia 15. Uma das regras sanitárias para o retorno é que as salas de aula tenham até 35% da capacidade máxima de ocupação.
De acordo com o Sindicado dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (Sieeesp), 70% dos pais que possuem filhos em escolas particulares aderiram o retorno às aulas presenciais. Segundo o presidente da entidade, Benjamin Ribeiro da Silva, os colégios privilegiaram alunos entre 0 a 8 anos, com mais dificuldades com o ensino remoto. Segundo ele, a adesão, nesta segunda-feira (1º), foi em massa.
De acordo com ele, as escolas particulares se capacitaram, compraram equipamentos e contrataram assessorias. Além disso, adotaram protocolos de divisão de intervalos, aulas em ambientes abertos, distanciamento social e cuidados com a limpeza.
O filho de Luciana, Luan, participou das atividades escolares de forma online por sete meses. 'Acompanhei tudo diariamente, fazia um cronograma e colocava as informações principais em uma lousa para não perder nada”, diz ela. Em outubro, a educadora lembra que houve um retorno parcial às aulas presenciais. Segundo ela, a escola chegou a fazer uma enquete sobre a opinião dos pais em relação ao retorno presencial. “Comecei a levá-lo todos os dias, mas percebi que não tinha movimento. Mesmo assim, ele ficou até a 1ª quinzena de dezembro."
Agora, Luciana conta que as regras estão mais rígidas. “Pediram para não levar boné, relógio ou qualquer outro objeto pessoal”, diz. “Na hora do intervalo, eles serão orientados a trocar de máscara.” Apesar do medo da contaminação, Luciana prefere o ensino presencial. Nos meses de aulas virtuais, ela começou a perceber que o filho demonstrava sinais de irritação ao acompanhar as aulas. “A internet caia, o aplicativo não funcionava direito, os alunos não respeitavam o professor, desligavam a câmera”, diz.
Tudo começou a piorar, segundo Luciana, quando a escola passou a adotar aulas online ao invés de gravações. “Ele chegou a me dizer: ‘mãe, não estou mais aguentando’ e começava a chorar. Com a suspensão das aulas presenciais, Luciana também enfrentou dificuldades. Além de acompanhar as matérias com Luan, ela tinha que dar conta das aulas que assistia na faculdade. “Consegui me adaptar bem, mas o pior foi sentir que ele não estava se adaptando."
A dona de casa Flávia Thomaz Alves, de 35 anos, também sentiu sinais de estresse e irritação na filha Lavínia Thomaz Rodrigues Alves, de 5 anos. “Ela teve aulas online por oito meses. Como acordava e não tinha uma rotina muito estabelecida, nós a incentivamos a assistir as aulas, conversar virtualmente com os amigos e entender que ainda tinha uma rotina escolar”, disse. Apesar disso, Flávia afirma que o comportamento da menina foi duramente afetado pela pandemia. “Conviver muito com os adultos, uso excessivo de telas, falta dos amigos, a chegada da irmã fez com que ela chorasse com facilidade. Ela ficou sem saber lidar ao ser contrariada e esse comportamento se refletia nas aulas online com crises de choro”, disse.
Flávia afirma que, apesar da vontade de voltar às aulas presenciais, a filha teve dificuldades na hora de se distanciar dos pais. “Ela chorou quando a gente deixou na escola, mas depois eles costumam mandar foto de como ela está.” Pensando em facilitar o processo de adaptação, Flávia matriculou a filha em um curso de férias em janeiro. “Comecei a mandá-la porque sabia que seria difícil”, diz. “Agora, ela já sabe direitinho o que fazer: passa álcool em gel nas mãos e usa máscara. Já está familiarizada com a rotina. Mesmo assim, recomendamos não tocar nas coisas e evitar abraçar os colegas.”
Para Flávia, manter os protocolos sanitários será um desafio para os educadores. “As crianças querem se abraçar, deixam as máscaras cair, sabemos que não é simples”, afirma. “A retomada é preocupante, mas estamos confiando na ciência. Hoje, a necessidade dela de estar no ambiente escolar é grande e supera o risco da contaminação.”
Durante o período das aulas online, Flávia teve a segunda filha, Valentina, período em que o dia a dia se tornou ainda mais exaustivo. “Entre maio e junho, tive que deixar de assistir as aulas com ela para acompanhar a gravação depois, quando conseguia”, diz. “Agora, estou aliviada por ter um pouco do meu tempo de volta, mas, ainda assim, a possibilidade de trazer o vírus para dentro de casa é uma grande preocupação.”
A filha da relações públicas Sefirah de Araújo, de 33 anos, também voltou às aulas nesta segunda-feira. Helena parou de frequentar as aulas presenciais em março, no início da pandemia, e participou das atividades virtuais até junho do ano passado. “Ela estava muito dispersa, demorou para se adaptar”, disse Sefirah. “Como entrei em outra licença maternidade não consegui mais acompanhar as aulas com ela.” A grande dificuldade para Sefirah veio quando o irmão de Helena nasceu. “Ele estava gostando de ficar em casa, mesmo com a correria. Mas, nesse período, foi um grande desafio porque a criança precisa ter os momentos próprios: socializar com as outras, desenvolver relações.”
Sefirah afirma que, nos últimos meses, tentava suprir as necessidades da filha de todas as formas. “Conseguimos suportar até agora, mas passar por mais um ano nessas condições seria muito difícil”, diz. “Por mais que, na idade dela, estar na escola ainda não seja obrigatório, eu não estava mais conseguindo proporcionar atividades para o desenvolvimento dela. Estava sempre tentando elaborar um arsenal de coisas para ela se distrair.” Na manhã desta segunda-feira, mãe e filha acordaram animadas para a retomada. “Não tive dúvidas quando soube que as atividades presenciais voltariam. Agora vou conseguir trabalhar mais focada.”
A mãe de Helena afirma que, neste momento, a maior expectativa é saber como a menina se comportará nos próximos dias. “Vamos acompanhar a parte psicológica e emocional. Antes, ela estava sempre procurando o que fazer e nós sentíamos culpa por não conseguir ocupá-la da forma ideal.”
O fotógrafo Christian Koenenkamp, 48 anos, também acompanhou o primeiro dia de retorno do filho Théo, de 5, à escola. Aluno de uma instituição particular, ele participou de atividades de acolhimento para recepcionar novos estudantes na quinta e sexta-feira da semana passada. “Começar em uma escola nova depois de um ano em casa é um pouco difícil”, diz Koenenkamp. Théo estava no Jardim 2 quando as aulas presenciais se transformaram em atividades onlines. “Mas, nossa família teve estrutura para acompanhar as aulas com ele.”
O pai de Théo conta que, todas as manhãs, ele se sentava junto ao filho para apoiá-lo. “Fazia as vezes de professor, conseguimos fazer isso por um ano”, diz. “Estou muito feliz por ele ter voltado agora porque o prejuízo que essas crianças terão em termos de desenvolvimento será muito grande”, afirma. “Ao mesmo tempo, sinto medo pela possibilidade de alguma criança voltar da escola contaminada. Talvez, se os adultos fizessem o isolamento social da forma correta, tivéssemos mais segurança de mandar os filhos de volta às escolas.”
Ansioso, Théo saiu para a escola no começo da manhã desta segunda-feira. Na mochila, o álcool em gel pendurado mostrava o cuidado e a atenção com os novos protocolos sanitários adotados pela escola. “Ele sabe que tem que usar máscara e lavar as mãos o tempo todo. O que se pode fazer está sendo feito", diz Koenenkamp. "A grande dúvida é sobre o que vai acontecer quando surgirem os primeiros casos de crianças que testarem positivo para a covid-19. As aulas online ficarão sempre no gatilho."
*Com informações de R7.
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