“Não sou negacionista. Nunca neguei ou duvidei da doença
[covid-19]. Tanto que minhas ações não ficaram só no discurso. Mandei 200
cilindros de oxigênio para Manaus, no valor de R$ 1 milhão. Respiradores,
máscaras, camas, utensílios. Não sou nem nunca fui contra vacina. Tanto que
disponibilizei todos os nossos estacionamentos como pontos de vacinação. Além
disso, juntamente com outros empresários, fizemos campanha para que a
iniciativa privada pudesse comprar [vacinas] para doar e ajudar o país a
acelerar o processo de imunização”, afirmou.
Aos senadores, o empresário disse ainda que é “acusado sem
provas e perseguido” por expressar opiniões. Hang acrescentou que não conhece e
não faz parte de um suposto gabinete paralelo – formado por pessoas que teriam
aconselhado o presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia – e negou ter
financiado esquemas de fake news.
Ainda em sua fala inicial, o depoente, investigado por
disseminar notícias falsas, disse que deseja apenas exercer seu direito de
“liberdade de expressão”. “O que eu peço pro Senado é que me deixem falar. Hoje
eu vim aqui com tempo, a minha agenda está aberta aos senadores. Mas também
quero tempo para poder dar a minha resposta. Talvez hoje seja o melhor dia da
CPI. Vamos manter a nossa fala tranquila. Quem tem argumentos não precisa
aumentar a voz”, ressaltou.
À CPI, o empresário disse que desde 2018 é um “ativista
político”. Ele acrescentou que o nome de sua mãe, Regina Hang, de 82 anos, que
morreu em fevereiro depois de ser internada com covid-19, foi utilizado de
forma “vil” e “política”.
A mãe de Hang foi tratada no Hospital Sancta Maggiore, da
rede da operadora Prevent Senior. A empresa é investigada pela CPI por
supostamente ter imposto aos seus médicos que prescrevessem a seus pacientes o
tratamento com medicações sem comprovação científica para tratamento da
covid-19. Segundo denúncias levadas à CPI, no atestado de óbito da idosa não há
nenhuma menção ao novo coronavírus, contrariando recomendação expressa do
Conselho Federal de Medicina (CFM).
O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL) levantou a
suspeita de que a omissão por parte de Hang esteja relacionada à tentativa de
não desqualificar o chamado “tratamento precoce”, do qual o empresário é
defensor. “É duro para mim ver a morte da minha mãe sendo usada politicamente,
de forma baixa e desrespeitosa. Não aceito desrespeito a morte da minha mãe.
Tenho consciência de que como filho sempre fiz o melhor por ela”, ressaltou
Hang.
“O senhor é que trouxe o debate falando, suas palavras são
claras: ‘se minha mãe tivesse usado o tratamento precoce, talvez ela teria sido
salva’. Não fomos nós que trouxemos sua genitora para esse debate”, reagiu o
presidente do colegiado, senador Omar Aziz (PSD-AM).
O empresário defendeu o uso de medicação sem eficiência
comprovada e, sem sucesso, sob críticas de parlamentares independentes e de
oposição ao governo, quis convencer a cúpula da CPI de que há diferença entre
tratamento precoce e preventivo. O primeiro, disse, é feito na fase inicial da
doença e o segundo, realizado antes do contato com o vírus. Ainda de acordo com
o depoente, Regina Hang não teria tomado os medicamentos “preventivos” antes de
ser acometida. Na avaliação dele, se a medida tivesse sido tomada, talvez ela
estivesse viva.
Financiamento
Durante a fase de perguntas feitas pelo relator, o empresário
confirmou que tem três empresas em paraíso fiscal, assim como "duas ou
três contas" no exterior, mas, segundo ele, todas estão devidamente
declaradas e regularizadas perante a Receita Federal. Hang disse que desde 1993
passou a importar produtos e, por isso, considera uma questão de segurança
manter contas no exterior para se proteger das oscilações do dólar.
Perguntado se recebeu financiamento de instituições públicas,
como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Hang disse
que não e que optou por bancos privados. O empresário admitiu, no entanto, ter
recorrido à Agência Especial de Financiamento Industrial (Finame), uma
subsidiária do BNDES, para comprar máquinas no valor de R$ 50 milhões.
Cesta
básica
Questionado sobre os motivos de as lojas Havan, de
propriedade de Hang, terem passado a vender cestas básicas, em meio às medidas
de restrição adotadas para conter a disseminação do coronavírus em 2020, Hang
negou que sua intenção tenha sido driblar a legislação para abrir as portas das
lojas.
Segundo ele, a Havan possui Cadastro Nacional de Atividades
Econômicas (Cnae) para vender alimentos em qualquer município e é a que “mais
vende chocolates” no Brasil. O empresário, no entanto, não explicou o motivo de
ter começado a vender cesta básica somente após o início da pandemia.
Material
Entre os vários momentos tumultuados da oitiva, Hang irritou
os parlamentares ao levar placas em verde e amarelo com dizeres como: "Não
me deixam falar". O material foi recolhido pelo presidente da comissão.
Ao passar pelo detector de metais na chegada ao Senado, ele
também teve um par de algemas apreendido. O objeto foi o mesmo usado pelo
empresário em um vídeo postado nas redes sociais. Na publicação, ele aparece
com algemas e diz que elas seriam usadas por ele, caso recebesse voz de prisão
na CPI. Ao falar sobre o vídeo hoje na comissão, Hang disse que o Brasil
precisa ter mais senso de humor.
“Nós brasileiros estamos com o elástico muito esticado. Nós
precisamos ter bom humor. Daqui a pouco, não vai ter nem mais programa de
humor. É uma forma de eu me comunicar com o povo. Não quis de forma nenhuma
afrontar esta Casa e seus senadores”, justificou.
Habeas
corpus
Luciano Hang está acompanhado por dois advogados. Apesar de
não ter pleiteado habeas corpus junto ao Supremo Tribunal Federal, como
investigado, Hang usou a prerrogativa de não precisar responder a
questionamentos que o incriminem, por isso, não prestou compromisso de dizer a
verdade hoje.
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