Pesquisadores criam algoritmo para analisar ressonância magnética - Análise das imagens pode ajudar a prevenir doenças na gravidez
Pesquisadores brasileiros do Instituto de Matemática Pura e
Aplicada (Impa) desenvolveram um algoritmo que analisa imagens de ressonância
magnética com rapidez e precisão, o que pode ajudar médicos a detectar
problemas na gestação.
Esse algoritmo consegue detectar, com taxa de 93% de acerto,
o que é o líquido amniótico, substância que envolve o bebê em desenvolvimento.
Uma das funções do líquido amniótico é proteger o feto.
A quantidade de líquido amniótico pode interferir no desenvolvimento
do feto. Um menor volume de líquido ou uma quantidade em excesso podem trazer
dificuldades para a gestação, caso não sejam tratadas adequadamente.
“Ver a normalidade do líquido amniótico é muito importante
porque ele reflete, primeiro, o bem estar do feto, e reflete também a
possibilidade de algumas patologias”, disse Heron Werner, médico da empresa de
medicina diagnóstica Dasa e um dos responsáveis pelo estudo.
Segundo ele, se a quantidade de líquido amniótico estiver
aumentada, isso pode significar uma patologia gastrointestinal ou uma má
formação do sistema nervoso central do feto. Também pode significar que a mãe
tem diabetes.
Referentes ao período de 2006 a 2015, os dados tornam o
Brasil o sétimo da América do Sul no quesito taxa de gravidez adolescente - Algoritmo
desenvolvido poderá ser embutido em máquinas de ultrassom - Ana
Nascimento/MDS/Portal Brasil
Exame
Atualmente, a maneira como o volume do líquido amniótico é
calculado é subjetiva. Quando um exame de ultrassom aponta algum problema para
a gestação, os médicos solicitam um novo exame, uma ressonância magnética.
“A ressonância é um exame que a gente usa para ajudar na
ultrassonografia quando o feto tem algum problema [identificado] no ultrassom.
A vantagem da ressonância é que ela me dá uma visão do conteúdo uterino como um
todo, que a ultrassonografia não consegue dar numa imagem só. Com ela consigo
ter informação em cortes de todo o volume uterino. Além disso, o líquido
amniótico tem um sinal muito aumentado na ressonância, o que o destaca do resto
do conteúdo uterino, que seria o feto, placenta e cordão umbilical”, explicou
Werner.
Após essa ressonância, o médico então começa a analisar as
imagens. "Se eu quisesse um cálculo de precisão, eu teria que pegar todos
os cortes da ressonância, desenhar a área do liquido amniótico em cada corte e
fazer o cálculo. E isso iria levar horas já que tenho em torno de 200 cortes em
uma ressonância”, disse o médico.
“Em casos usuais, a maneira como é estimado o líquido
amniótico é totalmente no olho. Ele [médico] olha na barriga, vê o tamanho da
circunferência e decide se é pouco não. Poucos médicos fazem isso bem. E isso é
perigoso justamente pelo fato de que essa quantidade de líquido é indicativa
[de patologias]”, disse o pesquisador do Impa.
Inteligência
artificial
Com o desenvolvimento dessa inteligência artificial, desse
algoritmo, esse processo pode ficar mais rápido e eficiente. Por meio dela,
essa estimativa de volume do líquido amniótico pode ser feita em cinco
segundos: ou seja, se ela já estivesse plenamente desenvolvida e em operação,
uma gestante poderia saber o volume do líquido enquanto estivesse ainda fazendo
o exame de ressonância magnética.
Para desenvolver essa inteligência artificial, a Dasa enviou
aos pesquisadores do Impa cerca de 700 exames de ressonância magnética, com
anotações dos médicos delimitando o que era ou não o líquido amniótico. “O que
a gente queria era construir um algoritmo que conseguisse replicar o mesmo
nível de acurácia que um médico que teve anos de treinamento tem. Dividimos
esses 700 exames em duas classes: uma de treino; outra de testes. Destes 700
[exames], 500 exames foram usados para treinar nosso algoritmo e 200 exames
foram usados para testar se o algoritmo estava indo bem ou não", explicou
o pesquisador do Impa.
Depois dessa etapa de treinamento, vem a fase dos testes.
“Depois de treinar e do algoritmo ter visto esses 500 exames, pegamos 200 exames
que ele nunca viu, exames que ele não decorou, e a gente volta a perguntar a
ele o que é ou não liquido amniótico”, disse Orenstein.
Esse processo todo, disse ele, ocorre por tentativas e erros.
E durante essa preparação da inteligência artificial para identificar o líquido
amniótico, houve um grande erro: o algoritmo apontou como líquido amniótico o
que, em verdade, foi analisado por um médico como um cisto. Depois disso, o
pesquisador “ensinou” o algoritmo a entender esse novo processo.
Próximos passos
Em entrevista à Agência Brasil, o pesquisador do Impa disse
que um dos próximos passos para o desenvolvimento dessa tecnologia é continuar
recebendo mais dados para aprimorar a capacidade do algoritmo e poder
identificar outros problemas. Hoje, ele está sendo estudado para identificar o
volume do líquido amniótico. Mas uma das intenções dos pesquisadores é permitir
que ele identifique também, por exemplo, os órgãos do feto.
“Se tivermos um feto cujo cérebro esteja com tamanho menor do
que o esperado para aquela idade, nosso algoritmo hoje não identificaria isso.
Mas nossa esperança é evoluir nessa direção mais complicada do problema, e
tentar dar uma solução mais abrangente para outros tipos de patologia”, disse
Orenstein.
Para Werner, esse algoritmo poderá permitir que o médico
avalie, com mais precisão, a necessidade de intervenções intrauterinas.
“Existem intervenções intrauterinas que podem ser feitas e ajudar no bem estar
fetal. Em muitos casos, não precisa. Mas ele [o algoritmo] chama a atenção para
fazer esse acompanhamento”, disse o médico Werner.
Comentários
Postar um comentário
Olá, agradecemos a sua mensagem. Acaso você não receba nenhuma resposta nos próximos 5 minutos, pedimos para que entre em contato conosco através do WhatsApp (19) 99153 0445. Gean Mendes...