Crescem reclamações sobre cobranças indevidas de crédito consignado - Saiba o que fazer em caso de contratos não solicitados
Considerado vantajoso por ter uma das menores taxas de juros
do mercado, o chamado empréstimo consignado - aquele no qual as parcelas são
descontadas automaticamente do salário ou do benefício do Instituto Nacional do
Seguro Social ( INSS), no caso de aposentados e pensionistas – tem virado dor
de cabeça para muita gente. Prova disso é que problemas com consignados não
solicitados por clientes estão no topo das reclamações de consumidores.
Em relação aos registros, a Secretaria Nacional do Consumidor
(Senacon), ligada ao Ministério da Justiça, possui duas bases de dados de
reclamações dos consumidores brasileiros. Uma delas é a plataforma
consumidor.gov.br. O serviço é público para solução alternativa de conflitos de
consumo por meio da internet e permite a interlocução direta entre consumidores
e empresas. A outra base de dados é o Sistema Nacional de Informações de Defesa
do Consumidor (Sindec). Esse sistema integra hoje 26 Procons estaduais, o do
Distrito Federal, além de 604 Procons municipais.
Reclamações
Muitas das fraudes são realizadas a partir do vazamento de
dados dos clientes, mas nem bancos, nem o INSS ou a Dataprev assumem
responsabilidade na questão. Segundo dados do portal consumidor.gov, entre
janeiro de setembro de 2020, foram registrados 42.508 queixas de problemas com
crédito consignado e de cartão de crédito consignado para beneficiários e
aposentados do INSS. No mesmo período deste ano, as reclamações passaram para
81.356, um aumento de 91%.
No Sindec, as reclamações relativas a crédito consignado,
para o público em geral, tiveram aumento de 172%. O crescimento no número de
demandas foi registrado de janeiro a setembro de 2021, em comparação ao mesmo
período de 2020, quando as queixas saltaram de 16.683 para 45.402, sendo o 10º
problema mais reclamado.
Junto ao Banco Central, quando a busca é feita por assunto,
reclamações sobre ofertas ou prestação de informações relativas a crédito
consignado de forma inadequada, ficaram em primeiro lugar, no segundo trimestre
de 2021, com 4.223 registros.
Febraban
Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), um dos
fatores que contribuiu para o número de fraudes envolvendo o consignado foi o
fato de, em outubro do ano passado, o governo ter editado uma medida provisória
que ampliou de 35% para 40% a margem dessa modalidade como medida de incentivo
à economia durante pandemia de covid-19. Em março deste ano, depois de aprovada
pelo Congresso, o presidente Jair Bolsonaro sancionou a lei, que terá validade
até 31 de dezembro.
A medida, segundo o diretor de Autorregulação da Febraban,
Amaury Oliva, também refletiu em casos de instituições financeiras oferecendo o
crédito sem o consentimento dos clientes. Oliva diz que, desde 2020, a Febraban
instituiu uma norma de autorregulação. A medida formalizou diretrizes e
procedimentos fundamentais a serem seguidos por instituições financeiras em
seus negócios.
Nesse sentido, além de um sistema de bloqueio de ligações
automáticas para consumidores que não desejem receber ofertas, o “não
perturbe”, a norma criou uma base de dados para monitorar reclamações sobre
oferta inadequada e frequente. Há ainda ferramentas de estímulo à transparência
e o combate ao assédio e importunação comercial.
“Desde o ano passado foram aplicadas 605 sanções a
correspondentes bancários. As punições vão desde advertência à suspensão
permanente da relação comercial com bancos”, explicou Oliva. Como os
correspondentes operam com mais de um banco, ele acrescentou que todos aplicam
suspensão ao mesmo tempo para que a sanção seja efetiva.
Sobre o serviço de bloqueio de ligações indesejadas em
parceira com empresas de telecomunicações, ele ressalta que o sistema já tem
mais de 2 milhões de bloqueios. Questionado sobre o porquê de as reclamações de
irregularidades ainda não tenham registrado queda, Oliva destacou que a
Febraban tem “trabalhado para fortalecer esses sistemas”.
Segundo o INSS, segurados que não reconheçam o empréstimo
devem procurar imediatamente o banco pagador para registrar a reclamação. Outra
orientação é registrar queixa no Portal do Consumidor. “Destacamos ainda que o
INSS não entra em contato com segurados por meio de ligações, mensagens ou
e-mails para oferecer serviços de empréstimo consignado. A contratação de
qualquer empréstimo consignado é uma operação realizada diretamente entre o
banco e o cliente”, alertou o órgão.
Ainda segundo o órgão, o próprio segurado pode solicitar o
bloqueio de contratação de operações de crédito consignado por meio do Meu
INSS, site ou aplicativo ou pelo telefone 135, que funciona das 7h às 22h, de
segunda a sábado. O atendimento deste serviço será realizado à distância, não
sendo necessário o comparecimento presencial nas unidades do INSS.
Críticas
Para coordenadora do Programa de Serviços Financeiros do
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Ione Amorim, como nos
bancos há cada vez menos atendimentos presenciais e muito incentivo à solução
de problemas e contratação de serviços de forma online, cresceu muito a atuação
dos correspondentes bancários. Na prática, são empresas contratadas por
instituições financeiras e outras autorizadas pelo Banco Central para a
prestação de serviços de atendimento aos clientes e usuários dessas
instituições.
Uma das críticas feitas pela especialista é de que, embora o
Conselho Monetário Nacional (CMN) tenha alterado em julho a regulamentação dos
correspondentes bancários, com a cobrança de mais controle dos bancos sobre
essas empresas para coibir fraudes, a fiscalização ainda é insuficiente e as
sanções muito poucas. “Hoje seis instituições, entre elas a Febraban, podem
credenciar correspondentes bancários, mas esse credenciamento ainda é muito
simples. Para atuar nessa área é preciso fazer apenas 'um cursinho online
rápido'”, disse. “Não adianta mudar a norma, se não há fiscalização. Quem age
de má-fé e descumpre as normas vai continuar descumprindo porque a sanção não
chega.”
Uma das regras em vigor, destaca Ione, é que todo
correspondente tenha o CPF nas operações feitas para identificar que ele é o
responsável por aquela contratação, mas na prática, fraudadores terceirizam a
operação para escapar de identificação.
Sobre a atuação do INSS, a representante do Idec avalia que
órgão deveria ter uma campanha de esclarecimento junto aos consumidores,
especialmente para esclarecer que não oferece esse tipo de serviço.
Dicas
Ione Amorim diz que aposentados e pensionistas idosos são as
principais vítimas das contratações indesejadas. Segundo ela, em muitos casos,
a abordagem dos correspondentes é feita de tal maneira a confundir e induzir o
consumidor aceitar o produto. Entre as dicas dadas pela economista está a
consulta periódica a sua conta-corrente para verificar o valor do benefício.
“Toda vez que aparecer no extrato 'reserva de margem' o consumidor deve ficar
em alerta. Esse é um sinal de que uma contratação desse tipo pode estar em
andamento”, explica.
Outra recomendação para evitar problemas é consultar a página
do Banco Central e acessar o serviço de Registrato. O sistema, administrado
pelo Banco Central, permite aos cidadãos terem acesso pela internet, de forma
rápida e segura, a relatórios contendo informações sobre relacionamentos com as
instituições financeiras, operações de crédito e de câmbio. Assim, o consumidor
pode verificar se há na lista transações desse tipo com instituições
financeiras que ele não reconhece para então denunciar.
Também é importante nunca contratar empréstimos pelo telefone
e não fornecer o número de CPF nem o do cartão do INSS para quem quer que seja.
Se o desconto já foi debitado do seu benefício, é preciso
agir o quanto antes: Procure o banco que fez o depósito indevido e tente
solução amigável. Há casos em que a instituição reconhece a ilegitimidade da
operação e emite boleto para que o aposentado devolva o dinheiro creditado
indevidamente; registre boletim de ocorrência na delegacia para que sejam
investigados crimes de acesso indevido a dados pessoais, bem como importunação
e fraude; não compartilhe dados privados nas redes sociais ou em sites de
credibilidade duvidosa; formalize ainda a denúncia no Procon e na Secretaria
Nacional do Consumidor (Senacon), por meio do site consumidor.gov.br; na sua
conta virtual do site Meu INSS, acione a opção que bloqueia os empréstimos
consignados. Se essa ferramenta estiver ativa, novas operações de crédito não
poderão ser averbadas no benefício. Caso o aposentado realmente necessite de
empréstimo consignado tempos depois, o desbloqueio pode ser feito rapidamente
no Meu INSS.
Nos casos em que a vítima recebe acima de três salários
mínimos, procure um advogado para saber a melhor forma de buscar a suspensão
dos descontos e o cancelamento da operação, pois será necessária uma ação
judicial. Para clientes cujo o benefício é inferior a três salários mínimos, um
defensor público pode ajudar.
*Agência Brasil
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