Falta de saneamento básico causa mais de 273 mil internações em 2019 - Dados foram divulgados nesta terça (5), pelo Instituto Trata Brasil
No Brasil, a falta de saneamento básico sobrecarregou o
sistema de saúde com 273.403 internações por doenças de veiculação hídrica em
2019, um aumento de 30 mil hospitalizações na comparação com ano anterior, além
de 2.734 mortes. A incidência de internações foi de 13,01 casos por 10 mil
habitantes, o que gerou gastos de R$ 108 milhões ao país naquele ano.
Os resultados são do estudo Saneamento e Doenças de
Veiculação Hídrica – ano base 2019, do Instituto Trata Brasil, divulgado nesta
terça-feira (5). O estudo foi feito a partir de dados públicos do Sistema
Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) e o Datasus, portal do
Ministério da Saúde que acompanha os registros de internações, óbitos e outras
ocorrências relacionadas à saúde da população.
No mesmo ano, a falta de acesso à água tratada e ao
esgotamento sanitário levaram a 2.734 mortes, uma média de 7,4 mortes por dia.
No Nordeste, as mortes ultrapassaram mil casos; no Sudeste, 907; no Sul, 331;
no Norte, foram 214; e, no Centro-Oeste, 213 óbitos registrados. Entre as
doenças de veiculação hídrica, estão as diarreicas, dengue, leptospirose,
esquistossomose e malária.
Além do atual desafio de saúde pública no país devido à
pandemia de covid-19, o Trata Brasil mostra que há ainda o desafio histórico da
falta de saneamento básico, que acaba levando pessoas aos hospitais
diariamente. Segundo dados de 2019, quase 35 milhões de pessoas vivem em locais
sem acesso à água tratada, 100 milhões de pessoas sem acesso à coleta de esgoto
e somente 49% dos esgotos no país são tratados.
As mais de 273 mil internações por doenças de veiculação
hídrica resultaram em um custo de R$ 108 milhões ao país em 2019. A região
Nordeste, que em números gerais registrou mais internações, teve a maior despesa
com esse tipo de internação - R$ 42,9 milhões. Na sequência, o Sudeste teve R$
27,8 milhões com gastos desse tipo, contra R$ 15,2 milhões do Norte, R$ 11,7
milhões do Sul e R$ 10,2 milhões do Centro-Oeste.
“Os dados
deixam claro que qualquer melhoria no acesso da população à água potável,
coleta e tratamento de esgotos traz grandes ganhos à saúde pública. Por outro
lado, o não avanço faz perpetuar essas doenças e mortes de brasileiros por não
contar com a infraestrutura mais elementar. São hospitalizações que poderiam
estar sendo destinadas a doenças mais complexas”, afirmou o
presidente executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos.
Com isso, o instituto afirma que as pessoas seriam mais
saudáveis, e o Brasil trabalharia para cumprir o sexto Objetivo do
Desenvolvimento Sustentável, firmado pela ONU, de universalizar o acesso à água
e aos serviços de esgotamento sanitário, além das metas do novo Marco Legal do
Saneamento, Lei 14.026 de 2020 que estipula o prazo até 2033 para 99% da
população ter acesso à água tratada e 90% à coleta dos esgotos.
Regiões
O estudo concluiu que as internações por doenças causadas
pela falta de saneamento se distribuem pelo país, refletindo as condições
sanitárias de cada região, e que a ausência dessa infraestrutura é mais
evidente na Região Norte. Lá, apenas 12% da população tem coleta de esgotos e
houve 42,3 mil internações por doenças de veiculação hídrica em 2019. De todo
volume de esgoto gerado na região – incluindo aquele coletado e o que não é
coletado – somente 22% são tratados.
O Sul foi a terceira pior região no que diz respeito ao
saneamento, com 46,3% da população tendo acesso à coleta dos esgotos e 47% do
esgoto gerado sendo tratado. No Centro-Oeste, 57,7% da população conta com
coleta dos esgotos e há 56,8% de tratamento do volume de esgoto gerado. Essas
duas regiões registram 27,7 mil internações cada.
Já o Sudeste apresentou os melhores indicadores, com 79,2% da
população com coleta de esgotos, com 55,5% do total de esgoto gerado sendo
tratado. Na região, houve 61,7 mil internações por doenças de veiculação
hídrica.
Apesar de o Sudeste apresentar números de internação maiores
que o Norte, ele tem sete vezes mais habitantes. Portanto, para uma comparação
entre bases iguais, o estudo calculou a incidência de internações por 10 mil
habitantes. Com isso, observou-se que os estados do Norte e Nordeste concentram
os maiores problemas com relação a hospitalizações.
As internações desse tipo, de crianças de zero a quatro anos,
correspondem a 30% do valor total, com 81,9 mil internações em 2019, sendo 35,2
mil no Nordeste, 17,6 mil no Norte, 15,6 mil no Sudeste, 6,78 no Sul e 6,7 no
Centro-Oeste. No mesmo ano, ocorreram 124 mortes de crianças nessa faixa
etária, sendo 54 delas no Nordeste, seguido do Norte com 41, Sudeste com 14,
Centro-Oeste com 12 e o Sul com apenas três.
Estados
Em números absolutos, o Amapá aparece como a unidade da
Federação com menos internações por doenças de veiculação hídrica em 2019, com
861, contra 38,2 mil no Maranhão, que teve o maior número de internações.
Ultrapassam a marca de 20 mil internações gerais por doenças de veiculação
hídrica os estados de Bahia (23,3 mil), de Minas Gerais (24,7 mil), São Paulo
(26 mil) e do Pará (28 mil).
Em relação à taxa de internações por 10 mil habitantes, o
Maranhão se mantém como o estado com maiores casos, com 54,4 internados a cada
10 mil, seguido de Pará com 32,62, e Piauí com 29,64. O estado do Rio de
Janeiro teve a menor taxa de internações por 10 mil habitantes, com 2,84,
seguido por São Paulo com 5,67 e o Rio Grande do Sul com 7,14.
Série
histórica
O estudo revelou que, de 2010 a 2019, o país registrou queda
nas internações por doenças de veiculação hídrica, passando de 603,6 mil para
273,4 mil. No entanto, houve aumento de cerca de 30 mil internações de 2018
para 2019.
Segundo avaliação da entidade, os resultados mostram que,
mesmo distante do ideal, a expansão do saneamento ao longo dos anos, com a
ampliação das áreas de cobertura com água tratada e coleta de esgoto, trouxe
ganhos à saúde, permitido a redução das doenças e das mortes por veiculação
hídrica. Isso porque, em 2010, 54,6% da população não tinha coleta dos esgotos,
enquanto nove anos depois, a população sem acesso foi reduzida a 45,9%.
No mesmo período, houve também queda no número de internações
de crianças de zero a quatro anos, passando de 200,6 mil em 2010 e para 81,9
mil em 2019.
Dados na
pandemia
Sobre a relação entre saneamento e doenças em 2020, o Trata
Brasil informou que dados preliminares mostram que o país teve 174 mil
internações por doenças de veiculação hídrica, o que representaria uma redução
de 35% em relação a 2019. No entanto, a entidade explicou que os dados precisam
ser analisados pelas instituições médicas, já que a queda pode estar
relacionada ao afastamento das pessoas dos hospitais por medo de contaminação
por covid-19.
As mortes por doenças de veiculação hídrica em 2020 foram
estimadas em 1,9 mil, o que também representaria uma redução entre 30% e 35% na
comparação com o ano anterior.
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