A escalada dos preços dos insumos foi a principal responsável
pelo aumento dos custos de produção da agropecuária em 2021.
O fertilizante, por exemplo, subiu mais de 100% de janeiro a
setembro deste ano, em razão da alta demanda, escassez da oferta mundial,
elevação dos preços internacionais e problemas logísticos.
No acumulado do ano, os preços da ureia, do MAP (fosfato
monoamônico) e do KCL (cloreto de potássio) subiram 70,1%, 74,8% e 152,6%,
respectivamente. Esse cenário de tendência de valorização dos preços de
fertilizantes deve permanecer em 2022, impactando na margem de lucro dos
produtores rurais.
As informações são do projeto Campo Futuro, iniciativa do
Sistema CNA/Senar que faz o levantamento de dados econômico-financeiros e técnicos,
assim como o acompanhamento dos preços dos insumos utilizados em mais de 40
atividades agropecuárias.
Metodologia
Em 2021 foram realizados 127 painéis virtuais de levantamento
de custos de 24 atividades produtivas, com a participação de 1.604 produtores
rurais de 20 estados e 110 municípios com significativa participação na
produção agropecuária brasileira.
O Custo Operacional Efetivo (COE) é uma das principais
variáveis analisadas no projeto Campo Futuro, pois inclui todos os itens considerados
variáveis ou gastos diretos, como insumos (fertilizantes, sementes e defensivos
agrícolas), operações mecânicas, comercialização agrícola, entre outros.
Glifosato
De acordo com os resultados do Campo Futuro, dentre os
defensivos agrícolas, o glifosato foi o que sofreu a maior alta (126,8%),
influenciada principalmente pela interrupção da operação de indústrias
fabricantes do insumo na China e problemas com o fornecimento de matéria-prima.
Segundo relato dos produtores, houve falta do produto em
algumas regiões, trazendo preocupações que vão além da elevação do custo.
Além dos insumos, o clima também afetou algumas atividades
agropecuárias. A estiagem no segundo semestre de 2020 e início de 2021
comprometeu o desenvolvimento da safra de café colhida este ano. No caso do
tipo arábica, houve redução de 10% da produção com relação ao volume pesquisado
em 2020.
Para as culturas de soja, milho, arroz, trigo, feijão e
algodão, o clima foi o principal desafio. As condições climáticas – desde a
falta de chuvas durante os plantios até o excesso no período da colheita –
tiveram muita influência em culturas com uma produção acima da safra anterior
(soja, trigo e arroz). O clima também afetou negativamente as produções de
milho e algodão.
As safras de feijão da seca e milho segunda safra foram
significativamente prejudicadas pela estiagem no primeiro semestre de 2021 e
geadas nos meses de inverno. Com isso, a produtividade do feijão teve redução
de 30,4% e do milho
segunda safra de 39,3%, quando comparada ao cenário
pesquisado em 2020.
Custo de produção por cultura
·
Soja – O Custo
Operacional Efetivo (COE) da soja na safra 2020/2021 foi cerca de 17% superior
se comparado à safra anterior, na média de todos os painéis. O grande aumento
ocorreu pela alta dos preços de fertilizantes e defensivos, que subiram 14,8% e
16,9% respectivamente. Entretanto, a produtividade média das lavouras de soja
também aumentou, atingindo 59,4 sacas por hectare, 8,6% acima da safra
anterior. O preço médio de venda do grão subiu 46,9% frente ao levantamento do
ano anterior.
·
Milho 1ª
safra – O principal gasto do milho primeira safra foi com o
controle de pragas, 25,7% superior à safra passada. Parte desse aumento se deve
ao ataque da Cigarrinha (Dalbulus maidis), que afetou a produtividade de
regiões ao Sul do país. Os municípios de Campos Novos e Xanxerê, em Santa
Catarina, por exemplo, registraram produtividades de 110 e 130 sacas por
hectare respectivamente. A produtividade média de todos os painéis avaliados
pelo Campo Futuro para o milho de primeira safra foi de 160 sacas por hectare.
·
Milho 2ª
safra – O atraso no plantio da soja retardou o plantio do milho de
inverno, que também passou por geadas próximas à colheita. A produtividade
média da cultura em 2020/2021 foi de 63,8 sacas por hectare, 39,3% abaixo do
observado na safra anterior, com 105,2 sacas por hectare de média. Regiões no
Sul e Sudeste do país, como Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo, foram as
mais afetadas. Em Londrina (PR), a área média da região definida para o cultivo
de milho safrinha foi de 90 hectares, com apenas 20,7 sacas por hectare de
produtividade média. Em Dourados (MS), com 280 hectares, a produtividade foi de
15 sacas por hectare. O bom momento dos
preços de venda do cereal auxiliaram a assegurar uma receita bruta 2,7% acima
do ano anterior. A margem bruta, porém, ficou 4,1% abaixo da média do ano
anterior, mas ainda assim positiva.
·
Feijão – O Custo
Operacional Efetivo do feijão primeira safra em Santa Catarina e no Paraná
registrou aumento de 7% ante a média pesquisada para a safra anterior. Os
fertilizantes foram responsáveis pela maior parte da alta, subindo 17,8% de uma
safra para a outra. A produtividade recuou 20,6% devido a problemas causados
principalmente pelo clima. O preço médio de venda 38,7% acima da temporada
anterior garantiu uma margem bruta positiva, e praticamente igual ao observado
na última safra.
·
Arroz e
Trigo – Ambas as culturas cultivadas principalmente no Sul do país
tiveram ganhos consideráveis de produtividade. O arroz cultivado no Rio Grande
do Sul registrou produtividade 5% superior ao ano anterior. Enquanto o trigo,
no Paraná, teve um incremento de 19%. O COE também subiu para os dois cultivos,
com 34% de alta para o arroz e 23,7% para o trigo. Porém, os elevados preços
médios de venda garantiram boas margens para as duas culturas, que apresentavam
nível elevado de risco de cultivo. A boa safra deste ano dá um suporte
adicional aos produtores e ameniza parte do prejuízo de safras passadas.
·
Café – Os
painéis de levantamento de custos da cafeicultura foram realizados nos estados
do Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia, Rondônia, Paraná e São Paulo. O Custo
Operacional Efetivo do tipo arábica teve aumento de 15% em relação ao
levantamento realizado em 2020. Já o COE do conilon sofreu alta de 31,3% ante
2020. O fertilizante foi o item que mais impactou no bolso do produtor, sendo
20,8% para o arábica e 34,2% para o conilon na média das regiões. Houve aumento
de receita (preço de comercialização do produto no período x produção) de 54%
do café arábica e 35,4% do café conilon. A valorização das cotações do café foi
resultado da menor oferta mundial (produção brasileira de bienalidade negativa
+ redução de produtividade) e problemas logísticos para escoamento da safra em
países produtores. Para 2022 deve haver aumento ainda mais significativo nos custos
com fertilizantes, podendo impactar negativamente na margem dos produtores.
·
Cana-de-açúcar – Apesar
do clima adverso e da alta de custos, a atividade teve resultados positivos. A
recuperação dos preços ocorreu ao longo do ano, sendo que a safra nordestina,
iniciada em setembro de 2020, beneficiou-se menos das altas que o Centro-Sul,
cuja safra começou em abril de 2021. Esse cenário favoreceu a obtenção de
resultados econômicos positivos aos produtores. Na região Nordeste (PE, PB e
AL), houve aumento de 29% do Custo Operacional Efetivo, em relação ao
levantamento realizado em 2020. Já na região Centro-Sul (GO, MT, MG, SP e PR),
essa alta foi de 27%. Fertilizante foi o item que mais impactou no bolso do
produtor de cana. Na região Nordeste a alta foi de 163% e no Centro Sul 110%.
Já os defensivos tiveram alta de 114% no Nordeste e de 43% no Centro-Sul.
·
Pecuária de
corte – Dos 22 modais produtivos, pesquisados entre junto a
setembro deste ano, 8 não foram capazes de gerar recursos suficientes para
arcar com os custos diretos de produção, bem como as despesas com depreciação e
pró-labore, operando com margem líquida negativa. Nos painéis de recria e
engorda, o desembolso com a aquisição de animais para reposição representou em
média 64,8% do COE e nos de confinamento 62,6%. Dado a um ágio médio de 35% da
arroba desses animais sobre a arroba que o produtor comercializou, o desafio em
termos de margem foi alto. De janeiro a setembro de 2021, o Custo Operacional
Efetivo dos sistemas de recria e engorda acumularam alta de 15,2% em relação a
2020. Já o modelo de ciclo completo teve aumente de 10,6% no COE e os sistemas
de cria 16,1% ante os painéis do ano passado. Para obter os dados, o projeto
Campo Futuro visitou 17 regiões nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e São Paulo.
·
Pecuária de
leite – O Campo Futuro visitou 19 regiões produtoras nos estados
do Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Rondônia, de
junho a setembro. Segundo dados do levantamento, os sistemas de produção de
leite que operaram com maior eficiência produtiva, alcançando resultados
maiores que 10 mil litros por hectare ao ano, foram os que apontaram os
melhores resultados financeiros. Em média uma margem liquida de R$ 0,04 por
litro. Já os modelos de média e baixa produtividade acabaram operando com
margem líquida negativa, sendo os que mais sentiram os efeitos da alta nos
custos na atividade leiteira. Em linhas gerais, de janeiro a setembro, o Custo
Operacional Efetivo acumula 15,7% de elevação, sendo que os componentes
ração/concentrado tiveram alta de 15% e o sal mineral 24,7%. No mesmo período,
a receita gerada pela comercialização do leite cresceu 15,8%.
·
Avicultura
de corte – Os modelos analisados pelo Campo Futuro apontam a
realidade produtiva de cinco sistemas de integração situados nos estados de
Santa Catarina e Paraná. Em termos médios, a taxa de giro do capital investido
foi de 18%, fruto de uma receita com atividade pressionada e um elevado estoque
de capital médio por ave (em média R$ 4,50 por ave alojada). O item de maior impacto
nos custos de produção foi o gasto com a mão-de-obra (26,7%). Em seguida os com
energia (19,5%) e aquecimento dos aviários (18,2%).
·
Suinocultura – Os
modelos de integração para Unidades de Terminação de Suíno obtiveram como maior
item de custo o gasto com mão-de-obra, em média 41,5% do custo operacional. Os
painéis ocorreram em Minas Gerais, Santa Catarina e Paraná.
·
Aquicultura
(piscicultura) – Os dados de piscicultura evidenciaram que no cultivo de
tilápia, no Paraná, o custo com ração é o principal item que pesa no bolso do
produtor, em média R$ 4,30 por quilo de peixe produzido.
*Com informações do Canal Rural https://www.canalrural.com.br/noticias/precos-dos-insumos-subiram-em-2021/
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