Sacos de dormir em cores camufladas, prateleiras cheias de latas de comida, berços e máscaras de gás. Pouco antes do início da guerra, a BioTexCom, maior agência de barriga de aluguel da Ucrânia, divulgou um vídeo. Era um tour por um abrigo antiaéreo, com direito a sons de sirenes ao fundo. Ali, as mães de aluguel ucranianas encontrariam refúgio, mesmo em caso de guerra. A mensagem era de que, para as mulheres grávidas e os bebês, não faltaria nada, nem mesmo em meio a um conflito. https://www.msn.com/pt-br/estilo-de-vida/familia/o-drama-das-m%c3%a3es-de-aluguel-na-ucr%c3%a2nia-em-guerra/ar-AAVF4KJ
No entanto, Marina (nome fictício) pinta uma imagem diferente. No início de março, ela deu à luz um bebê no abrigo antiaéreo da empresa. Estava frio e escuro. Faltou comida, água e remédios. Ela não teve notícias da agência por três dias e, quando os funcionários da empresa finalmente apareceram, simplesmente pegaram os bebês – não trouxeram comida nem água com eles.
Tudo incluído e descontos
A guerra expôs uma face ainda pior de um negócio que já tinha uma má imagem mesmo em tempos de paz. Estima-se que 2 mil crianças nasçam de pais estrangeiros na Ucrânia por ano. A barriga de aluguel comercial é legalizada no país, e é atraente: a transferência da paternidade para os casais é relativamente descomplicada. Agências fazem a mediação entre os pais estrangeiros e as mães de aluguel. Os pacotes com tudo incluído custam entre 30 mil e 40 mil euros. Às vezes, mais barato: na Black Friday de 2021, por exemplo, a BioTexCom anunciou um desconto de 3%.
Joga-se com os sonhos de ambos os lados. De um lado estão os pais estrangeiros, com histórias de anos de odisseias por médicos, especialistas em reprodução e agências de adoção. De outro, as mulheres ucranianas que, por serem barrigas de aluguel, recebem, geralmente, de 15 mil a 20 mil euros, várias vezes o salário médio anual ucraniano. Em troca do montante, elas alugam seus úteros por um período limitado.
Velhos contratos, nova realidade
Mas agora a Ucrânia está em guerra. Isso coloca todas as partes envolvidas em situações não previstas nos contratos. E levanta questões: pela vida de quem a mulher está fugindo? Pela dela ou pela do bebê estrangeiro crescendo em sua barriga? E se ela não quiser fugir porque sua família ainda está no país? E se fugiu em 2014 e perdeu tudo naquela época? E se agora quer defender seu país e ir para a guerra?
A BioTexCom fez com que as mulheres refugiadas assegurassem que estariam de volta ao país na data prevista para o parto. Como as mães de aluguel são pagas em parcelas, a empresa tem um poderoso trunfo nas mãos. Enquanto isso, ela está construindo um bunker no centro da Ucrânia.
*Com informações: DW Brasil.
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